Depois de ter 200 famílias, Portelinha hoje é favela de um homem só

A Portelinha - que chegou a ter 200 famílias às margens do córrego Segredo, no prolongamento da avenida prefeito Heráclito Diniz de Figueiredo - hoje é favela de um homem só.

Aos 70 anos, João de Castro Sobrinho permanece com as bagagens da vida, dois animais de estimação “emprestados” e ordens constantes do poder público de que ali não é o seu lugar. A última determinação para deixar o barraco, onde mora desde junho de 2011, veio na manhã de sexta-feira (dia 11).

A prefeitura deu prazo de cinco dias para saída porque. Mas o documento que nunca chega é o que explica para onde ele vai. “Me perguntam se não tenho parentes. Mas ficar em casa de parente não dá certo. Hoje em dia, nem filho cuida do pai”, diz.

No barraco, as inscrições 3G e PAC 2 revelam o ingresso do “imóvel” no cadastro da Emha (Empresa Municipal de Habitação), que resultou na remoção de todos os vizinhos. Sobre o fato de ter ficado, ele explica que a inscrição era em nome da esposa, que faleceu em 2013. Como a união não tinha registro, ele não conseguiu provar que eram casados. “Foi todo mundo. Ficou [sic] só eu e o mudo, que já morreu”, conta.

João diz que foi informado que nos registros da prefeitura, consta que ele tem duas casas. “Se tivesse mesmo, seria muito burro em morar na lama”, afirma. Segundo ele, os imóveis são do passado, quanto era construtor e tinha quatro casas. Três foram para os filhos e a quarta foi vendida para aquisição de chácara em Aquidauana. Ele relata que foi vítima de estelionatários e obrigado a morar na favela.

No barraco, que alaga com a enxurrada, mas fica à distância prudencial das águas do córrego Segredo, vive em companhia de animais domésticos da vizinhança. O gato era de uma moradora que se mudou, mas o animal preferiu ficar. A cachorra morava num imóvel perto, mas agora faz parada por lá.

Localizada no bairro Morada Verde, a Portelinha foi posta ao chão em novembro de 2014. As famílias foram transferidas para os residenciais Ary Abussafi e Gregório Correa. Menos de um ano depois, em outubro de 2015, favela começou a renascer com gente que fugia do aluguel.

Contudo, as pessoas se foram e restaram escombros de barracos. A natureza refez a vegetação às margens da rua de terra. Enquanto o descarte irregular faz nascer um cemitério de sofás e lixão.