Patrimônio incompatível levantou suspeita sobre venda de decisões de magistrado, que está afastado desde dezembro de 2024

CNJ retoma nesta terça julgamento de juiz de MS que chamou atenção ao comprar avião e fazenda
Patrimônio incompatível levantou suspeita sobre venda de decisões de magistrado, que está afastado desde dezembro de 2024 / Foto: Divulgação, CNJ

O juiz de Campo Grande, Paulo Afonso de Oliveira, deverá ser julgado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em sessão extraordinária nesta terça-feira (10). Na semana passada, o presidente, ministro Luís Roberto Barroso encerrou a sessão sem julgar o caso do magistrado campo-grandense.

O magistrado está afastado das funções desde dezembro. Assim, a reclamação disciplinar n. 0007048-97.2024.2.00.0000 que pode selar o destino funcional do juiz deverá ser apreciada na sessão desta terça-feira do órgão de controle do judiciário.

O processo de Paulo Afonso é o número dois da pauta.

O magistrado é lotado na 2ª Vara/Ofício Cível de Competência Residual e foi um dos alvos da Operação Ultima Ratio da PF (Polícia Federal). Ele está afastado do cargo desde o dia 19 de dezembro.

Ao manter o afastamento, em fevereiro, o CNJ apontou haver “indícios relevantes de recebimento de vantagem indevida para a prolação de decisões judiciais. Patrimônio subdeclarado ao fisco, incluindo-se fazenda e aeronave, em aparente dissonância com os rendimentos licitamente auferidos pelo reclamado“.

O caso foi analisado na 1ª sessão de 2025, presidida pelo presidente do CNJ, o ministro do Supremo, Luis Roberto Barroso.

Na ocasião, o corregedor nacional de Justiça, o ministro Mauro Campbel Marques, destacou que havia decidido pelo afastamento, por constatar ‘notável proximidade’ com filho de desembargador investigado.

Assim, o plenário formado pelos 16 conselheiros ratificou a decisão liminar do corregedor.

Acusado de agir em conluio com desembargador investigado
O processo está em sigilo. Mas, conforme apurado pelo Jornal Midiamax, o processo aborda caso citado nas investigações da PF em que teria atuado em conluio com o desembargador aposentado Júlio Roberto Siqueira Cardoso, a fim de liberar R$ 5,5 milhões para a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva.

Conforme o documento, há ‘fortes indícios de vendas de decisões’ pelo desembargador, que teria atuado em conluio com o juiz Paulo Afonso de Oliveira, ao liberar o montante sem ‘averiguações necessárias’, conforme aponta a PF.

Consta no relatório que as decisões do juiz e do desembargador “resultaram no pagamento indevido de mais de R$ 5 milhões à advogada EMMANUELLE ALVES FERREIRA DA SILVA, havendo possibilidade de intermediação por FABIO CASTRO LEANDRO [advogado também investigado na operação]”.

O caso apontado pela PF trata-se de uma ação de execução de título extrajudicial que teria sido feito a partir de notas promissórias falsificadas. O pedido foi julgado procedente pelo juiz Paulo Afonso. 

Na época, o juiz alegou ter sido enganado pelo grupo e que agiu de boa-fé. No entanto, a residência do magistrado foi alvo de busca e apreensão, bem como ele também teve sigilo bancário e fiscal levantado.

As decisões do magistrado foram convalidadas pelo desembargador Júlio em recurso que subiu para o Tribunal.

À reportagem do Jornal Midiamax, a advogada Emmanuelle negou as acusações apontadas pela PF. “Não comprei decisão alguma”.

Já o advogado Fábio Leandro disse à reportagem que: “Não existe no inquérito nenhuma conduta minha, nenhuma mensagem telefônica, com qualquer juiz ou desembargador que indique que eu tenha feito qualquer intermediação”.