Volume de cocaína retido pela Polícia Rodoviária Federal aumentou; na segunda-feira, carga de 1,8 tonelada avaliada em R$ 334 milhões foi tirada de circulação.

Traficantes substituem maconha por cocaína nas rodovias de MS
Tributo federal será de R$ 0,47 para gasolina e R$ 0,02 sobre etanol. / Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

Nas rodovias de Mato Grosso do Sul, a maconha está cada vez mais perdendo o protagonismo das apreensões de drogas para a cocaína, indicam as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF). 

A maior apreensão da história da instituição nas rodovias federais do Estado, ocorrida na segunda-feira, foi o ápice desta mudança de segmento dos traficantes e, por consequência, dos policiais. 

Na segunda-feira, na BR-060, em Sidrolândia, a PRF apreendeu 1.860 quilos de cocaína em seu estado mais puro, um carregamento avaliado, conforme a polícia, em R$ 334 milhões, cuja suspeita é que seria levado, desde Campo Grande (o destino do caminhão), para grandes centros da Região Sudeste ou para o continente europeu. 

As estatísticas da PRF falam por si: apenas a apreensão desta segunda-feira foi maior do que todo o volume de cocaína que a PRF aprendeu anualmente em Mato Grosso do Sul até 2011. Naquele ano, foram retidos 1.476 quilos da droga nas rodovias federais do Estado. 

No ano passado, o volume cresceu consideravelmente: foram 10.728 toneladas de cocaína retidas nas rodovias. A apreensão desta segunda, sozinha, equivale a quase 20% de todo o volume de 2022. 

De 2019 para cá, a guinada do tráfico da maconha para a cocaína foi verificada pela PRF. Naquele ano, foram retidas 6,9 toneladas da droga; em 2020, 5 toneladas; e em 2021, 5,2 toneladas.

Para o superintendente da PRF em Mato Grosso do Sul, Augusmar Vieira Melo, a demanda do mercado consumidor, a maior renda dos traficantes obtida com a venda da cocaína e a alta produção da Bolívia são as justificativas para a guinada dos criminosos.

O que não mudou, porém, foi o uso do Estado como rota de escoamento dos entorpecentes, seja maconha, seja cocaína. 

“Além de um aumento de produção muito grande na Bolívia e de maior demanda do mercado consumidor, a otimização do trabalho de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal também contribui para o aumento das apreensões”, explicou o superintendente.

CONTRAMÃO
De 2020 para cá, a PRF tem verificado uma redução do volume de maconha apreendida, enquanto as retenções de cocaína tem aumentado. Naquele ano, que culminou com o recorde histórico de apreensões, foram tiradas de circulação 393 toneladas de maconha pela Polícia Rodoviária Federal. 

Em 2022, foram pouco mais de 206 toneladas de maconha apreendidas nas rodovias, um volume ainda significativo, conforme afirmou policial ouvido pelo Correio do Estado que atua diretamente nas investigações, mas que representa uma fração pequena do consumo no País, que também tem aumentado. 

Segundo os investigadores, a liberação da maconha para recreação em estados norte-americanos e em países europeus e a limitação do poder policial brasileiro levaram as polícias a fazer uma escolha, que claramente é centrar fogo no combate ao tráfico de cocaína. 

Isso não significa, porém, que as cargas de maconha vão circular livremente. Desde 2015, a PRF reteve mais de 100 toneladas de maconha por ano. Até aquele ano, o recorde histórico havia sido o de 2013, quando a PRF reteve 53,5 toneladas.

OS CÃES E O ACASO
Na apreensão de segunda-feira, a chegada de dois novos cães farejadores da raça pastor alemão foi fundamental para a descoberta do carregamento.

O nervosismo do motorista também contribuiu. 
A droga estava embalada em papelotes escondidos em um caminhão-tanque. O motorista, que foi preso em flagrante e levado pela Polícia Federal, disse que viajava de Jardim para Campo Grande. O caminhão era dele. 

Pelo transporte, o motorista, que estava sozinho no caminhão, disse que receberia R$ 20 mil. 

A segunda-feira, segundo contou o superintendente da PRF, era o dia de fiscalização de cargas perigosas e de combustíveis.

O nervosismo do caminhoneiro durante a abordagem no posto operacional de Sidrolândia fez com que os policiais iniciassem uma vistoria mais detalhada, com a presença dos cães.

A suspeita, depois de confirmada, resultou na maior apreensão de cocaína da história da PRF em Mato Grosso do Sul, além de simbolizar a mudança no perfil das grandes apreensões do Estado. 

Saiba: No ano passado, o volume de apreensões de cocaína cresceu consideravelmente em Mato Grosso do Sul: foram 10.728 toneladas retidas nas rodovias pela PRF. A apreensão de segunda-feira na BR-060, sozinha, equivale a quase 20% de todo o volume deste tipo de droga apreendido em 2022.