Artur Almeida nasceu com uma malformação nos rins. Psicóloga explica que brinquedos podem ajudar criança a expressar emoções e se sentir mais confortável em situações desconhecidas.

Após 16 cirurgias, menino de 4 anos usa boneco como apoio na recuperação:
Injeções fazem parte da rotina de Artur - e consequentemente, de seu boneco / Foto: Camila Mendes/Divulgação Hospital Pequeno Príncipe

Artur Almeida, de 4 anos, nunca está sozinho. Sempre tem um boneco como companheiro inseparável. Os dois enfrentam juntos cada etapa do tratamento: as 16 cirurgias, o transplante, as frequentes internações. Quando os enfermeiros colocam um curativo em Artur, ele faz o mesmo com seu brinquedo.

Esses desafios começaram dias após a saída da maternidade. A criança nasceu com uma doença chamada “válvula de uretra posterior” (VUP) – uma obstrução no canal urinário, acompanhada de uma malformação dos rins. Com 17 dias de vida, Artur foi internado na unidade de terapia intensiva (UTI) e submetido à primeira cirurgia.

Até o menino completar 1 ano e meio, seus rins apresentavam 5% da capacidade de funcionamento. Por isso, ele precisava seguir uma dieta alimentar rígida e tomar uma série de medicamentos. Nessa idade, os bonecos de Artur já eram seus companheiros. “Os médicos colocaram um cateter na barriga do meu filho, e ele repetia o procedimento no brinquedo”, conta Suelen Almeida, mãe da criança.

Com quase 2 anos de idade, passou a ser necessário fazer hemodiálise (processo de filtragem do sangue). Um pequeno Homem Aranha dava força para Artur. Depois, aos 3 anos e meio, a criança recebeu os rins de um doador. “O hospital emprestou uma bonequinha para estar ao lado dele no transplante”, relata a mãe.

Atualmente, o melhor amigo de Artur é Murilo, comprado pela mãe em dezembro de 2018. Os dois enfrentam juntos as etapas de recuperação da cirurgia. “Meu filho tem um buraquinho na virilha, por onde passa a sonda que recolhe os restos de urina. É como se fosse um cateterismo. Eu mesma cuido disso. Ele deita na cama e me deixa fazer tudo, não dá nenhum trabalho. Depois, quando termino, ele faz o mesmo no Murilo”, diz Suelen.

Brincadeira que faz parte do tratamento
 
Esse tipo de brincadeira é importantíssimo para a recuperação de uma criança, conforme explica Angela Bley, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe (PR), onde o menino se trata. “O papel do boneco é tornar conhecido tudo aquilo que parece assustador”, diz. “É uma ferramenta fantástica para a criança se sentir mais segura. Ela se familiariza com os procedimentos usando o brinquedo”, completa.

A especialista afirma também que, na infância, a brincadeira é uma forma de a criança se expressar. “O Artur pode colocar para fora todos os seus medos e sentimentos com o boneco. Quando ele acalma o Murilo e diz ‘não fique com medo’, está expressando a sua própria insegurança”, diz.

Seja um paninho, um desenho ou um brinquedo, são itens que podem ajudar a criança a se sentir mais segura. E isso não vale apenas para um tratamento médico: pode também ser no primeiro dia de aula, por exemplo. Os adultos que estão ao redor – no caso de Artur, os médicos e a família – precisam ter a sensibilidade de perceber a importância do objeto. “Eles devem ter um olhar carinhoso e empático”, diz a psicóloga.
 
Desafio atual
 
Desde que passou pelo transplante, Artur precisa tomar alguns medicamentos para evitar que seu organismo rejeite o novo órgão. Como efeito colateral desse tratamento, a imunidade diminui, e a criança fica mais suscetível a doenças.

No momento, o menino está internado há 15 dias com herpes no esôfago. E quem está ao lado dele? Além da família, o Murilo, claro.

“Artur é muito inteligente, sabe que tem um problema de saúde e que precisa cuidar disso. Apesar de todos os sustos, ele é uma criança alegre. Não vê a hora de voltar para a escola e encontrar os amigos”, conta Suelen. Sozinho, ele nunca está.