Piracicabana Fernanda Lacerda aparece em cinco momentos do episódio que foi ao ar no domingo passado. Capítulo final da série será exibido neste domingo, às 22h.

Brasileira figurante em
Figurante em Game of Thrones, Fernanda Lacerda aparece no canto esquerdo da cena de gorro e com pinta no bochecha / Foto: Reprodução

Por três meses, a publicitária Fernanda Lacerda, de Piracicaba (SP), viveu o sonho de integrar o corpo de figurantes de Game Of Thrones, série pela qual é apaixonada. Todo o período resultou em aparições no episódio The Bells, o penúltimo da temporada derradeira, que foi ao ar no dia 12.

A rotina insana de gravação, os mais de 650 figurantes, as explosões e incêndios verídicos, além da possibilidade de conviver com ídolos marcou para sempre a vida dela.

A série, que tem oito temporadas, termina no domingo (19), quando vai ao ar o último episódio.
 
“O dragão é uma bola de chroma key. Imagina você correndo de uma bola? Eles falam: 'faz cara de medo, faz cara de assustado, grita dragão' e vem uma bola? Tem de encenar mesmo, porque não dá pra ter medo dessa bola”, brinca a publicitária.

Apesar de participar da gravação, que acabou em julho de 2018, Fernanda só assistiu ao episódio no dia em que ele foi ao ar, como todo o mundo. Ela se reconheceu em cinco cenas, felicidade que não soube mensurar.

"Parece mentira, um sonho. Valeu muito a pena todos os perrengues".
 
A paixão pela série é tanta que influenciou até na escolha do país em que ela faria intercâmbio. A publicitária decidiu estudar inglês na Irlanda também porque descobriu a possibilidade de ser figurante na história, que teve a última temporada gravada na nação vizinha, Irlanda do Norte.

“Eu vi em um site que uma menina tinha sido figurante de Game Of Thrones e que a série era gravada na Irlanda do Norte. Até então, era uma ideia remota. Aí, comecei a pesquisar e vi que realmente dava para isso acontecer, mas não sabia como seria o processo seletivo”.

“Acabei optando pela Irlanda por conta disso e por ser mais fácil de viajar. Pensei: ‘Quem sabe não casa essa oportunidade com o intercâmbio’”.
 
Ela chegou ao país em outubro de 2017 e no início de 2018, assim que recebeu o visto de estudante, se inscreveu para a seleção da série. Em meio à ansiedade por ser chamada, começou a trabalhar como babá em uma família irlandesa.

Quando a produção da série a contatou, em março do ano passado, ela não pensou duas vezes. Deixou o emprego e seguiu para Belfast, capital norte-irlandesa. “Nossa, meu inglês era péssimo. Estava até um pouco receosa, mas no final deu tudo certo, consegui chegar no local”.

As gravações ocorreram no Titanic Studios e a rotina era intensa, conta a publicitária. Ela precisava chegar por volta de 3h e a preparação, que envolvia figurino, maquiagem e organização das cenas, durava cerca de três horas. Por volta de 6h, as gravações começavam.

“Eu gravei três meses para um episódio, é muita coisa. E o pessoal tem coragem de falar que ficou ruim! Ninguém imagina o quanto é difícil gravar um negocio desse”, conta em meio a risadas.
 
As gravações duraram de abril ao dia 7 de julho. Fernanda conta que primeiro recebeu um calendário de trinta datas, que foi estendido. Para chegar de Dublin a Belfast, ela relata que precisava andar cerca de cinco quilômetros e tomar um ônibus cuja viagem levava duas horas.

Rigidez no estúdio
 
As regras no estúdio eram rígidas. Os celulares recebiam uma etiqueta na câmera para que nada fosse fotografado. Os aparelhos também eram proibidos no set de gravação. “Teve gente que foi mandada embora porque foi pega com celular no set”.

O contrato previa até processo em caso de descumprimento das regras, que envolviam sigilo sobre as cenas, segundo ela. Os figurantes também eram retirados do set quando alguma cena importante apenas dos personagens seria gravada: tudo para evitar que algo vazasse.

Apesar da rigidez, Fernanda conta que todos os profissionais envolvidos na produção são gentis e educados, o que fazia com que o clima fosse positivo.
Durante as gravações, a publicitária contracenou com os atores Kit Harington (Jon Snow), Maisie Williams (Arya Stark), Nikolaj Coster Waldau (Jaime Lannister), Rory McCann (Cão de Caça), Jacob Anderson (Verme Cinzento) e Liam Cunningham (Sir Davos).

O contato com os atores, no entanto, era vedado a não ser que eles próprios falassem com os figurantes.

Incêndios, cenário real e dragão de chroma key
 
Apesar de não ser assustador correr de uma bola de chroma key, Fernanda relata que não falta emoção. “Mas tinha cena que realmente dava medo. Com os Imaculados, por exemplo. Parece que os caras vão jogar lança em você de verdade. Ou desvia, ou vão tacar lança em você”.

“Quando os nortenhos atacavam a gente também. Uns caras gigantes, de dois metros, barbudos com cara de mau. Parece que vão matar você!”
 
Além disso, ela garante que quase todo o fogo que se vê no episódio é real. "O fogo é fogo. As explosões são reais, a não ser o fogo que sai da boca do dragão, mas as casas pegando fogo e as pessoas pegando fogo são reais", crava.

Ela explica que as pessoas que literalmente pegam fogo nas cenas têm o corpo revestido com um material semelhante a gaze que possui produtos antichamas.

Elas também usam máscaras protetoras. "Eles encapam a pessoa praticamente".

Os incêndios no cenário que formam as casas e ruas são controlados por um sistema de gás. Além disso, material do cenário é antichamas. "A estrutura em si não pega. Eles colocam um encanamento de gás como se fosse um fogão dentro e tem toda uma equipe. Eles ligam e começa a pegar fogo. Depois, desligam. Eles controlam o caos".

"Você vê na televisão e pensa que é computação gráfica, mas não é".

A publicitária afirma que o nível de detalhamento do cenário de Porto Real (Kings Landing), local na série onde o episódio se passa, impressiona. Ela estima que a muralha tenha cerca de seis andares de altura. "Você a parede e realmente parece que são blocos de séculos atrás".

A busca pela perfeição também impressionou Fernanda. Segundo ela, uma cena simples, de dois personagens andando em meio a multidão, foi repetida 20 vezes. No episódio, virou uma passagem de cerca de 20 segundos.

Se algo não saía como a direção queria, eles refaziam a cena. Em alguns momentos, até se estivesse bom era gravado novamente, ela conta. "Eles falavam que estava perfeito, mas que tinha que fazer de novo".
E ela também foi responsável por uma interrupção ao cair durante uma cena.

"Imagina, tropecei em um morto [boneco] e dei um 'rola'. Aí já levantei e falei que estava tudo bem. Só ralou a mão e o joelho, nada de mais. Tenho uma cicatrizinha para contar a história".

No dia seguinte ao fim das gravações, Fernanda deixou a Irlanda e passou um mês viajando antes de voltar ao Brasil. No período no exterior, ainda visitou países que também receberam gravações, como Malta e Croácia.