São cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e outros nove de internação de adolescentes

Adolescente é apreendido no RJ suspeito de praticar estupro virtual
São cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e outros nove de internação de adolescentes / Foto: Estupro virtual (Ilustrativa)

Um adolescente de 17 anos foi apreendido nesta quinta-feira, 3, no Rio de Janeiro, suspeito de induzir uma jovem a beber ácido. Ele teria também praticado estupro virtual contra uma criança de 12 anos e induzido outras crianças à automutilação. O mandado de apreensão foi cumprido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro em Santo Antônio de Pádua, no norte fluminense. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do adolescente.

A ação ocorreu em apoio à segunda fase da Operação Nix, deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo. A operação investiga uma organização criminosa voltada para crimes como pedofilia, cyberbullying, divulgação de pornografia, incitação ao crime, induzimento e instigação à automutilação.

O adolescente apreendido no norte fluminense também executava animais ao vivo e exibia imagens pela internet. Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão, os policiais localizaram o jovem em sua casa, onde também foi apreendido um celular.

Além da polícia do Rio, a ação tem apoio da Polícia Civil dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Pará, Pernambuco e do Distrito Federal. No total, são cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e outros nove de internação de adolescentes.

Entre os investigados está um menor que reside na França e é apontado como um dos principais financiadores dos ataques. Aproveitando-se de sua boa condição econômica ele financiaria ações criminosas organizadas em grupos fechados em uma plataforma digital.

Observadores infiltrados
As investigações tiveram início em novembro do ano passado, com a criação do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) voltado para apurar crimes em ambientes virtuais. O foco inicial eram grupos responsáveis por ataques a moradores de rua e animais em situação de abandono, articulados por meio de plataformas digitais.

A partir da infiltração de policiais civis 24 horas por dia em comunidades e grupos de internet, atuando como ‘observadores digitais’, novas atividades criminosas foram surgindo, como evidências de crimes de estupro virtual, racismo, homofobia, indução à automutilação e ao suicídio.

Desde a criação, as equipes do Noad conseguiram impedir mais de 80 estupros virtuais, uma prática criminosa que se espalha pela rede mundial de computadores, segundo a Polícia Civil. Os crimes são praticados por homens que se autodenominam “líderes” de comunidades em redes sociais e que se relacionam virtualmente de alguma forma com a vítima – na maioria dos casos crianças ou adolescentes. A relação envolve diferentes tipos de violência e abusos, transmitidos em “lives” para milhares de pessoas.

Conforme a Polícia Civil de São Paulo, a investigação deve durar cerca de oito meses e ter novas fases. Segundo os agentes do Noad, o grupo se reorganiza constantemente em subgrupos – ou “panelas” – dentro da rede social, o que exige acompanhamento contínuo das autoridades.

Para a coordenadora do núcleo, delegada Lisandréa Salvariego, a operação Nix reforça a necessidade de investigações contínuas dada a transnacionalidade dos crimes. “São ações extremamente absurdas que, muitas vezes, os pais não têm ideia que o filho é o idealizador dessa violência, manipulando as vítimas a realizarem os ataques, ou o filho é a própria vítima”, disse.

Operação ‘Nix’
Batizada de Nix que na mitologia grega é mãe da deusa Nêmesis, codinome usado nas redes sociais por um dos integrantes das comunidades virtuais investigadas, a operação cumpriu, na primeira fase, dez mandados de busca e duas prisões temporárias autorizadas pela Justiça.

Entre os alvos estava um adolescente do interior paulista apontado como um dos “donos” de um grupo investigado e que, após obter imagens íntimas das vítimas, obrigava a se masturbar e até se mutilar.

Outro envolvido, apreendido em Pernambuco, teve o pai detido na época porque, segundo a polícia, o nome dele estava nas contas bancárias que recebiam o dinheiro proveniente da venda de pornografia infantil.

Além de São Paulo, essa fase ocorreu em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e no Distrito Federal.