Boletim tem 14.273 notificações, porém, na mesma semana epidemiológica de 2019 foram 11.774.

Capital tem mais casos de dengue que na epidemia do ano passado
Pneus abandonados com água servem para surgimento de novos focos do mosquito. / Foto: Álvaro Rezende / Correio do Estado

Campo Grande contabiliza este ano mais casos de dengue do que o registrado no ano passado, quando a doença foi considerada uma epidemia e a cidade decretou emergência. De acordo com dados do boletim epidemiológico divulgado nesta semana, a Capital tem 14.273 notificações da doença, enquanto no ano passado, na mesma semana epidemiológica, eram 11.774 casos.

Para chegar perto do número registrado nesta semana, no ano passado foi necessário mais um mês, já que no boletim divulgado no dia 17 de julho eram 14.184 notificações de dengue na Capital.

Por conta desta situação, a doença ainda preocupa a administração municipal, já que, além da dengue, este ano a cidade passa pela epidemia do novo coronavírus, que já infectou 868 pessoas e matou outras oito.

“Sim, preocupa, principalmente com as formas mais graves da dengue, que ainda estão em nossos radares, mas em quantidade menor. Se a população continuar mantendo terrenos limpos, as chances são bem boas”, declarou o chefe de Urgência da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Yama Higa.

A alta incidência depois de um período epidêmico é incomum, segundo o médico infectologista Rivaldo Venâncio, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

“O mais comum quando tem uma grande epidemia é ter números menores, tanto o poder público se mexe mais quanto a população fica mais atenta. Realmente, esses dados fogem um pouco do padrão”, comentou o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Além da Capital, outras cidades do interior de Mato Grosso do Sul que também tiveram alta incidência da doença no ano passado, como São Gabriel do Oeste (eram 1.200 casos até a semana 24 de 2019) e Três Lagoas (4.759 no mesmo período). Neste ano, as cidades têm, até esta semana, 1.759 e 3.706 notificações, respectivamente.

DADOS

De acordo com Higa, apesar de os dados serem altos em Campo Grande, eles vêm sofrendo uma queda nas últimas semanas, inclusive com redução na procura por atendimento nas unidades de saúde 24 horas. “Diminuíram bastante desde o meio do mês passado para cá. Estamos tendo notificações, mas em menor volume. A população está fazendo sua parte com relação à limpeza de terrenos”.

Para o infectologista, uma das razões para essa epidemia persistir por dois anos seguidos pode ser a emergência em saúde decretada por conta da pandemia do novo coronavírus.

“A doença persistiu na maioria das cidades, não houve redução importante, então, parece que o dever de casa não aconteceu aparentemente, que ocasionaria a redução do número de casos, muito provavelmente parte significativa desses dados tem a ver com a emergência sanitária causada pela Covid-19. Porque várias prefeituras passaram a suspender a atividade intradomiciliar, com o distanciamento social o agente de saúde parou de entrar nas casas, o agente de endemias não saiu para reduzir disseminação do novo coronavírus”, explicou o infectologista.

ESTADO

Em dados gerais, Mato Grosso do Sul registrou um acumulado menor até agora em comparação com o ano de 2019, quando a dengue foi tratada como epidemia. Durante todo o ano passado, foram 85.392 notificações, enquanto até agora este ano tem 62.451, um aumento de 847 notificações em apenas uma semana. Entretanto, até a semana epidemiológica 24 do ano passado, a mesma em que estamos, eram 41.046 notificados, um aumento de 34% em 2020. “Se continuar na mesma velocidade, terá mais casos em 2020 do que em 2019, duas grandes epidemias seguidas em Mato Grosso do Sul”.

Enquanto algumas cidades tiveram números parecidos entre os dois anos, outras praticamente dobraram as notificações em 2020, como Corumbá (com 3.804 casos) e Ponta Porã (4.877). Na mesma semana epidemiológica de 2019, eram 973 e 2.130, respectivamente.

Por conta dessa situação, o pesquisador alertou que o sistema de saúde das cidades pode ser ainda mais afetado. “Nós estamos vivendo uma pandemia de Covid-19 que se soma a outras epidemias, como a dengue, e a rede assistencial, a rede de vigilância é a mesma”.  

SEMANA

Em uma semana, foram acrescidas ao boletim epidemiológico de dengue mais 612 notificações em Campo Grande. Passando de 13.366 para 14.273. No Estado, ao todo foram 847 casos a mais, saindo de 61.604 a 62.451.