Memórias dos anos dourados ainda são vívidas para as 7 amigas que depois de muitos anos afastadas e com vidas completamente opostas o afeto ainda é o mesmo

Depois de 43 anos, 7 amigas cumprem promessa tardia de nunca se afastarem
Memórias da adolescência nos anos dourados continuam vivas depois de 44 anos de distância entre amigas / Foto: Kimberly Teodoro

A formatura do Ensino Médio no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora foi em 1975. Para as 7 amigas, que seguiram rumos diferentes na vida, as memórias da adolescência nos anos dourados nem o tempo e nem a distância apagaram. O reencontro aconteceu depois de 43 anos e foi marcado por gargalhadas, surpresas, histórias e segredos compartilhados.

Com a correria do dia-a-dia e responsabilidades da vida a adulta, a tal promessa da juventude de não se afastarem depois que as aulas terminaram acabou ficando para depois, mas não significou o fim da amizade. Acompanhando a vida uma das outras de longe, as ex-colegas de magistrado contam que com a internet ficou tudo mais fácil, aproximando o grupo e tornando possível o encontro.

A ideia surgiu quando Ana Emília Sotero, que mora em Cuiabá resolveu contatar Auxiliadora Vobeto, pedindo ajuda para promover uma reunião entre o antigo grupo, daí em diante foram 15 dias de planejamento até conseguir confirmar a presença de cada uma, inclusive a de Lenira Lucas da Costa Azambuja, que vive no Amapá há mais de 20 anos e por coincidência também está na cidade para as festas de fim de ano.

Nostálgica, Shirley Ouro Preto levou um envelope com cópias de fotos antigas para cada uma das amigas. Momentos congelados no tempo preservando um pouco da personalidade e diferença de cada uma, características que algumas delas trazem até hoje e outras que surpreenderam pelas transformações que vieram com a idade, “vivência e maturidade”.

Auxiliadora por exemplo, segundo as amigas sempre foi vaidosa, de lá para cá o cuidado com a aparência continua o mesmo e salto alto, unhas sempre feitas e cabelo impecável e maquiagem caprichada ainda chamam a atenção.

Já Lenira foi uma surpresa, lembrada como tímida, esse traço da personalidade ficou para trás, dando lugar a uma mulher confiante, ousada e cheia de elegância, desde o corte de cabelo moderno até a escolha do look, uma mudança tão evidente que a entrada na sala foi quase uma nova apresentação às amigas.

Uma inversão de papéis com Cleyde Regina Barbosa, que costumava ser tagarela, “arteira” e dona das histórias mais engraçadas da turma, como o “namoradinho” da adolescência que ia do Colégio Dom Bosco até o Nossa Senhora Auxiliadora só para vê-la pela janela, ou o dia em que foi à escola com uma calça tão apertada que acabou rasgando, logo na sala de aula de uma das freiras mais rígidas do colégio, história que Lenira e Ana Amélia não esquecem. Hoje, mais centrada e tranquila, uma modificação que veio com os muitos anos de vida na fazenda depois do casamento, ela fala bem menos, mas só quando tem absoluta certeza de cada palavra.

Izildinha Mendes Fanaia, é a “Izildinha dos bons carnavais”, de quem as amigas lembram pelos bailes de carnaval do Clube Libanês, na esquina da casa dela e para onde elas iam se arrumar antes da festa em que iam acompanhadas pelo pai de Izildinha. “Até hoje eu me lembro de estar no quarto da Izildinha conversando e nos maquiando na penteadeira, o pai dela batia na porta com um copo de martini, mais ou menos na metade e feito com pouco álcool. Ele dizia que era só para chegarmos animadas na festa, eram dois goles para mim, dois para ela e acabou. Acho que também era para a curiosidade não nos levar a beber fora de casa e funcionava, porque no baile só tomávamos água”, conta Auxiliadora.

Ana Amélia de Medeiros costumava ser a mais comportada da turma, hoje relembra das coisas que não fez quando mais nova por medo das consequências e dos arrependimentos que ainda a acompanham, animada, ela conta com orgulho ter vencido o festival de música do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, muito popular na época.

Shirley, assim como Auxiliadora, manteve muito da personalidade. Séria desde aquela época, ela já cultivava a vocação para manter a lei e a ordem, sendo a responsável por manter o grupo nos trilhos com o bom senso que poucos adolescentes têm. Com orgulho, as amigas comentam que os traços e o desejo de trabalhar na polícia vem desde o ensino médio, sonho que Shirley realizou depois de adulta.

A outra Ana não está na foto, mas é a alma da festa e idealizadora do encontro, conhecida por ser uma “mulher a frente do seu tempo”, as histórias de Ana Emília tinha de aventureira o que Shirley tinha de séria, fazendo um contraponto no equilíbrio do grupo. Negra e empoderada, os boatos são sobre os corações partidos deixados em seu caminho, o que só acabou depois de conhecer o amor de uma vida inteira com quem é casada há 36 anos, outra reviravolta inesperada pelas amigas, mas pela qual elas ficam felizes.

Sentadas em semicírculo na sala, as risadas contidas por tantos anos vem à tona acompanhadas das memórias carregadas de nostalgia enquanto atualizam uma às outras sobre as novidades. Para elas, a importância de retomar a amizade está no vínculo criado no passado, revivido depois de tanto tempo, um laço que segunda elas se perdeu nas gerações que vieram depois.

“Nos conhecemos na escola, mas levamos essa convivência para dentro de casa. Conhecíamos as famílias umas das outras e nossos pais também estavam presentes, conversavam entre eles. Fomos criadas em tempo em que éramos acompanhados de perto pelos nossos pais, em que o respeito e a obediência eram muito fortes e era seguro sair nas ruas, íamos de casa para a escola e para a casa uma das outras com a certeza de que nada ia acontecer no caminho”, diz Shirley.

O reencontro foi quase como estar de volta aos anos dourados que passaram juntas, Shirley resume a sensação de quase todas ao dizer que, olhando para trás, viveu tudo o que tinha para viver e apesar de ainda ter muitos anos pela frente acrescenta que ao deixar esse mundo, não vai levar nenhum arrependimento.