Prefeitura está pagando dois salários de prefeito durante afastamento de Henrique Budke, apontado como líder de suposto esquema de corrupção
Terenos — município da região central de Mato Grosso do Sul — está vivendo uma situação inusitada há dois meses. Duas pessoas têm um salário bruto de R$ 24 mil para exercer o cargo de prefeito.
Desde setembro de 2025, Henrique Budke (PSDB) está afastado das funções sob a acusação de supostamente liderar um esquema de corrupção. Arlindo Landolfi (Republicanos) assumiu o comando da cidade e passou a ganhar o salário do titular.
Ou seja, a prefeitura está tendo que pagar salários para dois chefes do Executivo. Apenas em novembro de 2025, Budke e Landolfi vão receber, juntos, R$ 29.870,78.
O salário do tucano, com os descontos, é de R$ 12.199,84. A folha de pagamento não detalha quais as retenções do vencimento. Já Landolfi ganha R$ 17.670,94.
O vice-prefeito tem salário bruto de R$ 16 mil. Até agosto, ele recebia R$ 11.870,94. Em setembro de 2025, mês da deflagração da Operação Spotless, Budke teve uma queda expressiva no salário. A prefeitura pagou apenas R$ 395,56, o que indica pagamento proporcional à data da ação do Gaeco.
Landolfi também ganhou o vencimento proporcional de prefeito, no valor de R$ 15.544,27. Em outubro, primeiro mês completo após a ação, o município pagou R$ 24.811,80 a ele e a Budke. A folha de dezembro ainda não está disponível no Portal da Transparência.
Em nota, a Prefeitura de Terenos informou que o pagamento para o prefeito afastado é permitido pela Lei de Improbidade Administrativa, enquanto o interino tem direito ao salário do titular conforme a legislação municipal. Leia o comunicado:
A Prefeitura Municipal de Terenos informa que a manutenção do subsídio ao Prefeito afastado decorre de expressa previsão do art. 20 da Lei nº 8.429/1992, que estabelece que o afastamento cautelar determinado pelo Poder Judiciário ocorre sem prejuízo da remuneração, salvo ordem judicial em sentido contrário, o que não existe no presente caso.
A perda da função pública somente se efetiva após trânsito em julgado, razão pela qual o titular permanece agente político e mantém seus direitos remuneratórios durante o afastamento. A jurisprudência do STJ confirma que a cautelar não implica suspensão automática de subsídio.
O Prefeito interino recebe o subsídio correspondente ao exercício do cargo, conforme previsto na legislação municipal.
A Administração Municipal reafirma que está cumprindo integralmente a legislação vigente e a decisão judicial, observando os princípios da legalidade e da transparência.
Gaeco desmonta esquema de corrupção liderado por prefeito de Terenos
Em 9 de setembro de 2025, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) deflagraram a Operação Spotless, contra um esquema de corrupção na Prefeitura de Terenos.
Foram expedidos 16 mandados de prisão e 59 mandados de busca e apreensão em Terenos, Campo Grande e Santa Fé do Sul (SP). O prefeito Henrique Budke (PSDB) é apontado como líder da organização criminosa.
A investigação apontou que o grupo liderado por Budke tinha núcleos com atuação bem definida. Servidores públicos fraudaram disputa em licitações, a fim de direcionar o resultado para favorecer empresas.
Os editais foram elaborados sob medida e simulavam competição legítima. Somente no último ano, as fraudes ultrapassaram os R$ 15 milhões.
O esquema ainda pagava propina para agentes públicos que atestavam falsamente o recebimento de produtos e de serviços e aceleravam os processos internos para pagamentos de contratos.
A Operação Spotless foi deflagrada a partir das provas da Operação Velatus, que foi realizada em agosto de 2024. O Gaeco e Gecoc obtiveram autorização da Justiça e confirmaram que Henrique Budke chefiava o esquema de corrupção.
Spotless é uma referência à necessidade de os processos de contratação da administração pública serem realizados sem manchas ou máculas. A operação contou com apoio operacional da PMMS (Polícia Militar de MS), por meio do BPChoque (Batalhão de Choque) e do Bope (Batalhão de Operações Especiais).
Budke foi solto ainda em setembro de 2025 após obter habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça). O afastamento dele, que era voluntário, foi referendado pelo Judiciário.
Prefeito afastado e mais 25 são denunciados à Justiça
O MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) denunciou o prefeito afastado de Terenos, Henrique Budke (PSDB), e mais 25 pessoas envolvidas no suposto esquema de corrupção na prefeitura.
Licitações de obras públicas eram direcionadas, e empresas se revezavam nos serviços, garantindo que o grupo se beneficiasse do esquema, que incluía pagamento de propina ao prefeito e a outros citados.
“O que se apurou na investigação é uma organização criminosa instalada no Poder Executivo do Município de Terenos, atuando há anos para fraudar licitações e saquear os cofres públicos, um verdadeiro balcão de negócios comandado pelo prefeito municipal [Henrique Budke]”, pontuou o procurador-geral de Justiça Romão Ávila Milhan Júnior.











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