Aos 10 anos, Gabriel tem paralisia cerebral, reflexo das lesões e do sofrimento "agudo" em parto.

"Tinha tudo para ser saudável", diz avó que cobra justiça por neto com paralisia
Gabriel tem o lado direito do corpo paralisado, desde um parto ocorrido no hospital. / Foto: Direto das Ruas

Após uma primeira acusação de negligência contra a Fundação Hospitalar Costa Rica ganhar repercussão, diante da morte de um bebê sepultado com um ferimento na barriga, um novo caso veio à tona. Mas agora a espera de uma avó por justiça, dura 8 anos.

“Dói demais ver uma criança que tinha tudo para ser saudável, sofrendo desse jeito. Meu neto tem dificuldade para andar, ficou com o lado direito do corpo paralisado, não fala e se você pedir para ele desenhar uma bolinha que seja ele não consegue”, desabafa a aposentada Eucalice Ferreira Paes, de 58 anos, ao falar sobre o neto.

 
O pequeno Gabriel teve deformidade craniana no parto, seguido de uma parada cardíaca, e enfrenta as limitações físicas causadas pelo procedimento ocorrido no hospital municipal da cidade que fica a 305 quilômetros de Campo Grande.

Naquele 07 de março de 2011 Emilia Matos Guimarães, de 26 anos, chegou ao hospital sentindo fortes dores. Conforme Eucalice, durante o atendimento a orientação de um médico plantonista teria sido de que a mãe tomasse medicação para dor e soro. No entanto, segundo a avó, a paciente tomou medicação para induzir mais contrações.

A mãe teve contrações durante toda a madrugada até por volta das 7h, quando um clínico geral foi atendê-la. "Ele fez o toque e viu que o bebê ia nascer, mas como não havia obstetra no hospital, chamou outro cirurgião e um anestesista. O parto durou até umas 9h", lembra Alice. Conforme o prontuário do atendimento o bebê teve "sofrimento fetal agudo" durante o parto.

Segundo a avó os médicos teriam utilizado um fórceps, que é um instrumento de metal utilizado para auxiliar a passagem da cabeça do bebê pelo canal vaginal. Na sequência o pequeno teve uma parada cardíaca, foi reanimado e encaminhado às pressas para o Hospital Regional de Campo Grande.

No laudo de admissão no hospital, consta que o bebê foi admitido com uma deformidade craniana, a que a família atribui ter sido causada pelo uso do instrumento, anemia e síndrome de aspiração meconial, que é quando o recém-nascido aspira material fecal durante o parto. O quadro evoluiu para convulsões e Gabriel chegou a ficar por três dias internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do hospital, até ser liberado quase um mês depois da internação.

Aos 10 anos de idade, Gabriel é portador de paralisia cerebral, reflexo das lesões que ocorreram no feto durante o processo de nascimento. Ele apresenta crises convulsivas de "difícil controle" e faz uso regular de medicamentos anticonvulsionantes.

"Todo o lado direito do corpo do meu neto é paralisado, ele anda na pontinha do pé, não consegue pegar as coisas e exige cuidado integral", diz a avó. Eucalice entrou com o pedido de guarda do neto, cerca de um ano depois do nascimento, depois que o Conselho Tutelar retirou a guarda da mãe, que tinha problemas com álcool.

"Meu filho também ainda era muito novo então eu decidi criar o Gabriel para poder dar a atenção que ele precisava", conta. Dois anos após o parto a família do bebê entrou com um processo contra o hospital, pedindo indenização de R$ 250 mil e pensão. Mas desde então a ação caminha passos lentos.

"Estamos esperando por justiça até porque a indenização vai ajudar a dar uma condição de vida melhor para o meu neto", completa. A avó conta que só com a medicação de Gabriel, gasta entorno de R$ 400,00.

O processo tramita em segredo de justiça na 1ª Vara Criminal de Costa Rica. A família aguarda a designação de uma perita em Chapadão do Sul, para examinar a atual condição do garoto e repassar à avaliação à justiça. Contudo, ainda não há previsão de audiência sobe o caso, apurou a reportagem.

O hospital - Procurada pela reportagem a diretora da Fundação Hospitalar de Costa Rica, Rogeria Eiks Paes Barbosa, se resumiu a informar que na época do parto do bebê "não estava na direção do hospital", sem citar detalhes do caso na justiça.

Outro caso - A Fundação Hospitalar de Costa Rica é alvo de uma outra acusação de negligência. No último dia 30 de setembro o pequeno Otávio morreu na barriga da mãe, mesmo com a gestação ocorrendo normalmente segundo a família. Durante o enterro da criança o pedreiro José de Araújo Canuto, de 34 anos, pai do bebê, notou um corte no peito e uma ferimento na barriga do bebê. Um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil e um processo administrativo foi aberto para averiguar as circunstâncias do parto.