Augusto e o ex-guarda municipal Marcelo Raimundo foram presos em flagrante pela PF durante pagamento de propina
“Vou dizer que sou influenciado? Não […]. Acontece”, essa foi a resposta do policial Augusto Torres Galvão Florindo, do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), ao ser questionado sobre a motivação para o recebimento de propina na última sexta-feira (28).
Augusto e o ex-guarda municipal Marcelo Raimundo foram presos em flagrante pela PF (Polícia Federal) durante pagamento de propina, no estacionamento de um supermercado em Campo Grande.
Em interrogatório na delegacia, o policial civil confessou o desvio da mercadoria. Ele disse que o dinheiro que estava recebendo era de uma venda de produtos contrabandeados. Questionado sobre como teve acesso às mercadorias, Augusto respondeu que eram oriundas de apreensões.
“Com as informações de pessoas que estavam trazendo, a gente acabou abordando e apreendendo”, falou o policial civil.
Augusto também afirmou que era responsável somente por receber a venda. Ele não quis revelar nomes de outros envolvidos na empreitada criminosa.
Na delegacia, o policial civil também comentou que, no momento da abordagem policial, pensou que fosse um roubo. “Na hora da abordagem, como ele [Marcelo] já tinha sido roubado e está tendo muito roubo, eu achei que era roubo. Por isso que eu fiz menção de colocar a arma”, explicou.
Interrogado sobre estar arrependido, Augusto respondeu: “Pô, pra caramba! É o que eu falo, né, isso aí era pra mim, não seria ‘ah vou ganhar dinheiro’, ia ganhar uns R$ 7 mil, R$ 5 mil, não sou ganancioso também, a gente sabe que é errado”, alegou.
Augusto e Marcelo passaram por audiência de custódia no último sábado (29), onde a Justiça Federal converteu a prisão em flagrante em preventiva. Também foi solicitada a quebra de sigilo telefônico do policial civil.
Flagrante e propina
A prisão ocorreu após a PF receber denúncia anônima de que uma mulher faria um saque bancário para pagamento de propina, supostamente relacionada a atividades de contrabando.
No dia 28 de novembro de 2025, a PF interceptou a transação. O ex-guarda municipal Marcelo Raimundo da Silva, investigado por crimes de contrabando e descaminho, teria efetuado o pagamento de cerca de R$ 160 mil a Augusto, em um estacionamento de supermercado em Campo Grande.
Ligação com promotora que fiscalizava forças de segurança
Augusto Torres é casado com a ex-promotora de Justiça Luciana Schenk, que atuou por anos como diretora do Gacep (Grupo especializado no controle externo da atividade policial) no Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). Durante o período em que esteve à frente do Gacep, ela chefiou investigações sobre abusos e ilegalidades envolvendo policiais.
Luciana deixou o cargo em julho de 2024. Cerca de um ano e meio depois, o marido foi preso em flagrante, o que reacendeu questionamentos sobre possíveis conflitos éticos no sistema de controle da atividade policial.
Suspeitos confessaram
Durante o interrogatório, o ex-GCM Marcelo declarou ter recebido a orientação para entregar a quantia ao policial. A transação, segundo ele, tratava-se de um “pagamento de cigarros eletrônicos”.
Já Augusto não apresentou justificativa para o recebimento dos valores, mas admitiu que o dinheiro entregue por Marcelo é oriundo da venda de produtos contrabandeados, especialmente de mercadorias apreendidas e desviadas.
Na delegacia, Marcelo confessou que participa de esquemas de contrabando e descaminho e disse já ter sido preso diversas vezes por esse motivo. Ele, inclusive, usa uma tornozeleira eletrônica por isso. Augusto afirmou ainda que outros policiais civis também estão na empreitada delituosa, mas não quis identificá-los. Os dois poderão responder pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A reportagem entrou em contato com o MPMS, a Polícia Civil, a Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social (Sesdes) e a Corregedoria-Geral, além do Garras, para solicitar manifestações sobre o episódio. Nesta segunda-feira (1º), a Polícia Civil explicou, em nota, que pediu um procedimento investigatório e abriu um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) para adotar as providências devidas.
“Cabe ressaltar que o caso diz respeito exclusivamente ao policial investigado, sem qualquer relação com a atuação do GARRAS (Delegacia Especializada de Repressão à Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros). A apuração administrativa será conduzida pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil, com independência, isenção e prioridade. A Polícia Civil reforça que não compactua com desvios de conduta de seus servidores e tomará todas as medidas cabíveis, de forma transparente e imparcial”, completou a instituição.











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