A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras favoreceram Lula.

Eduardo Bolsonaro defende adiar 2º turno para obter inserções de rádio
Desde quarta-feira Eduardo Bolsonaro prega adiamento do 2º turno. / Foto: Getty Images

A apenas três dias do segundo turno, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL), defendeu nesta quinta-feira, dia 27, a ideia de adiar as eleições porque, segundo afirmou, isso permitiria ao pai uma "reparação" por conta das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios. A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte e do Nordeste teriam veiculado mais peças de publicidade do petista Luiz Inácio Lula da Silva do que do presidente.

A denúncia de desequilíbrio na exibição de inserções de 30 segundos ao longo da programação das rádios foi arquivada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Jair Bolsonaro disse que vai recorrer da decisão da Corte eleitoral.

"Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação", afirmou Eduardo, durante entrevista ao site baiano BNews.

A tese do adiamento, que levanta a acusação de violação das regras eleitorais por parte dos adversários, divide aliados de Bolsonaro. O presidente recebeu indicações de que não teria apoio no Centrão. A três dias do segundo turno, a mudança das eleições exigiria uma emenda constitucional, a ser proposta e aprovada no Congresso. As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas na Constituição, no artigo 77.

"A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente", diz o texto.

Integrantes do governo e da campanha bolsonarista denunciaram uma suposta fraude na veiculação da propaganda de Bolsonaro. Em entrevista, o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, e o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disseram que rádios de todo o país teriam deixado de transmitir 154 mil inserções de rádio, que são propagandas de 30 segundos inseridas de forma aleatória na programação das emissoras.

A coligação do presidente recorreu ao TSE. Por exigência do tribunal, os advogados do PL apresentaram relatório de monitoramento com uma amostra que apontava apenas omissão de 730 inserções em oito rádios do Nordeste. Esse levantamento sobre a publicidade das campanhas usou como metodologia verificar a veiculação das inserções por meio na transmissão via streaming (na internet) das emissoras. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, as rádios não são obrigadas a veicular a propaganda eleitoral na sua versão na internet. A regra de divulgação da campanha vale para a transmissão por ondas de rádio.

O presidente do TSE mandou arquivar a denúncia. Moraes considerou inconsistente o relatório apresentado pelo PL com as supostas provas de irregularidades e apontou "inépcia" na auditoria da empresa Audiency, contratada pela sigla. Ele determinou que seja investigado possível crime na tentativa de tumultuar as eleições.

Na quarta-feira, dia 26, Eduardo Bolsonaro já pregava o adiamento do segundo turno com consequência direta da necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Outros aliados do presidente discordavam. O Estadão apurou que a tese encontra eco em parte dos colaboradores mais radicalizados do presidente, que desejam um "terceiro turno antes do segundo", nas palavras de integrantes do Centrão.

O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), um dos coordenadores da campanha e líderes do partido Progressistas, afirmou na quarta-feira, dia 26, que não via motivo para postergar o segundo turno. "Não existe previsão legal para adiar uma eleição", disse ao site Poder 360. Na mesma noite, Bolsonaro convocou de última hora uma reunião ministerial com a presença dos comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e do ministro da Defesa. Nenhum deles, porém, apareceu para o pronunciamento, no qual Bolsonaro disse que iria "às últimas consequências". O presidente se vitimizou e reclamou que havia interferência no resultado e "enorme desequilíbrio" na disputa com Lula.