Estado tem retração em todas as finalidades sob cenário de juros altos, demora na liberação e incerteza climática

Crédito agrícola recua 41% em Mato Grosso do Sul e atinge R$ 799 milhões
Montante destinado à pecuária teve um recuo de 15% em relação às contratações do ano passado / Foto: Gerson Oliveira

O crédito rural contratado no Plano Safra 2025/2026 em Mato Grosso do Sul alcançou
R$ 799,39 milhões em outubro deste ano, montante que aponta para forte retração, de 41%. O volume das operações agrícolas despencou 53% frente a outubro de 2024 e na pecuária o recuo foi de 15%, segundo o Boletim Econômico de Crédito Rural, divulgado pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS).

Ainda conforme o boletim, todas as modalidades de crédito encolheram no Estado na comparação anual, custeio, investimento, comercialização e industrialização. A queda mais expressiva ocorreu na industrialização, que tombou 82% frente ao mesmo mês de 2024, tornando-se a finalidade mais fraca do período.

Em montante financeiro, o custeio somou R$ 646,53 milhões, dos quais R$ 339,57 milhões são para a agricultura, e R$ 306,96 milhões, para a pecuária. Já o investimento totalizou R$ 120,88 milhões, com R$ 55,62 milhões de agrícolas e R$ 65,26 milhões na pecuária. A comercialização agrícola registrou R$ 31,04 milhões e a industrialização agrícola somou apenas R$ 947 mil.

De acordo com o economista da Aprosoja-MS Mateus Fernandes, a retração está relacionada à conjuntura do semestre. “Os juros na casa de 15% ao ano, aliados à lentidão na liberação dos recursos, ao aumento na inadimplência do setor e à insegurança climática resultaram nesta queda, fazendo com que os produtores optem por quitar as dívidas já existentes e adiar novas movimentações financeiras”, disse Fernandes.

A preferência do produtor por conter a alavancagem e priorizar o pagamento de passivos existentes pressiona a demanda por novas contratações, especialmente em linhas de maturação mais longa, como projetos industriais (beneficiamento, armazenagem, plantas e agregação de valor).
BANCOS

Ainda conforme o boletim, do volume utilizado no Estado, R$ 427,17 milhões foram contratados na agricultura e R$ 372,22 milhões na pecuária. O maior volume de recursos no mês foi tomado via bancos públicos, somando R$ 314,7 milhões, reforçando a concentração do crédito rural em instituições oficiais no Estado.

Em outubro, 81% do crédito rural utilizado em MS teve como finalidade o custeio, 15%, investimento, e 4%, comercialização. A industrialização não registrou participação material no agregado novo do mês, reflexo direto da queda abrupta observada na comparação anual.

Aprosoja-MS sinaliza que o campo deve manter decisões mais cautelosas na contratação de novos financiamentos até o fim do ano, enquanto produtores seguem priorizando liquidez e gestão de passivos diante do custo caro do dinheiro, demora na liberação e risco climático ainda no radar.
PLANO SAFRA

Lançado em julho deste ano, o Plano Safra 2025/2026 disponibilizou R$ 516,2 bilhões para o setor produtivo, com o crédito mais caro da história recente.

As taxas de juros subiram para todas as categorias de produtores, confira abaixo as alterações: custeio para médios produtores passou de 8% para 10% ao ano; custeio para grandes produtores subiu de 12% para 14% ao ano; investimento no Pronamp de 8,5% a 12,5% ao ano; e investimento para demais produtores pode chegar a 13,5% ao ano.

Em todo o País, foram contratados R$ 128,1 bilhões no total. Para o custeio, foram R$ 79,2 bilhões, outros R$ 25 bilhões em investimentos, R$ 12,6 bilhões para a industrialização e R$ 11,3 bilhões para a comercialização.