
Depois de pesar 178 kg, Lígia Cristina Correa, de 35 anos, moradora de Mogi das Cruzes (SP), decidiu mudar radicalmente seu estilo de vida por causa da obesidade. Ela emagreceu 44 kg em nove meses apenas com uma mudança dos hábitos alimentares. Esse passo foi essencial para ela se submeter a uma cirurgia para redução de estômago, com a qual perdeu mais 50 kg.
Obesa desde criança, Lígia afirma que evitava até mesmo andar de ônibus por medo de não passar na catraca. "Eu continuo não pegando ônibus, mas agora é porque gosto de caminhar para manter a minha forma", conta aos risos.
Lígia trabalha como auxiliar de desenvolvimento infantil em uma creche de Mogi. Ela conta que desde a infância teve problemas com o peso, mesmo fazendo atividades físicas. “Eu fazia jazz, natação e ginástica, mas sempre fui obesa porque a família do meu pai tem esse histórico. Na adolescência, eu fui engordando e deixei de lado os exercícios.”
Aos 10 anos, Lígia já pesava em torno de 60kg. Com alimentação desregrada, ela chegou a pesar 178 kg. “Eu não tinha noção do meu peso porque eu não me pesava. Eu sabia que era obesa, mas achava que estava pesando 160 kg.”
A decisão para a cirurgia de redução de estômago veio depois de descobrir que sofria de erisipela na perna, uma inflamação na pele. “Eu tinha medo e receio da cirurgia bariátrica. Para mim, eu estava bem. Quando eu soube desse problema de erisipela, há dois anos e meio, eu comecei a me tratar com um médico vascular. Ele ficou falando por um ano na minha cabeça e eu relutava. Teve uma hora que a minha perna piorou e foi quando eu me olhei no espelho e pensei ‘tenho que fazer alguma coisa’.”
Apesar do peso, Lígia conta que mantinha uma rotina normal de trabalhar e sair com os amigos, mas, por trabalhar com crianças, às vezes ouvia alguns comentários sobre eu corpo. “Eu ia para a praia de maiô e bermuda. Eu ficava meio constrangida e sem graça.”
Em fevereiro de 2014, quando fez a primeira consulta com o cirurgião do aparelho digestivo e bariátrico, Jaime Teles, quase que Lígia desistiu. O médico pediu que ela perdesse 17 kg antes da cirurgia, porque com seu peso o procedimento seria arriscado. "A cirurgia é indicada para as pessoas que estão mais de 40 kg acima do peso ideal. Nos casos em que a obesidade está relacionada a doenças, como hipertensão e diabetes, a cirurgia pode ser feita quando o paciente está acima já de 30 kg. A perda de 10% do peso antes da cirurgia é recomendada para diminuir as chances de complicações. Além disso, faz com que o paciente já vá se acostumando com a perda de peso", explica o cirurgião.
A cirurgia
Teles explica que o procedimento cirúrgico é indicado para as pessoas obesas (com 40 kg acima do peso ideal - ou 30 kg que apresentam doenças relacionadas) que estão em tratamento convencial, com nutricionistas e endocrinologistas, há mais de dois anos, sem resultados. Durante a preparação, o paciente é submetido a exames de sangue, diabete, cardiológicos, ultrassom de abdômen, além de avaliar a situação pulmonar, a função dos rins, fígado e se sofre de anemia.
Os pacientes também são acompanhados por nutricionistas e psicólogos. "A psicóloga vai trabalhando o emocional do paciente e a autoestima para que eles encontrem o que procuram depois da cirurgia. A nutricionista tem um trabalho antes e, principalmente depois da cirurgia. Os pacientes ganham um cardápio e vão evoluindo a cada mês."
"Eu tirei praticamente metade de mim e me vejo completamente diferente."
Ligia Cristina Correa
Disposta a cumprir a determinação médica, a alimentação saudável foi a grande responsável para que Lígia eliminasse 44 kg antes da cirurgia, sem fazer exercícios físicos. “Eu não era regrada quando saia para trabalhar, comia aquilo que era mais prático e não jantava. Eu cortei o pão francês. A margarina, o requeijão, era tudo light, e comecei a comer verduras e legumes. Isso tudo foi por conta própria, eu fui pesquisando e fazendo a minha dieta”.
Lígia se espantou com seu peso quando precisou fazer um exame um mês depois das mudanças de hábitos alimentares. “Deu 9 quilos a menos e eu não acreditava nisso. Dois meses depois, quando eu voltei ao médico, já tinha eliminado 14 kg.”
Depois de nove meses de "gestação" e espera, a cirurgia aconteceu em novembro de 2014. Até hoje, ela se emociona em falar sobre o dia em que foi para o centro cirúrgico e do corpo que tinha. “Para mim é difícil até hoje falar sobre isso. Mas hoje eu vejo que a cirurgia foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida”.
"Os pacientes são estimulados a perder peso para entender como será a nova alimentação depois da cirurgia e também para ajudar na recuperação depois da cirurgia. A Lígia fez até mais! Ela foi trabalhando em cima da decisão dela de perder o peso e conseguiu uma coisa fantástica em dois meses", relembra Teles.
O médico Jaime Teles explica que o procedimento realizado em Lígia consiste em uma cirurgia mista. O estômago dela antes comportava até 1,5 litro de comida. Depois do procedimento, a capacidade estomacal caiu para 30 mililitros. Para efeito de comparação, 30 mililitros é o equivalente à três copinhos de xarope."O bypass deixa o estômago menor, ou seja, é uma cirurgia restritiva, e também é feito um desvio intestinal. Para não ter problemas nutricionais, não interferimos muito naquilo que o organismo vai absorver, é mais na quantidade de comida que a pessoa pode comer."
Bem-estar
Além do corpo, Lígia conseguiu melhorar sua autoestima. Depois de dois meses, ela começou a frequentar a academia. “Eu entrei para a academia pesando 112 kg e fazia só musculação porque tinha vergonha de fazer as outras aulas. Eu vinha três vezes por semana e ficava no máximo duas horas. Hoje eu conheço a academia inteira e chego por volta das 7h30 e vou embora quando é quase 12h. Eu praticamente moro aqui, eu já me sinto em casa e conheço todo mundo", conta novamente, dando risadas.
Ao 35 anos, Lígia agora pesa 84 kg. Atualmente, além da musculação, ela faz aulas de zumba, pilates, estepe, alongamento, bike, jump e muay thai. “Eu não queria estacionar e fui buscando outras coisas. Às vezes acho que faço demais, mas eu me sinto bem.”
O acompanhamento médico não acabou após a cirurgia. Até hoje Lígia frequenta um grupo de pacientes que já passaram e que irão fazer a cirurgia bariátrica para troca de experiências. O seu desempenho, segundo o próprio médico, serve de exemplo para quem vai começar a enfrentar o caminho de mudanças. "Ela está tão motivada que não parou até hoje. Ela conseguiu canalizar o prazer de comer para a atividade física e está muito feliz", afirma o médico.
O próximo passo será a cirurgia reparadora no abdômen e a plástica para a retirada da pele. Vestido ela conta que ainda não usou, mas agora está feliz com o novo guarda-roupa. “Eu estou fazendo o máximo que posso. Eu tirei praticamente metade de mim e me vejo completamente diferente. Eu uso 20 números a menos: do 64 hoje eu pulei para o 44. Antes a roupa me escolhia, agora eu posso escolher a roupa que quero vestir. A vaidade aumentou e eu comecei a sair mais e não sinto tanta vergonha.''
Olá, deixe seu comentário!Logar-se!