Impedido de disputar eleições após cassação, ex-senador ingressou em partido no mesmo dia que o ex-suplente Antônio João e afirma aguardar “posicionamento da Justiça”

Com direitos políticos suspensos, Delcídio do Amaral se filia ao PTC

Mesmo com os direitos políticos suspensos por decisão de seus ex-colegas do Senado, que lhe cassaram o mandato em maio de 2016 e o impediram de assumir candidatura até 2027, Delcídio do Amaral está filiado ao PTC. Seu nome figura na lista de integrantes apresentada pelo Diretório Regional do partido à Justiça Eleitoral desde 5 de abril deste ano ao lado do seu ex-suplente Antônio João Hugo Rodrigues, do jornal Correio do Estado, de quem se reaproximou.

Em nota sobre o caso, na qual não faz comentários sobre a filiação, Delcídio lembra do impedimento de disputar eleições, imposto pela cassação no Senado –ocorrida depois de sua prisão na Operação Lava Jato, sob acusação de oferecer dinheiro para o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, fugir do país e não fechar acordo de delação premiada. Apesar dessa barreira, o texto deixa no ar a possibilidade de o ex-senador voltar a se envolver em questões políticas.

O ingresso no PTC –partido que, nacionalmente, tem como pré-candidato ao Palácio do Planalto o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (AL), um dos 74 que votaram pela cassação de Delcídio– chegou a ser ventilado há alguns dias, porém, acabou negado pelo ex-senador.

No entanto, registros da Justiça Eleitoral acessados nesta terça-feira (24) pela reportagem apontam que Delcídio ingressou na agremiação no dia 5 e teve o registro processado no dia 14, não havendo desfiliação ou anulação do ato na sequência.

Especialistas reforçaram que, apesar da perda dos direitos políticos, Delcídio pode se filiar a um partido desde que o estatuto da legenda não crie impedimentos. O estatuto do PTC não apresentou restrições para o seu ingresso.

Na Justiça – Delcídio afirmou, na nota, que tem cumprido “rigorosamente o acordo que fiz com a Procuradoria-Geral da República, devidamente homologado pelo Supremo Tribunal Federal, que me impõe rotina severa, dividida entre o trabalho na propriedade rural de minha família, em Corumbá, e minha casa, em Campo Grande”. O acordo envolve a delação na Lava Jato, na qual chegou a ser preso.

Além dessa situação, o ex-senador frisou que está com os direitos políticos suspensos, “o que me impede de ser candidato a qualquer cargo público”. Contudo, na sequência, afirmou que no momento cuida “exclusivamente do front jurídico do meu caso e aguardo pronunciamento da Justiça, sem o qual é impossível meu envolvimento em questões relacionadas ao quadro político de Mato Grosso do Sul e do Brasil”.

A cassação incluiu Delcídio na Lei da Ficha Limpa, tornando-o inelegível por 11 anos. O senador já tentou no STF (Supremo Tribunal Federal) reaver o mandato e os direitos políticos, contestando o processo de cassação, sem sucesso. Neste ano, porém, uma turma da Corte restabeleceu a elegibilidade do ex-senador goiano Demóstenes Torres, também cassado –sob suspeita de usar o mandato para favorecer o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Reaproximação – A data de filiação de Delcídio ao  PTC é a mesma do ex-desafeto político Antônio João Hugo Rodrigues. O ex-senador e Antônio João foram parceiros em 2002, quando o então petista se elegeu para o Congresso pela primeira vez –tendo o empresário como suplente.

Em 2010, Delcídio conseguiu a reeleição com outro parceiro na primeira suplência –Pedro Chaves (PRB), que herdou o mandato do então colega de chapa após a cassação. Na última disputa para o governo do Estado, em 2014, Antônio João concorreu ao Senado na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB), enquanto Delcídio disputou o governo. Ambos não conquistaram os mandatos que almejavam.

Naquele momento, o clima entre o então petista e o ex-suplente era de animosidade. Contudo, após a prisão de Delcídio durante a Operação Lava Jato, ambos se reaproximaram, tornando-se, agora, correligionários. Antônio João trabalha no momento sua pré-candidatura à Assembleia Legislativa, enquanto Delcídio só poderá sonhar em disputar a eleição caso haja posicionamento da Justiça lhe restaurando os direitos políticos.