Humap-UFMS mostra como o cuidado especializado assegura acolhimento e continuidade.

ESQUIZOFRENIA: Humap-UFMS mostra como o cuidado especializado assegura acolhimento e continuidade
/ Foto: GOV.BR

Pela primeira vez, o Brasil celebra oficialmente o Dia Nacional da Conscientização sobre a Esquizofrenia, em 24 de maio, com a data já reconhecida em lei. A iniciativa reforça a necessidade de visibilidade, informação e acolhimento para pessoas diagnosticadas com esse transtorno mental, que afeta cerca de 1% da população do país. A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) traz reflexões de especialistas para mostrar como a atenção, o acesso ao tratamento e o combate ao estigma vêm sendo colocados em prática via Sistema Único de Saúde (SUS).

A esquizofrenia é um transtorno complexo, muitas vezes marcado por alucinações, delírios e mudanças bruscas no comportamento e nas relações sociais. Embora a causa exata ainda não seja completamente compreendida, pesquisas indicam que ela resulta de uma combinação de fatores genéticos, alterações neuroquímicas e eventos ambientais, como traumas ou infecções na infância. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses elementos interagem de forma complexa, afetando o funcionamento cerebral e contribuindo para o surgimento do transtorno.

Quando o diagnóstico encontra apoio e escuta

Para o psiquiatra Kleber Meneghel, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), o estigma ainda é um obstáculo importante. “As pessoas ainda têm muito preconceito com os pacientes, de maneira geral, como se fossem pessoas totalmente incapazes ou perigosas. O que a literatura científica mostra é que quando esses pacientes são regularmente tratados, do ponto de vista médico, psicológico, eles não oferecem riscos de violência a ninguém, é o mesmo risco da população geral”, afirma.

Essa percepção equivocada esteve presente na trajetória de Paulo (nome fictício), paciente do Ambulatório Especializado em Quadros Psicóticos do Humap-UFMS. “Foi em 2019. Os sinais foram que eu ouvia muitas vozes. Do lado direito vozes agudas boas, do lado esquerdo vozes graves ruins. Além disso, eu queria me formatar (matar) para ir para outro planeta, onde não há maldade, briga, doença etc. Eu também via vultos e me sentia perseguido o tempo todo”, relata.

O diagnóstico trouxe não apenas o início do tratamento, mas também a necessidade de lidar com incompreensão dentro da própria casa. “Minha irmã, por não entender a doença, fala que estou com espírito do mal. E que as vozes são do demônio. Até hoje ela não aceita o meu diagnóstico”.

Com o tempo e o ajuste da medicação, a vida de Paulo começou a ganhar novos contornos. “Hoje estou bem, graças a Deus. A doutora, depois de um tempo, acertou a minha medicação. Mudou muita coisa. Hoje meus familiares, exceto minha irmã, já sabem que tenho esquizofrenia paranoide. Eles estudaram sobre a doença para lidar comigo. O apoio da minha família é fundamental. Neles, encontro força para seguir em frente”.

Avanços terapêuticos e a importância de uma rede contínua de cuidado

 “Com o avanço da farmacologia, nós possuímos hoje uma quantidade maior de antipsicóticos, que é uma das medicações que mais utilizamos nos quadros de esquizofrenia, e principalmente os antipsicóticos mais modernos, que possuem menos efeitos colaterais”, ressalta Kleber. Ele também aponta a relevância de abordagens complementares, como a cognitiva-comportamental, que também ajuda a melhorar o tratamento dos pacientes.

Apesar dos avanços, o psiquiatra observa que, em alguns casos, pode haver dificuldades de acesso inicial ou de continuidade no tratamento, o que reforça a importância de uma rede de atenção bem estruturada e da atuação multiprofissional. O suporte familiar, segundo ele, é outro ponto essencial. “Os pais e familiares de pacientes com esquizofrenia precisam desse apoio. Existe o próprio aumento do risco de adoecimento desses familiares pela ansiedade, pelo estresse, que muitas vezes eles acabam sendo impactados”.

Como funciona o atendimentos no Humap-UFMS

No Humap-UFMS, o atendimento a pessoas com esquizofrenia ocorre em um ambulatório específico para quadros psicóticos. “Ele vai ser acompanhado por um profissional junto dos residentes, e nós temos aqui alguns profissionais da Psicologia que também ajudam a manter o tratamento sempre em nível ambulatorial. E, quando há necessidade, a gente pode encaminhar para o CAPS ou, em algumas situações de emergência, há possibilidade, via central de regulação, de encaminhar o paciente para uma internação”, explica Kleber.