Embora seja uma idéia mais antiga, ainda é possível ouvir nos dias de hoje pessoas associando o mau hálito a problemas no estômago. Essa teoria não é impossível, mas atualmente já é sabido que 95% dos casos de halitose têm sua origem na boca. Mas como é possível ter certeza que aquele cheirinho ruim quando falamos não está sendo causado por problemas estomacais?

Antes de responder à essa pergunta, Ana Kolbe, dentista especializada no diagnóstico e tratamento da halitose, revelou que muitos pacientes acreditam que o mau hálito vem do estômago porque ele costuma aliviar ou até sumir depois que eles se alimentam. Mas ela garante: é muito raro uma halitose vir do estomago.

“Ele alivia depois que comemos por dois motivos; primeiro porque ao ingerir alimentos equilibramos a glicemia e eliminamos o hálito cetônico que ocorre sempre que ficamos muitas horas em jejum. E segundo porque ao nos alimentamos o Sistema Nervoso Central envia uma mensagem para que as glândulas salivares aumentem a produção de saliva (detergente natural da boca), fazendo com que a saburra lingual já existente (e que está produzindo e eliminando o enxofre) seja fluidificada durante a mastigação”, diz a especialista.

Outros motivos

“Se o mau hálito viesse do estômago, quando ingeríssemos leite teríamos odor de leite azedo no hálito, quando ingeríssemos peixe teríamos cheiro de peixe podre e assim sucessivamente. Temos três válvulas na região do esfíncter gástrico que impedem o retorno dos alimentos e dos gases do estomago de subirem para a boca”, explica a especialista.

Provando que o é mesmo muito difícil que o mau hálito venha do estômago, Ana ainda cita mais dois movimentos do nosso organismo que ajudam a impedir que os gases estomacais saiam pela boca.

“Os movimentos peristálticos, que são como ondas que vão sempre no sentido boca/intestino reto, e a diferença de pressão entre nosso tórax e o abdômen (onde a pressão do tórax é sempre maior, empurrando com mais força os gases para baixo) também são fatores que contribuem para a comprovação dessa teoria”, diz a especialista.

Quando a halitose vem do estômago

Quando o paciente tem um câncer estomacal, hérnia de hiato ou refluxos gástricos aí sim a halitose pode estar vindo do estômago. “Um arroto (que é uma eructação gástrica) também pode causar um mau hálito momentâneo”, diz Ana.

E identificar a halitose que vem do estômago é bastante fácil, segundo Ana, pois ela terá o cheiro do que está sendo fermentado naquele momento. “Pode ser o cheiro do que o paciente ingeriu ou de seus derivados”, diz a especialista.

Estresse, uma das principais causas do mau hálito

No entanto, mais de 95% das causas do mau hálito são de origem bucal ou das vias aéreas superiores como é o caso da saburra lingual (camada esbranquiçada que se forma no fundo da língua com restos de alimentos e bactérias), xerostomia (alteração do fluxo salivar), má higiene oral e obstruções nasais (que transformam o paciente em um respirador bucal, o que incentiva o ressecamento da mucosa e sua descamação).

Porém, segundo Ana, hoje em dia existe outro motivo que tem causado muito mau hálito por aí; o estresse. “Posso dizer que hoje o estresse esta para a halitose assim como a febre esta para a infecção”, diz a especialista.

Causa multifatorial

Uma boa higiene oral e visitas periódicas ao dentista ainda são imprescindíveis não somente para evitar a halitose como para evitar vários outros problemas bucais como cáries e doenças periodontais.

No entanto, é importante ressaltar que a halitose tem mais de 60 origens diferentes e é sempre multifatorial, ou seja, nunca a causa é uma só. “Portanto, sua cura depende de um diagnóstico adequado para que o profissional possa prescrever um tratamento eficaz”, diz a especialista.