Quando um parente morre tudo que a família espera é poder se despedir com dignidade. Em Campo Grande, a falta de manutenção do IMOL (Instituto Médico e Odontológico Legal) e um raio-x que faz apenas a ‘metade do serviço’, tem atrasado a liberação dos corpos e deixado muitas famílias angustiadas.

Foi essa situação que os parentes de Juarez Conceição de Oliveira, de 70 anos, viveram no início deste mês. Com mais de sete dias de espera, os familiares foram informados que a demora acontecia por conta do exame de raio-x, que precisava ser feito no Hospital Universitário.

Já para a família de Waldemar Inácio Weber, 47 anos, o problema aconteceu no final do ano passado, depois que o homem foi encontrado morto no dia 24 de dezembro no meio de entulhos na Avenida Wilson Paes de Barros, via que dá acesso aos bairros São Conrado e Serradinho.

O corpo de Waldemar deu entrada no instituto no mesmo dia, mas só foi liberado para o sepultamento no dia 1º de janeiro de 2016. “Me falaram que ele estava muito inchado e que não tinha médico por conta dos feriados do fim do ano”, contou a irmã dele, Lone Noei Welder, de 45 anos. Ainda segundo ela, mesmo acreditando que o irmão teve morte natural, o laudo médico que confirmará a causa ainda não está pronto.

Problema parecido vem sendo enfrentado pelos parentes de Aparecido Gomes Pereira, de 39 anos, encontrado nesta segunda-feira (16), depois de seis dias desaparecido, embaixo de uma árvore, próximo ao córrego Botas, saída para Cuiabá.

Segundo o irmão da vítima, o corpo chegou ao IMOL neste domingo (15), mas só seria liberado na quinta-feira, isso porque, de acordo com ele, a médica legista só poderá ir até o instituto neste dia para assinar o laudo e liberar o corpo para o velório. “Não entendo o porquê da demora e nem por que a médica não pode ir antes”, diz.

Explicação

Para a equipe do Jornal Midiamax, a explicação é que não há problemas no instituto e que a falta de médicos é ‘especulação’. O coordenador geral de perícias do IMOL, José Bento, afirmou que há anos o equipamento de raio-x do local faz apenas metade do trabalho. Os exames são feitos no prédio, mas para revelar as imagens os peritos precisam levar as chapas para o HU e isso está causando atraso.

 “Temos um termo de cooperação mútua com o Hospital Universitário. Além de lavar as roupas dos servidores do IMOL, também fazemos as imagens do raio-x lá no hospital.  Em troca permitimos que acadêmicos de medicina tenham aulas aqui”, explicou Bento. Segundo ele, 21 médicos legistas trabalham diuturnamente no local.

Conforme o Apo/MS (Associação dos Peritos Oficiais de Mato Grosso do Sul) o equipamento de raio-x é problema constante e já parou de funcionar outras vezes. Um pedido para a manutenção e melhora da máquina já foi encaminhado para a Coordenadoria Geral de Perícias, mas até então a situação não foi resolvida.

Ainda segundo Bento, a partir do momento que o corpo entra no IMOL, ele está sobre custódia do estado e não da família. Por isso pode ficar o tempo que for necessário se for necessário fazer o exame, como o padrão nacional emitido pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública).

Explicação

De acordo com agente de polícia científica Aparecido Paulo, a demora na liberação de corpos como o de Waldermar e Juarez são casos específicos. “Quando o corpo está em decomposição precisam ser colocados na câmara de refrigeramento antes de passar por exame e por isso atrasa a liberação”, explicou.

Já no caso de Aparecido, a radiografia só foi liberada depois de 24 horas. O exame foi realizado na máquina, mas no Hospital Universitário, onde as imagens são impressas, o equipamento também estava estragado. “As imagens do raio-x foram salvas em um celular, e a partir daí a médica legista vai olhar os exames”, relata Paulo.