Os brasileiros acordaram nesta sexta com a trágica notícia da morte de dez garotos do futebol de base do Flamengo, entre 14 e 16 anos, após incêndio no alojamento irregular do CT do clube, em Vargem Grande, no Rio, onde todos eles dormiam. Há outros três feridos

 Uma tragédia atrás da outra; País chora mais mortes que poderiam ter sido evitadas

Eram todos muito jovens e sonhavam com fama e glória no futebol, mas tiveram o futuro consumido pelo incêndio que destruiu o alojamento onde viviam. A morte de dez jogadores das categorias de base do Flamengo, nesta sexta-feira, 8, no Rio, é a última de uma sequência de tragédias ocorridas no País e que poderiam ser evitadas.

Em 2013, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), deixou 242 mortos e 680 feridos - a grande maioria universitários. Em 2015, o rompimento da barragem da Samarco destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), matando 19 pessoas e desabrigando 1,2 mil. Em 2018, no centro da capital paulista, o prédio Wilton Pais de Almeida desabou e matou 7 sem-teto que moravam no local. Ainda em 2018, outro incêndio, desta vez no Museu Nacional, no Rio. Não houve mortos nem feridos, mas o desastre acabou com o mais importante acervo da ciência do País. Neste ano, há duas semanas, outra barragem se rompeu, agora da mineradora Vale, em Brumadinho. Até agora, 157 corpos foram encontrados e 182 continuam desaparecidos.

No caso do incêndio no Flamengo, a área do alojamento que pegou fogo chegou a ser interditada pela prefeitura em 2017, por falta de alvará. Segundo a gestão municipal, o local foi lacrado após a emissão de "quase 30 multas". Para o comandante do Corpo de Bombeiros, Roberto Robadey, o alojamento era um "puxadinho". A principal suspeita é que o fogo tenha começado após curto-circuito no ar-condicionado.

A sequência de tragédias desencadeou manifestação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge: "Estamos vendo uma sucessão de fatos e desastres evitáveis, preveníveis e precisamos estar atentos a eles para que as instituições de controle, fiscalização e punição realmente funcionem no Brasil". Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o ponto central é que não temos uma democracia consolidada. "A responsabilidade é a base da democracia moderna. Aqui isso não existe, todo mundo acha que pode fazer o que quiser porque não vai pagar por isso, tanto a sociedade quanto as autoridades."