Além do gado, soja e milho também sofrerão com valores de insumos mais elevados.

Alta de 20% no custo da produção deve impactar preço de alimentos
O custo da produção agropecuária tem um aumento estimado em 20% para este ano. / Foto: Reprodução

O custo da produção agropecuária tem um aumento estimado em 20% para este ano. 

Com isso, a arroba do gado e, consequentemente, a carne para o consumidor final ficam mais caras. 

Toda a cadeia produtiva envolvendo os alimentos será afetada: além dos custos da produção, os impactos do clima também devem trazer a elevação de preços aos consumidores.

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), Marcelo Bertoni, a seca tem causado prejuízos ao agronegócio, principalmente em relação à safra de soja, mas também atinge áreas como pecuária, suinocultura e avicultura.

“Não só o produtor de soja, não só o produtor de grãos, criador de suíno e frango, mas o pecuarista também, por falta de chuva, hoje não tem o pasto para engordar o seu boi', disse Bertoni. 

O presidente do Sistema Famasul ainda estimou aumento de 20% nos custos da produção agropecuária.

A economista Daniela Dias explica que sempre que há aumentos na cadeia produtiva, automaticamente todos os custos ficam maiores, inclusive no produto final que chega aos supermercados.

“O custo do agronegócio foi influenciado pelo câmbio, porque os insumos para a produção são negociados em dólar. Com a desvalorização do real frente ao dólar, esses insumos ficaram mais caros, elevando os custos de produção', analisou Daniela.  

“Se a gente tem um encarecimento no início da cadeia produtiva, isso tende a ser repassado. E tem os outros impactos inflacionários dentro da cadeia produtiva, como a própria indústria, e consequentemente temos uma interferência significativa sobre o bolso do consumidor'.  

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois de bater 18% em 2020, a inflação dos alimentos é projetada para fechar em 10% em 2021 e só começar a ceder no fim deste ano, de acordo com o comportamento da economia até lá.

A carne bovina subiu 15,89% em Mato Grosso do Sul no período de janeiro a novembro, conforme os dados do IBGE.  

PECUÁRIA
A arroba do boi gordo subiu 23,79% em um ano. Em janeiro de 2021, era comercializada a R$ 254,46 no mercado físico de Campo Grande, passando a R$ 315 neste mês. 

Já a arroba da vaca aumentou 25,42%, saindo de R$ 236,40 para R$ 296,50 no intervalo de um ano.  

Em agosto do ano passado, a arroba do gado já havia atingido o pico de R$ 317, mas os preços pagos aos produtores foram freados por um embargo sobre as exportações de carne brasileira imposto pela China, em decorrência da confirmação de casos atípicos da encefalopatia espongiforme bovina (EEB ou vaca louca) registrados em Mato Grosso e Minas Gerais. No mês seguinte, os preços caíram para, em média, R$ 275.

De lá para cá, as chuvas voltaram a cair no Estado, mas em baixo nível, ainda impactadas pelo fenômeno La Niña, que traz seca para a região e boa parte do Sul do Brasil.

Nesta semana, o governo de MS decretou estado de emergência por causa das chuvas abaixo da expectativa para o mês de dezembro. 

Dados do meteorologista Natálio Abrão indicam que o Estado recebeu apenas 50% do volume de chuvas esperado no período. “Apesar de ter chuva, ainda está bem abaixo do necessário'.

De acordo com o doutor em Economia Michel Constantino, “a projeção para 2022 é de que o preço da arroba se mantenha no patamar atual ou suba um pouco'.  

Sobre os aumentos do preço da arroba do boi e da vaca gordos em 2021, Constantino diz que, além da seca que assolou o Estado, o aumento no preço da ração também teve grande parcela de contribuição. 

“Como a ração tem o preço atrelado ao dólar e a moeda americana também se valorizou muito no último ano, isso afetou o preço da arroba, que assim foi repassada para o frigorífico e, por fim, chegou ao consumidor', explicou.

Marcelo Bertoni vai na mesma linha e acredita que os meses de janeiro e fevereiro, historicamente meses de carne barata, devem ser marcados por manutenção do preço.  

“O mercado é regulado por oferta e demanda. Janeiro e fevereiro são conhecidos como o mês do boi gordo, quando o preço reduz pelo aumento da oferta. Neste ano não deveremos ter queda para o período', analisou.

No mercado futuro, a arroba do boi gordo é negociada na Bolsa de Valores (B3) a R$ 341,90 nos contratos para janeiro. Nos contratos para fevereiro, o gado vai a R$ 339,65.

AGRICULTURA
Na agricultura, a situação não é muito diferente. Conforme publicado em reportagem do Correio do Estado na edição do dia 4 de janeiro, a falta de chuvas tem impactado a produção de soja do Estado. 

Assim como no ano passado foi registrada quebra na safra de milho, este ano pode ter uma redução na produção de soja.  

A soja e o milho fazem parte da alimentação animal, assim como, após o beneficiamento, chegam às mesas dos consumidores em forma de óleos, farinhas e, indiretamente, nas carnes de suínos, aves e bovinos.  

Mesmo diante de produção recorde de soja em 2021, quando o Estado chegou a 13,3 milhões de toneladas da oleaginosa, o consumidor não foi desonerado em relação aos preços. 

Com uma possível redução de safra em 2022, as altas podem ser ainda maiores, caso o estoque do produto seja prejudicado.  

“Para que a gente tenha uma situação diferente e não tenha um impacto ainda maior da inflação em 2022, a gente precisa resgatar a credibilidade brasileira. Tanto em termos de enfrentamento da pandemia quanto da assertividade política para resgatar a credibilidade diante do cenário internacional. Com isso, conseguimos influenciar a questão cambial, que tem pesado bastante, considerando que muito do que o Brasil consome é importado e com alto valor agregado', explicou Daniela Dias.

Na outra ponta, o País exporta e acaba vendendo sua produção “mais barata' quando o real está valendo cinco vezes menos do que a moeda norte-americana.