“Um dia, lá em casa, escondido de todo mundo, ele falou pra mim que a sanfona era a paixão dele”. Esta é a principal lembrança de Antônio Caetano da Silva, o Tonhão, ao falar do filho Luan Ribeiro da Silva, de 8 anos - mais conhecido como Luan da Gaita - que desde os cinco, sem qualquer instrução musical, toca o instrumento.

O menino, que mora com os pais e duas irmãs gêmeas na Comunidade Quilombola Furnas da Boa Sorte perto de Corguinho e a 130 km de Campo Grande - já tem fama na região, onde vez ou outra se apresenta em festas e eventos. Neste domingo (25), ele será uma das atrações do evento beneficente Festa dos Pratos, na Capital (leia abaixo).
Tudo começou quando Luan, aos 5 anos, se encantou por uma sanfona de brinquedo que viu numa loja em Rochedo. “Em casa nós temos um DVD dos chamamezeiros Gregório e Grupo Fronteira e Tostão Mineiro.O Luan sempre pedia para assistir e acho que vem daí a vontade dele de tocar”, conta o pai, que trabalha com serviços gerais.
Com R$125 emprestados, Tonhão adquiriu a sanfona, acreditando que o menino quisesse apenas brincar, mas a surpresa de toda a família foi vê-lo tocando de verdade. “À noite quando chegamos em casa, ele simplesmente pegou a gaita e tocou ‘O menino da porteira’”.
A primeira sanfona de verdade veio logo depois do tio ouvir Luan tocando um chamamé do DVD até a metade da música, sem erros. “O tio comprou uma gaita de 8 baixos para ele, que saiu tocando. Claro que ele errava, mas era pouco; daí começava tudo de novo até aprender”, explica o pai, que acompanha o menino ao violão.
Frequentador da escola desde os 5 anos, Luan fez da sanfona seu “brinquedo” predileto. “Ele sempre levantava mais cedo para, antes de ir para a aula, tocar um pedaço de uma música que ele mesmo escolhia”.
Aliás, Luan já conta com 30 músicas no repertório, limitado devido à dificuldade de acesso ao trabalho de outros instrumentistas - ele só cita Tostão Mineiro e Gregório.
A primeira apresentação foi aos 5 anos, num programa de TV em Rochedo. “Depois disso, promovemos uma festa, conseguimos arrecadar dinheiro e compramos uma sanfona de 48 baixos, que está com ele até hoje. Mas saiba que o tio tem uma de 80, que ele também sabe tocar”.
Sobre a falta de educação musical, o pai explica que ainda acha cedo investir. “Quero esperar o Luan completar 12 anos para quem sabe ele frequentar uma escola de música”.
Segundo a mãe, a dona de casa e diarista Luzia Lourenço Ribeiro da Silva, mesmo se dedicando diariamente à sanfona, Luan não descuida dos estudos. “É um bom aluno, as professoras gostam muito dele. Passou direto para a quarta série”.
Sempre acompanhado dos pais nos eventos, Luan está ansioso pela apresentação deste domingo. “Gosto muito de tocar e ver as pessoas animadas, dançando”. Ele conta que não tem dificuldade de tocar, basta
ouvir a música, de preferência chamamé, vanerão e xote. E conta que Gregório e Tostão Mineiro são seus ídolos. “É o que eu ouço em casa, lugar onde eu mais toco. Já me apresentei na escola também”.
Com o pouco dinheiro que ganha nos cachês, segundo o pai, ele já comprou chapéu, botina, calça jeans e uma bela camisa de manga comprida para as apresentações.
Perguntado sobre o que gosta de fazer além de tocar a sanfona, Luan explica. “Gosto de cuidar dos porcos, das galinhas, do gado. Mas troco tudo para tocar minha gaita”. Até o videogame? “Até o videogame. Tocar gaita é o que mais gosto de fazer”.
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