Ex tentou voltar com Luana no dia do feminicídio em Campo Grande: 'Não vai embora, não'.

Dívidas com agiotas para criar 5 filhos levaram Luana para programa que a matou, relata ex
Luana deixa cinco filhos em Campo Grande. / Foto: Reprodução.

Luana Cristina Ferreira Alves, de 32 anos, ensaiava uma reconciliação com o ex-marido horas antes de ser assassinada no pátio de uma empresa no Jardim Colúmbia, em Campo Grande, no último dia 28. O homem, que prefere não se identificar, esteve no velório dela na manhã desta quinta-feira (30).

“Fomos casados por quase três anos e nos separamos há 30 dias, porque eu descobri que ela estava fazendo programa, e eu não queria”, relatou. O homem é pai de duas meninas e Luana era mãe de cinco crianças.

O ex relata que Luana começou a fazer programas após ser ameaçada por agiotas. “Ela tinha cinco filhos e era muito difícil de manter as crianças. Sem ajuda do pai deles, ela começou a pegar dinheiro emprestado para manter. Mas virou uma bola de neve. Ela devia R$ 25 mil só para um. Eles ameaçavam ela todo dia. Para um deles, tinha que passar R$ 250 por dia”, conta o ex.

Ele conta que tentava fazer Luana voltar para casa naquele dia e que ela esteve no local momentos antes da morte. “Pedi para ela ficar. Minha filha disse: ‘Não vai embora, não, tia. Fica com a gente’. Mas ela foi”, diz.

Luana teria dito para ele que buscaria umas roupas na casa do irmão. Na verdade, ela seguiu em um carro de aplicativo para um encontro de programa sexual com Gilson Castelan de Souza.

“Ela ainda conseguiu pedir ajuda E se não conseguisse? Esse cara teria enterrado ela em qualquer lugar. A gente podia nunca mais achar ela”, lamenta o ex.

Feminicídio
Gilson teria contratado um programa com Luana e a polícia ainda apura por qual motivo ele teria desferido 11 facadas nela. Antes de morrer, Luana implorou pela vida aos vizinhos do prédio. Ela morreu no pátio de uma empresa de máquinas, no Jardim Colúmbia, em Campo Grande. O autor foi preso logo após o crime, quando tentava fugir a pé pela Avenida Cônsul Assaf Trad. Ele era procurado há 3 anos por outro feminicídio, cometido em Mato Grosso.

Na manhã de quarta (29), o Jornal Midiamax ouviu relatos de vizinhos que viram Luana fugindo e implorando por socorro após as facadas. Moradores contaram que a vítima correu ensanguentada até a varanda de uma casa, pedindo ajuda, momento em que o morador chamou pela filha.

“Ela sentou na cadeira toda ensanguentada… Tinha sangue no rosto, na blusa preta e na calça marrom. Meu pai que viu e me chamou”, contou a mulher. Então, a moradora foi até Luana, ouviu suas últimas palavras e acionou o socorro. “Ela me disse que veio fazer um programa com o rapaz. A última coisa que ela disse foi: ‘Por favor, não me deixe morrer!’”, relatou a moradora.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) esteve no local e realizou manobras de reanimação, mas Luana não resistiu e morreu. Foi constatado que ela apresentava 11 ferimentos provocados por faca na região das costas, do pescoço e do crânio.

Ainda no local, foi relatado à reportagem que a empresa onde ocorreu o feminicídio estaria funcionando há dois meses e que o autor estaria residindo por ali no mesmo período. “A empresa funciona aí há uns dois meses só. Desde que abriu, o rapaz mora aí mesmo”, revelou um vizinho.

Feminicida confessou
Dois feminicídios, três anos depois e o mesmo modus operandi: Gilson Castelan de Souza, de 48 anos, estava foragido desde 2022, quando matou a podóloga Silbene Guia Dolores da Silva, em Mato Grosso. Ele foi preso nesta terça-feira (28), após matar Luana Cristina Ferreira Alves com 11 facadas, em Campo Grande.

