Conferência estuda criação de novos santuários marinhos na Antártica
Penguim parece surfar sobre a água congelada no Mar de Ross, na Antártica. / Foto: AFP/John Weller/Antarctic Ocean Alliance

A criação de dois santuários marinhos na Antártica voltou à ordem do dia em uma reunião internacional na cidade australiana de Hobart, onde todos os olhares estarão voltadas para a Rússia - principal freio a este projeto.

A Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCRVMA), criada 1982 por uma convenção internacional, não consegue desde 2011 levar adiante estas duas gigantescas Áreas Marinhas Protegidas (AMP).

O primeiro projeto, dirigido por Austrália, França e União Europeia (UE), cobre vastas áreas marinhas da Antártica oriental.

O segundo, apresentado pelos Estados Unidos e pela Nova Zelândia, afeta o mar de Ross, uma imensa baía do lado do Pacífico, sob jurisdição neozelandesa.

Este mar é conhecido como "o último oceano" por ser considerado o último ecossistema marinho intacto do planeta, sem contaminação, nem sobrepesca, nem espécies invasoras.

Dentro da CCRVMA, que reúne 24 países e a União Europeia, as organizações de defesa do meio ambiente apoiam quase totalmente estas duas áreas protegidas.

Mas a Rússia põe um freio aos projetos. Também é o caso da China, mas em menor medida posto que aceitou a ideia de transformar em santuário o mar de Ross, na última reunião da CCRVMA, em 2015.

"Chegou a hora de proteger as águas da Antártica, motor de circulação oceânica", declarou Mike Walker, encarregado da Antarctic Ocean Alliance, que exortou os líderes de todo o mundo a seguirem o caminho dos Estados Unidos.

Presidência russa
O presidente americano, Barack Obama, anunciou no fim de agosto que quadriplicaria a superfície da reserva marinha de Papahanaumokuakea, no Havaí, tornando-a a maior do mundo.

"Estas últimas semanas assumiram compromisso para cerca de quatro milhões de quilômetros quadrados de AMP", prosseguiu Walker.

"Isto demonstra às partes que participam da reunião de Hobart que há uma tendência a uma melhor proteção de oceanos e que o Antártico teria que ser o próximo da lista", reiterou.

A Rússia, que presidirá a conferência este ano, continua bloqueando as propostas, alegando razões políticas e criticando que a superfície é grande demais,

Mas, para Andrea Kavanagh, encarregada da Antártica dentro da poderosa organização americana de lobbying Pew Charitable Trusts, a Rússia acabará cedendo.

"Este ano, a cúpula pode alcançar a maior zona marinha protegida do mundo, e a Rússia é chave para consegui-lo", declarou. "Como presidente da CCRVMA, a Rússia aborda este ano as negociações de uma maneira favorável", concluiu.

Também justificou seu otimismo, lembrando que 2017 foi proclamado "ano da ecologia na Rússia", que acaba de aumentar sua área marinha protegida do arquipélago da Terra de Francisco José, no Ártico.

Na cúpula, que será realizada até 28 de outubro na ilha da Tasmânia, também será abordada a gestão sustentável do krill, pequenos crustáceos de água fria sobre o qual se baseia o ecossistema antártico.

A comissão toma suas decisões por consenso, o que significa que para que uma proposta seja aceita, nenhum membro deve se opor.

No oceano Antártico, que representa 15% da superfície dos oceanos, estão ecossistemas excepcionais, que contêm mais de dez mil espécies únicas, muitas preservadas de atividades humanas, mas ameaçadas pelo desenvolvimento da pesca e da navegação.