Negócios são negócios, crenças religiosas à parte. Esse é o lema do americano Trevor McKendrick, ateu convicto que fatura por ano mais de US$ 100 mil, cerca de R$ 270 mil, vendendo aplicativos da Bíblia pela AppStore, da Apple. Em entrevista ao site GimletMedia, o empreendedor lamenta por vender um produto no qual não acredita e confessa se sentir culpado em determinadas situações, mas diz não poder abrir mão do dinheiro, que está sendo empregado para financiar uma nova start-up.

— Como seria se você vendesse livros do “Harry Potter” ou do “Senhor dos Anéis”, mas dissesse às pessoas que eles são reais? E se você dissesse para as pessoas que elas poderiam aprender a escrever encantamentos para curar os filhos? E se você vendesse isso como uma coisa real? Eu me sentiria horrível sobre isso, mas é a minha situação vendendo a Bíblia. Eu estou vendendo uma coisa que eu realmente acredito ser uma ficção — afirmou McKendrick.

Por ser o criador dos aplicativos, seu e-mail de contato é publicado na AppStore, e, por vezes, ele recebe mensagens de usuários pedindo para que ele reze por alguém, ou faça interpretações de passagens do livro sagrado.

— Eles pensam que eu sou um padre — contou McKendrick. — Se você está enviando e-mails para o criador de um aplicativo para conseguir ajuda para o seu filho, provavelmente você não está em boa situação. Trocar isso por lucro me pesa um pouco. E eu não posso (abandonar o negócio). Sim, eu tenho um problema com isso, mas não posso.

A história do negócio começou durante um jantar em família, em fevereiro de 2012. Durante as conversas, um parente contou que faturava até US$ 10 mil por mês vendendo programas na AppStore e McKendrick pensou: se ele pode, eu também posso. Atiçado pela possibilidade de ganhar dinheiro, decidiu criar um aplicativo com a meta de faturar US$ 600 por mês, o suficiente para cobrir o aluguel.

Sem ideias para algo novo, ele resolveu pesquisar na AppStore por aplicativos com grande receita, mas fossem mal feitos.

— Eu percebi que existiam poucos aplicativos da Bíblia em espanhol e todos eram horríveis — disse o empreendedor.

Para criar o primeiro aplicativo, McKendrick contratou pela internet um programador da Romênia que deu conta do trabalho. As vendas foram boas. Pouco tempo depois, ele construiu uma versão em áudio do aplicativo, que foi um grande sucesso e levou o faturamento mensal para US$ 6 mil. No primeiro ano, o aplicativo de áudio teve receita de US$ 73.034, e, no segundo ano, o número subiu para US$ 100.134. O negócio, criado para ser um complemento, se tornou a principal fonte renda de McKendrick.