Dormir dá fome, comer dá sono; veja como fugir desse ciclo vicioso
/ Foto: Marcelo Theobald

Acordar morrendo de fome, ter muito sono logo após o almoço. Intuitivamente todos sabem que existe uma relação de causa e efeito entre a alimentação e a qualidade do sono, e a influência tem mão dupla.

Um estudo americano revelou que noites mal dormidas estão diretamente ligadas à compulsão por comidas ricas em açúcares e gorduras. A pesquisa comandada pelo professor de psicologia e neurociência da Universidade de Berkeley, Matthew Walker, observou imagens do cérebro de 23 pessoas - descansadas ou não - enquanto consumiam diferentes tipos de alimentos. O estudo explica que o corpo humano tem cerca de 16 horas de funcionamento ideal até que o cérebro precise ficar offline e dormir: depois disso, o organismo entra em uma espécie de reação ao estresse em que naturalmente passa a desejar alimentos ultracalóricos.

— O excesso de sono, com muitas horas em jejum, aumenta os níveis de hormônios que dão a sensação de fome. No entanto, o inverso também acontece: dormir menos de seis horas por dia aumenta os níveis de estresse e ansiedade, fazendo com que a pessoa tenha impulso de comer alimentos gordurosos, com alto índice de glicose para compensar a falta de descanso do sistema nervoso central — explica o endocrinologista Dr Pedro Assed, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares da PUC-Rio.

O soninho que dá depois do almoço acontece porque depois das grandes refeições o organismo privilegia a ação do sistema digestivo, desviando o sangue corporal para esse órgãos e diminuindo a circulação de sangue no sistema nervoso central, levando a sonolência. Além disso, o aumento da insulina circulante no sangue e reduz a velocidade do metabolismo. Muitos médicos defendem um cochilo de 30 a 40 minutos após o almoço, já que esse descanso seria favorável para melhora da concentração, do humor e da memória.

— A única objeção é com o indivíduo tiver problemas digestivos como refluxo, azia, hérnia de hiato e gastrite, o ideal é evitar ficar deitado após se alimentar — diz Dr. Pedro Assed.

Comer carboidrato à noite engorda?

Alessandra Almeida, nutricionista funcional da Clinica Andrea Santa Rosa

— Dizer isso é apenas reforçar um mito. Não há necessidade de excluir o carboidrato da dieta em nenhum momento do dia, mas é importante saber que, de uma forma geral, ao final do dia o gasto metabólico é menor e por isso não é preciso ingerir alimentos muito energéticos — esclarece a nutricionista funcional Alessandra Almeida.

A especialista recomenda que se evite os carboidratos refinados como pães, farinhas e massas brancas, não somente à noite mas em todos os momentos do dia. Estes alimentos elevam o índice glicêmico da refeição, responsável por aumentar os níveis de insulina no sangue. Este processo provoca o acúmulo de gordura abdominal, que é um dos fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A recomendação é que a quantidade de carboidratos corresponda a cerca de 25 a 40% da refeição.

 

Como evitar o ciclo vicioso?

 

Segundo o endocrinologista Pedro Assed, o excesso ou falta de sono interferem diretamente no ritmo de vida e na produção de hormônios, levando a alterações na saciedade e no apetite, prejudicando o controle de peso. As interferências no comportamento alimentar criam hábitos beliscadores, vontade de comer muito à noite e compulsão alimentar. Para evitá-las, é importante dormir no mínimo 6 a 8 horas por dia, com um descanso de qualidade, reparador e profundo.