Marta Soler tem muito amor pela natureza e milita pelo meio ambiente.

Turismóloga tornou-se expert em baunilha e no preparo de receitas com o seu aroma
A Vanilla planifolia é, na verdade, utilizada em menos de 1% dos alimentos com o aroma da flor. / Foto: Arquivo Pessoal

Você sabe o que é a baunilha? Já viu uma de perto? Nada a ver com a essência líquida de aroma artificial encontrada em frascos pequenos no supermercado, muito utilizada para deixar bolos, pudins, biscoitos e caldas adocicadas com aquele cheirinho bom.

Baunilha é o nome popular da Vanilla, gênero de flores da família das orquídeas, com mais de 100 espécies que podem ser encontradas em áreas tropicais. Para adentrar o mundo mágico dessas flores tão apreciadas, seja pela beleza, seja pelo perfume ou seja pelo sabor, nada melhor do que conversar com a professora Marta Soler, que as cultiva no jardim da própria residência, localizada na região da Orla Morena.

A casa é o que podemos chamar de lar sustentável, dotado de um sistema permacultural, com cisternas para coleta de água da chuva e a reutilização total de resíduos orgânicos no pomar e na horta por meio da técnica da compostagem. Para adubar as sementes e mudas, a mestra usa exclusivamente húmus de minhoca do próprio minhocário do recanto.  

Nascida em Presidente Prudente (SP), Marta fez graduação em Turismo na cidade de Santos, no litoral paulista, antes de ganhar a estrada vivendo por muito tempo em um trailer com o marido, sem endereço fixo. 

Mas a base doméstica em Campo Grande existe desde 1986, quando se mudou para o Estado. “Desbravei o Brasil em uma casa sobre rodas, carregando uma considerável bibliografia sobre plantas e a natureza”, diz Marta, que no ano de 2009 concluiu o mestrado em Desenvolvimento Local na UCDB.  

Em cada parada, além de explorar o ambiente e das descobertas por iniciativa própria, a aventureira matava a curiosidade em prosas longas e prazerosas com a população nativa do lugar. Surgiu, assim, o interesse mais específico pela flora, que não parou de crescer e fez com que Marta tenha se tornado hoje, aos 63 anos, uma grande defensora das orquídeas.  

“Eu também assimilava os saberes locais; nas expedições pelos mais longínquos rincões de Mato Grosso do Sul comecei a resgatar as epífitas [plantas que vivem sobre outras sem provocar parasitismo] que se hospedavam em árvores que estavam atrapalhando a exploração econômica”, conta Marta. 

“Atrapalhando entre aspas, né?”, provoca a ativista, que logo passou a dominar os segredos de uma culinária com uso das flores.

“Elas tombavam no solo vencidas em nome do progresso”, conta com pesar a exploradora, que foi descobrindo e se encantando por várias espécies nativas de orquídea sul-mato-grossense, e cuja nomenclatura ela sabe de cor: “As Oncidiuns, Cirtopodiuns, Cattleyas, Catasetuns… Em uma dessas incursões, a Vanilla cruzou o meu caminho e daí foi uma relação de amor que deu frutos”, desmancha-se a professora. 

“De uma pequena muda, às margens do Rio Formoso, em Bonito, atualmente já possuo cinco espécies coletadas em áreas degradadas em Mato Grosso do Sul.” Marta destaca que somente retira uma espécie do habitat natural ao constatar que a planta sofre grave ameaça.

O livro “Orquídeas de Mato Grosso do Sul” (2015), de Sergio Ostetto, cataloga 238 espécies da planta e identifica seis diferentes espécies de baunilha, inclusive a “planifolia”, a usada por Marta em suas receitas e por um seleto grupo de especialistas no assunto. 

“As lindas flores, em cachos, são polinizadas por abelhas nativas, mas, para fins comerciais e econômicos, a polinização é feita pelo homem, para que se produza maior número de bagas”, explica a professora, que, até o início da pandemia, dava aulas na pós do Instituto do Ensino Superior da Funlec (Fundação Lowtons de Educação e Cultura).

Ela ensina que, para um melhor aproveitamento da fava da baunilha, que contém os frutos do vegetal, as bagas amadurecidas devem ser desidratadas sob exposição ao sol. Ocorre, assim, um processo natural de fermentação que intensifica o cheiro e o sabor.

“Pode ser usado ao natural ou em extrato retirado da imersão de suas bagas em álcool”, afirma. “De forma amadora e apenas para consumo próprio, o cultivo é fácil e gera, sem grande dificuldade, frutos suficientes; de forma profissional, para uma viabilidade econômica, eu não saberia dizer”. (MP)

Banana ao chocolate com baunilha 

Menos de 1% de toda a baunilha empregada nos alimentos é obtida de uma orquídea Vanilla planifolia, que exala o aroma intenso e marcante cobiçado por chefs e glutões. A quase totalidade da essência artificial consumida vem do alcatrão extraído de outros vegetais. 

A baunilha pode ser utilizada em pratos doces e salgados. Seu cheiro e sabor característicos caem muito bem no preparo de sobremesas doces, exemplo de bolos e pudins, ou até na elaboração de molhos que acompanham carnes e saladas.

Aprenda a fazer:

Ingredientes  

9 bananas bem maduras;

1 xícara de chá de açúcar;  

1 pedaço de canela;

1/2 baga de baunilha;

1 lata de leite condensado;

150 gramas de chocolate em barra.

Modo de preparo

Coloque o açúcar para caramelizar. Acrescente a banana picada, a canela e a baunilha e apure o cheiro mexendo sempre. Coloque o leite condensado e mexa até desgrudar do fundo. Desligue o fogo e coloque o chocolate picado e mexa até incorporar. 

Deixe esfriar, prepare bolinhas tipo brigadeiro e passe elas no açúcar e na canela em pó. Dica: use uma pequena quantidade de raspas da vagem da baunilha no açúcar a ser polvilhado no fim da receita.