As limitações de Gustavo com a paralisia estão na fala e na locomoção, mas a compreensão é perfeita até para entender a tristeza

Em sessão encantadora, Gustavo vira o "Pequeno Príncipe" ao lado do irmão
O Pequeno Príncipe e a Rosa. / Foto: Rose Borges e Alessandro Riquelme

Desde pequeno, Gustavo é o “Pequeno Príncipe” da mãe, Leila Borges, e do seu irmão caçula, Yan, a “Raposa”. Prestes a fazer 11 anos, o dobro da expectativa de vida dada a ele pelos médicos ao nascer, o menino protagonizou um dos ensaios mais belos que a internet já pôde ver. Ao lado do irmão, eles repetiram a essência da obra de Saint-Exupéry, no sorriso e no olhar, com direito até a “avião”. 

Gustavo tem paralisia cerebral, segundo a família, em consequência de falta de oxigênio ao nascer. As limitações estão na fala e na locomoção, mas a compreensão é perfeita até para entender a tristeza. “A gente chegou a ganhar book fotográfico de duas empresas, elas prometiam e, quando chegava a data, enrolavam... Davam uma desculpa e não faziam nem remarcavam”, explica a dona de casa Leila, 30 anos. 

O último foi no fim do ano passado, Leila já tinha falado para os meninos que eles iriam passar uma tarde fotografando, quando a empresa deu para trás. O mais novo chegou a perguntar, Gustavo só expressou com os olhinhos a frustração, depois de ter criado expectativas em vão. “Ele ficou triste e sempre que eu via um book de algum coleguinha e mostrava ele ficava olhando... Se fosse pagar, eu jamais conseguiria”, descreve a mãe.

Depois de desabafar que o filho era capaz de se iludir acreditando nas promessas, a prima de Leila, editora de imagens que também fotografa, Rose Borges, e o marido, Alessandro Riquelme, decidiram que levariam o Pequeno Príncipe, a Raposa, a Rosa e o Aviador para o Parque das Nações Indígenas e fariam as fotos. “Eu fui estudar, porque não sabia como fazer. Olhei na internet e só via ensaios que as pessoas fazem imitando movimento, como se estivesse num skate, sabe? Mas eu queria uma coisa da realidade dele”, conta Rose. 

Rose juntou a história que sempre acompanhou a família da prima com um presente que ela havia ganhado de aniversário e que seria peça fundamental no ensaio: a rosa na cúpula. 

Foram três meses de planejamento, que incluíram as fantasias feitas pela mãe de Rose, dona Rosa, e a confecção do avião de papelão, feito pela fotógrafa. O ensaio foi no domingo e o resultado está nas imagens, que falam por si só. “Ele adorou o ensaio, fica puxando a minha mãe para ver as fotos de novo”, relata Leila. 

O gesto da prima foi significativo, diante da falta de empatia enfrentada por Gustavo, e também revela o outro lado de quem se dispõe a se colocar no lugar do outro.“A gente ficou muito chateado pela situação, acho um absurdo fazerem isso com uma criança”, comenta Rose. 

A editora de imagens passa por um momento delicado e não muito falado – de crises de ansiedade. “Quando eu tenho, eu fico bem tensa e uma das coisas que eu procuro fazer é fotografar. A foto é a minha válvula de escape e uma das coisas que me ajudam muito neste momento, e te digo que me ajudou bastante, acho que mais a mim do que a eles”.