Delegado diz que acredita que a identificação e prisão de um dos envolvidos fez os vídeos pararem de circular em Bonito, na região sudoeste do estado.

Vídeos com crianças e adolescentes nuas em MS pararam de circular no WhatsApp após prisão, diz polícia

Os vídeos com crianças e adolescentes, em alguns casos nuas, pararam de circular após investigação em Bonito, na região sudoeste do estado. Ao G1 o delegado Gustavo Henrique Barros, responsável pelas investigações, disse que houve a prisão de um suspeito e demais envolvidos continuam sendo procurados.

"Ao que constatamos, este tipo de conteúdo parou de movimentar, de circular aqui na cidade. Nós ainda não tivemos mais informações e continuamos apurando, aguardando laudos também", explicou o delegado.

O conteúdo pornográfico foi descoberto há cerca de 10 dias, conforme a polícia. Entre as vítimas, também há uma menina nua de 12 anos. Tanto o homem que tinha a foto da criança, como a adolescente que criou um grupo e distribuiu as imagens, foram identificados e serão responsabilizados pelo crime.

"Estamos apurando o crime de injúria e de disponibilizar material pornográfico de criança. Um garçom de 19 anos foi identificado como a pessoa que recebeu e distribuiu a foto. Já a adolescente de 15 anos é a pessoa quem criou um grupo no WhatsApp para distribuir o vídeo. Ela não soube explicar exatamente porque fez isto e disse que era só para diversão", afirmou na ocasião o delegado.

Ainda conforme Barros, o homem foi indiciado pelos crimes. Já a garota, que mora em São Gabriel do Oeste, será ouvida por carta precatória em outra delegacia e também deve responder por ato infracional análogo aos crimes. "Ainda estamos rastreando o caminho destes vídeos e outros envolvidos podem ser identificados ao longo do inquérito", finalizou o delegado.

Outro caso
 
No início do mês de janeiro, a investigação descobriu outro vídeo envolvendo uma menina de 12 anos. Neste caso, ela está entre 19 vítimas de difamação na cidade. Segundo a polícia, a maioria das mães e responsáveis pelas vítimas já registraram boletim de ocorrência, ressaltando que tiveram as fotos copiadas das redes sociais em um vídeo, no qual são xingadas e o conteúdo foi espalhado na internet e WhatsApp.

Uma estudante e atendente de farmácia, de 18 anos, diz que recebeu o conteúdo ao ser confundida com a irmã. "Algumas conhecidas mandaram achando que eu quem estava no vídeo, mas, é a minha irmã mais nova, uma criança. E lá fala que elas são as mais 'prostitutas' de Bonito. Ela está passando férias em Campo Grande e, quando está aqui, quase não sai de casa. Isso a deixou muito triste, mas, já conversamos e explicamos que tudo será resolvido", afirmou.

Ainda conforme a irmã, a mãe da vítima já esteve na delegacia para registrar o boletim de ocorrência. "Nós nem imaginamos o motivo deste vídeo. A única coisa que vi é uma menina escrevendo um texto no Facebook, pedindo desculpas, algo que logo depois foi apagado. Por aqui, está todo mundo bem revoltado e queremos providências, pois tem muita gente comentando e compartilhando", ressaltou a jovem.

Estupro virtual
 
Além de Bonito, municípios como Sonora, Rio Brilhante e Ribas do Rio Pardo também registraram casos de difamação e estupro virtual, envolvendo adolescentes em vídeos semelhantes. Conforme a polícia, a hipótese inicial não é de um grupo organizado, porém de fatos isolados, alguns envolvendo o crime de estupro virtual. Em todos os casos, as vítimas tiveram fotos copiadas das redes sociais em um vídeo, no qual são xingadas e o conteúdo foi espalhado na internet e WhatsApp.

Em Sonora, a 366 km de Campo Grande, a apuração do ato infracional envolve uma adolescente e o namorado dela, suspeitos de criar um vídeo, em que usam fotos de diversas meninas da cidade e as difamam com músicas e xingamentos. As vítimas vão de 15 a 17 anos e a suspeita teria feito o vídeo por ciúmes, ainda conforme a polícia.

Já em Ribas do Rio Pardo, a 84 km da capital sul-mato-grossense, quatro pessoas, entre elas dois adolescentes, de 12 e 17 anos, foram encaminhadas para a delegacia, após difamarem vítimas nas redes sociais e também em grupos de WhatsApp. O indiciamento dos envolvidos ocorreu no último dia 8.

De acordo com as investigações, uma adolescente teria criado um vídeo, em que denegria várias meninas da cidade. Em seguida, um adolescente teria compartilhado na internet, o que gerou comentários ofensivos de suspeitos de 18 e 21 anos.

Um deles falou que "todas as meninas do vídeo seriam marmitas e que quem criou o grupo deveria ganhar um prêmio". Já o outro reforçou o comentário do amigo, falando que as faria de "marmitex". Revoltadas, as vítimas comentaram que as imagens tiveram grande repercussão na cidade, além de outros municípios, como Campo Grande, Água Clara e Três Lagoas, na região leste do estado.

Os jovens de 18 e 21 anos permaneceram presos em flagrante. Já os adolescentes respondem ao crime em liberdade, por conta do Estatuto da Criança e o Adolescente (ECA). Ao todo, eles respondem por 11 crimes de difamação, já que, até o momento, foi este o número de vítimas identificadas. A pena para difamação é de detenção, de seis meses a dois anos, além de multa.

Intimidade exposta
 
Conforme o delegado Wellington de Oliveira, assessor de comunicação da Polícia Civil, a primeiro passo é registrar queixa. "Por enquanto, não podemos falar em algo organizado. Nestes casos, não existe só o crime de difamar, caluniar e injuriar. Temos uma criança entre as vítimas, então quando você a chama de puta, por exemplo, está dizendo que ela transa e pratica atos obscenos. É um caso de estupro virtual, que inclusive já causou condenação em outros estados e infringe o ECA", explicou.

Nestes casos, é possível que seja feita a quebra de sigilo telefônico e telemático. "Quem propaga estes conteúdos também pratica crime, mesmo que inocentemente. Aquele que diz: vou repassar só para outras pessoas tomarem conhecimento, também está errado. Tivemos as prisões em Ribas do Rio Pardo recentemente, são casos em que extravasa o senso de intimidade e reforço que a recomendação é registrar o boletim de ocorrência", finalizou.