Ao todo foram registrados 15.280 crimes em ambiente doméstico, sendo que 13.896 eram ameaças.

Denúncias por ameaça representam 90% das ocorrências
Órgãos que compõe a Casa da Mulher Brasileira na Capital realizaram coletiva nesta segunda-feira. / Foto: Bruno Henrique/Correio do Estado

Até o fim de outubro deste ano 13.896 mulheres procuraram a polícia em Mato Grosso do Sul para registrar boletim de ocorrência por ameaça do marido ou companheiro. Isso representa mais de 90% dos boletins de ocorrência feitos no Estado por crimes no ambiente doméstico, que ao todo foram 15.280.

Para a delegada Fernanda Félix, titular da Delegacia da Mulher de Campo Grande, localizada na Casa da Mulher Brasileira, isso mostra que as mulheres têm procurado a polícia já na primeira demonstração de violência.

“Nós entendemos que o agressor ele não é de uma vez só, ele vai ter essa atitude outras vezes. Por isso é importante que ao primeiro sinal a mulher denuncie e esse aumento mostra que as mulheres estão mais seguras de si, mais confiantes, tanto que houve esse aumento na procura”, afirma a delegada.

Apesar de a grande procura para o registro da ocorrência já no primeiro momento, esse ano já foram registrados 23 feminicídios no Estado, sendo que ainda há um caso registrado como homicídio que deve ter a tipificação alterada. Segundo a delegada, esses números refletem o ciclo da violência.

“Primeiro vem a lua-de-mel, o marido perfeito, depois ele começa a controlar a roupa que ela usa, aí vem os xingamentos, as ofensas, a tensão, até que há a explosão, que é a agressão física. Depois disso o homem perde perdão, promete que não vai mais acontecer, mas nós sabemos que não é assim. Até que chega o momento que a mulher não aguenta mais e pede o divórcio, esse homem não aceita e em alguns casos ela nos procura para que haja intervenção do Estado”, relatou Félix.

Em coletiva realizada nesta segunda-feira (18), para dar início a campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, a promotora Luciana do Amaral Rabelo, que atua na 72ª Promotoria de Justiça da Capital afirmou que dos 17 feminicídios registrados em 2015, 16 já foram julgados e todos os agressores condenados.

Para a juíza da 3ª Vara de Violência Doméstica e Coordenadora da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar de Mato Grosso do Sul, Jacqueline Machado, a resolução de casos de violência contra a mulher só são possíveis quando há uma “rede de atendimento forte”.

“Para ela denunciar e conseguir manter essa denúncia, se sentir protegida ela tem que ter uma rede forte. Por isso o Tribunal de Justiça ele tem um projeto de capacitação das redes de atendimento do interior do Estado, dos municípios que não tem Casa da Mulher. A mulher precisa ter um amparo, seja na delegacia de polícia, na promotoria, seja defensoria, na saúde, na educação, onde ela for tem que ter esse amparo para que ela se senta segura e consiga sair dessa situação de violência”, analisou.

Só na Casa da Mulher Brasileira, apenas durante o mês de outubro deste ano, foram recebidas 1.467 mulheres que buscavam os diversos tipos de atendimentos existentes no local. De acordo com a Coordenadora Geral da Casa da Mulher, Tai Loschi, que representa a Secretaria Nacional de Políticas Para as Mulheres, as campanhas educativas têm um papel fundamental para mostrar para as mulheres vítimas de violência que elas devem denunciar.

“As campanhas educativas preventivas elas fortalecem a sociedade para que busque ajuda, então existe um calendário nacional de datas emblemáticas o ano todo no Brasil e a gente busca acompanhar e protagonizar todas as datas emblemáticas. A mulher ouvir na televisão, no rádio, ou ver um teatrinho na escola da criança, isso tudo faz com que ela se fortaleça e venha buscar ajuda”, afirmou Loschi.

16 DIAS DE ATIVISMO

Durante o período da campanha estarão com atividades a Subsecretaria de Políticas para as Mulheres (Semu), o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), o Ministério Público de Mato Grosso do Sul e a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul.

Entre os eventos estão a realização de um mutirão de audiências de acolhimento na 3ª Vara de Violência Doméstica, que atenderão mais de 1.600 mulheres. “Essas audiências visam ouvir essas vítimas para saber se a medida protetiva está adequada, se ela está sendo cumprida, ou se ela quer revogar”, explicou a juíza.

Além disso, a Defensoria Pública realiza uma pesquisa interna para identificar o que pode ser melhorado dentro da própria instituição no tratamento para com as servidoras mulheres. “É um diagnóstico de gênero, pego de exemplo com um que foi feito no Rio de Janeiro. Queremos saber se algo pode ser melhorado. No Rio essa pesquisa resultou em uma diminuição da jornada de trabalho das servidoras até que o filho completasse um ano”.

Já o Semu tem como primeira atividade a visita de crianças da Escola Municipal Licurgo à Casa da Mulher. Conforme a subsecretária Carla Stephanini, esses alunos desenvolveram um trabalho escolar sobre violência contra a mulher e terão a oportunidade de ver como o local funciona.

As atividades dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulher termina no dia 10 de dezembro deste ano, com a exibição do documentário “Silenciadas: Em busca de uma voz”, trabalho de conclusão de mestrado de Flávia Pierreti Cardoso. O evento ocorre no auditório da Casa da Mulher Brasileira, localizada no Jadim Imá.