No dia 18 de junho de 2022, Silbene, de 40 anos, foi encontrada morta com facadas na cabeça e no pescoço. O crime aconteceu na região do Engordador, em Várzea Grande (MT), e os vizinhos ouviram gritos da podóloga por volta das 22 horas da noite anterior.

Entretanto, os vizinhos relataram que nada fizeram, pois as brigas entre Silbene e Gilson eram frequentes, segundo publicado pelo site local Gazeta Digital. Um familiar do feminicida tentou contato com ele desde o dia anterior ao crime, mas não obteve retorno.

Já na manhã do dia 18, Gilson teria ligado para o familiar por volta das 9h e confessado o crime. “Matei minha mulher com uma faca”, ele teria dito.

Diante da confissão, o familiar foi até a residência onde Gilson morava e se deparou com as portas fechadas. Ao olhar pela janela, ele viu o corpo de Silbene caído todo ensanguentado e acionou a polícia.

Depois, equipes da PM (Polícia Militar), Polícia Civil e Perícia foram até o local e constataram várias perfurações de faca pelo corpo da vítima. Gilson fugiu após o crime. Ele estava com um mandado de prisão em aberto pelo feminicídio.

Lista de feminicídios em MS em 2025:
Karina Corim (Caarapó) – 4 de fevereiro;
Vanessa Ricarte (Campo Grande) – 12 de fevereiro;
Juliana Domingues (Dourados) – 18 de fevereiro;
Mirielle dos Santos (Água Clara) – 22 de fevereiro;
Emiliana Mendes (Juti) – 24 de fevereiro;
Gisele Cristina Oliskowiski (Campo Grande) – 1º de março;
Alessandra da Silva Arruda (Nioaque) – 29 de março;
Ivone Barbosa (Sidrolândia) – 17 abril;
Thácia Paula (Cassilândia) – 11 de maio;
Simone da Silva (Itaquiraí) – 14 de maio;
Olizandra Vera Cano (Coronel Sapucaí) – 23 de maio;
Graciane de Sousa Silva (Angélica) – 25 de maio;
Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande) – 28 de maio;
Sophie Eugenia Borges, filha de Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande) – 28 de maio;
Eliana Guanes (Corumbá) – 6 de junho;
Doralice da Silva (Maracaju) – 20 de junho;
Rose (Costa Rica) – 27 de junho;
Michely Rios Midon Orue (Glória de Dourados) – 3 de julho;
Juliete Vieira – (Naviraí) – 25 de julho;
Cinira de Brito (Ribas do Rio Pardo) – 31 de julho;
Salvadora Pereira (Corumbá) – 2 de agosto;
Letícia Ananias de Jesus (Cassilândia) – 8 de agosto;
Dahiana Ferreira Bobadilla (Assassinada no Paraguai, mas encontrada em Bela Vista) — 8 de agosto;
Érica Regina Mota (Bataguassu) – 27 de agosto;
Dayane Garcia (Nova Alvorada do Sul) – 3 de setembro;
Iracema Rosa da Silva (Dois Irmãos do Buriti) – 8 de setembro;
Ana Taniely Gonzaga de Lima – 13 de setembro;
Gisele da Silva Cylis Saochine (Campo Grande) – 2 de outubro;
Erivelte Barbosa Lima de Souza (Paranaíba) – 10 de outubro;
Andrea Ferreira (Bandeirantes) – 12 de outubro;
Solene Aparecida Corrêa (Três Lagoas) – 21 de outubro;
Luana Cristina Ferreira Alves (Campo Grande) – 28 de outubro.
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Vítimas de violência também podem recorrer à Casa da Mulher Brasileira, localizada na Rua Brasília, Jardim Imá, em Campo Grande (MS) – Telefone: (67) 2020-1300. Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Em casos de emergência, deve ser acionada a Polícia Militar, por meio do 190.