Comboios transportarão ureia da Bolívia e gigante da siderurgia já planeja terminal logístico em Corumbá.

Trens voltam aos trilhos em setembro
Vagões sucateados estão parados ao lado do Terminal Intermodal há três anos. Trilhos terão locomotivas em breve. / Foto: Valdenir Rezende/Correio do Estado

A demanda está de volta à ferrovia que atravessa Mato Grosso do Sul de leste a oeste, mas os investimentos para que a capacidade de escoamento de cargas e do trânsito de comboios seja incrementada é alvo de dura negociação. A partir do mês que vem, pelo menos 3 mil toneladas de ureia boliviana serão levadas para Bauru (SP) a partir de Corumbá, mas o interesse em transportar produtos pela ferrovia já aumenta, e a ampliação da capacidade, depende da empresa concessionária do trecho, a Rumo Logística. 

Ainda restam sete anos de concessão para a Rumo neste trecho, conhecido como Malha Oeste, mas a empresa - nas negociações com o governo federal, intermediada pelo governo de Mato Grosso do Sul - condiciona investir R$ 1,2 bilhão em melhorias na ferrovia, somente no trecho que atravessa o Estado, com a prorrogação do contrato por mais 30 anos. A Malha Oeste compreende os trilhos da centenária ferrovia Noroeste do Brasil, entre Bauru e Corumbá, passando por Três Lagoas, Campo Grande e Aquidauana, e com um ramal que liga a capital do Estado a cidades como Sidrolândia, Maracaju e Ponta Porã.

Conforme o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, há demanda para transportar 1,5 milhão de toneladas de carga, nos dois sentidos. Há mercado para o escoamento de pelo menos 500 mil toneladas de ureia, 250 mil toneladas de potássio e 250 mil toneladas de borato. Além disso, a multinacional da área de mineração e siderurgia, Arcellor Mittal, deve inaugurar, em breve um terminal de cargas em Corumbá. “A Bolívia ainda sinalizou na reunião de hoje, a implantação de um terminal de cargas em Campo Grande”, complementou Verruck. durante o evento “Diálogo para Integração Ferroviária do Brasil e a Bolívia”, realizado em Campo Grande. Houve representante dos dois países no encontro, e também das concessionárias. 

Com toda esta demanda surgindo já no curto prazo, a Rumo aproveita para pressionar o governo federal para ampliar o período de concessão da ferrovia. No governo federal, há quem tenha mais cautela, e acredite que o dever da empresa seria manter a ferrovia em boas condições de trafegabilidade, o que não existe no momento. 

O secretário de desenvolvimento de Mato Grosso do Sul falou da importância, e de uma certa urgência na retomada dos investimentos na ferrovia. “Esse é um ponto importante. A Bolívia terminou recentemente a construção de uma ferrovia de 150 quilômetros, que liga Santa Cruz a Bulo Bulo, onde fica a fábrica de ureia, possibilitando assim trazer ureia de ferrovia de Bulo Bulo até a fronteira com Corumbá e consequentemente poderia trazer até Campo Grande e para o município de Três Lagoas”, avalia. “Nós temos um forte encaminhamento para lá, principalmente, de vergalhão de ferro. Então o Brasil é um exportador e nós precisamos também melhorar essa performance”, acrescentou, e voltou a citar a inauguração do terminal de transbordo da Arcellor Mittal. 

COMÉRCIO

O comércio entre Bolívia e Mato Grosso do Sul só aumenta. Como se não bastasse a importação de uréia, que deve começar agora em setembro, e deve ganhar mais escala até a conclusão da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Três Lagoas (UFN3), em 2022, quando a substância passará a ser produzida em território brasileiro. A Bolívia, aliás, por meio de sua estatal YPFB, é sócia da Acron na UFN3. 

Além deste produto, o Brasil também passou - recentemente - a importar gás liquefeito de petróleo (GLP) do país vizinho. O GLP é o gás de cozinha. A expectativa é que o produto seja transportado em vagões da Rumo. “O GLP vem de caminhão até Campo Grande, então é mais um produto que passa pela fronteira”, explicou Verruck. 

ALFÂNDEGA 

Outro tema discutido no evento da última sexta-feira foi a modernização alfandegária. Um dos grandes gargalos neste período de comércio crescente entre Brasil e Bolívia, na fronteira de Corumbá e Porto Quijarro. “Há pouco pessoal para atender. Por isso nesta reunião foi assinado um protocolo para solucionar esta e outras situações”, afirmou. “É preciso fazer uma desburocratização, que uma pessoa possa fazer o desembaraço em São Paulo e chegar com essa documentação digitalizada para entrar na Bolívia