A medida deve impactar positivamente na economia do Estado, que teve queda no último ano com a redução de fornecimento de gás vindo da Bolívia

ANP autoriza movimentação de 180 milhões de m³ de gás argentino após queda nas importações de M
Gás vindo da Argentina deve causar alívio na economia de MS / Foto: Divulgação/Semadesc

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) autorizou a Petrobrás a importar até 180 milhões de metros cúbicos de gás natural provenientes da Argentina por ano.

O produto deve seguir o percurso dos gasodutos argentinos até passar pelo gasoduto da YPFB, na Bolívia, chegando ao Brasil pela cidade de Corumbá, através do percurso do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).

A autorização da Agência vale para abastecimento do gás em todo o território brasileiro, com exceção da região Norte do País.

Essa medida deve trazer alívio para o déficit nas importações de gás natural em Mato Grosso do Sul, impactado pela queda do fornecimento do produto pela Bolívia.

O gás natural é o principal item de importação do Estado, sendo responsável pela movimentação de R$ 966.535.223 entre janeiro e outubro deste ano, segundo o relatório de comércio exterior da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Esse valor representa 30,5% de todas as importações do Estado durante o ano.

O volume importado nesse período foi de 2.313.913 toneladas, uma queda de 31,46% em relação ao volume no mesmo período de 2024, que ultrapassou 3,04 milhões de toneladas. Essa diminuição é reflexo direto da redução da oferta boliviana e consequente ociosidade do Gasbol.

Atualmente, o fluxo de gás natural vindo da Bolívia para Mato Grosso do Sul não passa de 12 milhões de metros cúbicos por dia, sendo que o volume já chegou a ser de 30 milhões de metros cúbicos diários.

Conforme o Correio do Estado adiantou na edição de 30 de agosto de 2025, a importação de gás boliviano para MS deve acabar até 2030, com o declínio das reservas e a redução contínua do volume entregue.

Dados da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) indicam que o Gasbol, antes responsável por 100% do gás natural que abastecia o Estado, já vinha operando com cerca de metade da capacidade.

Por isso, a autorização da ANP para a importação do gás argentino representa uma alternativa para recompor o fluxo de gás pelo Mato Grosso do Sul, como ressaltou o secretário da Semadesc, Jaime Verruck.

“A Petrobras foi autorizada a comprar 180 milhões de metros cúbicos de gás natural da Argentina via Gasbol. Esse gás vai sair da Argentina, seguir pelo gasoduto argentino até a Bolívia, passar pelo gasoduto da YPFB e depois entra no Brasil pelo Gasbol a partir de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Essa é uma medida importante, pois o gasoduto está ocioso, dado que a própria Bolívia, nesse momento, não tem condições de fornecimento de gás. Isso mostra que o Gasbol é também uma alternativa para o gás argentino entrar no Brasil”, afirmou.

Verruck ressaltou que, com a efetiva decisão da Petrobrás de executar a importação, Mato Grosso do Sul deve registrar aumento na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e uma reativação da movimentação de gás pelo Estado.

“O gás natural representa praticamente um terço de todas as importações estaduais e o Gasbol tem operado abaixo de sua capacidade. Por isso, a autorização da ANP abre uma janela estratégica para restabelecer o fluxo, fortalecer a segurança energética e restabelece Mato Grosso do Sul como corredor do suprimento de gás no país”, finalizou Verruck.

Primeira importação em outubro

Como noticiou o Correio do Estado, a importação do gás proveniente da Argentina chegou ao Brasil no início do mês de outubro. A Petrobrás confirmou a chegada do primeiro fluxo vindo da formação de Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás não convencional do mundo, localizada na província de Neuquén, na Argentina.

Segundo a Petrobrás, foram importados 100 mil metros cúbicos de gás natural para testar o arcabouço comercial e operacional.

“Essa primeira operação é um marco relevante para a Petrobras, possibilitada pela integração das infraestruturas e que permite a conexão da produção própria da Petrobras na Argentina, por meio de sua subsidiária Posa, com o mercado nacional. Essa solução logística e comercial abre uma nova possibilidade para importação de gás natural pelo Brasil, refletindo o compromisso da Petrobras com o aumento da oferta e com o desenvolvimento sustentável do mercado de gás natural”, afirmou a diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Angélica Laureano, na época.

Com a Bolívia enfrentando uma crise energética fiscal, sem novos investimentos em exploração e com falta de estabilidade regulatória, o que reduziu a capacidade de exportação, Vaca Muerta desponta como o novo epicentro energético da América do Sul.

Com reservas estimadas em mais de 300 trilhões de pés cúbicos de gás natural, o campo argentino é considerado o segundo maior do mundo em potencial de exploração não convencional.

Inicialmente, estima-se uma capacidade inicial de 2 milhões de m³ por dia do produto ao País, com um potencial para atingir 30 milhões de m³ por dia até 2030, volume equivalente à capacidade máxima do Gasbol.