Peixe do Bioparque Pantanal foi levado a hospital veterinário para bateria de exames após apresentar alteração em seu comportamento

Tinha convênio? Peixe que fez tomografia não ‘furou fila’ do SUS em MS
Peixe do Bioparque Pantanal foi levado a hospital veterinário para bateria de exames após apresentar alteração em seu comportamento

Peixe em tomógrafo da UFMS - (Foto: Maria Fernanda Balestieri)
Notícia de que um peixe da espécie cachara realizou uma tomografia gerou revolta desnecessária nas redes sociais nesta terça-feira (16) em Campo Grande (MS). Isso porque alguns campo-grandenses ignoraram a informação de que o procedimento foi feito em um Hospital Veterinário da Capital e acusaram o animal de ter “furado a fila” do SUS.

Sem se ater aos pormenores, detalhadamente descritos em reportagens locais, cidadãos criticaram o fato da tomografia ter sido realizada em um peixe, enquanto pacientes aguardam meses e até anos na fila para o mesmo exame de imagem.

“O povo morrendo nas filas e agora estão fazendo tomografia em peixe”, “O peixe tava na fila de espera há quanto tempo???”, “Enquanto isso, o povo espera quatro anos pra fazer esse exame”, “Quanta atenção pra um peixe, enquanto crianças e idosos fazem filas nas Upas”, “Curiosa saber qual o convênio dele. Muito bom”, “Vai uma pessoa precisar desse exame” e “Nem a população da cidade consegue fazer uma tomografia dessa” foram alguns entre centenas de comentários indignados.


 


Peixe não “furou fila” do SUS
Contudo, uma coisa não tem nada a ver com a outra, já que o cachara foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, utilizado pelo curso de Medicina Veterinária da Instituição. Ainda que as reportagens tenham especificado sobre o atendimento na UFMS, internautas revoltados optaram por condenar a ação.

O tema gerou discussão e houve quem se propusesse a “desenhar” o que já estava escrito em todos os cantos para aqueles que quisessem ler.

“É hospital VETERINÁRIO. O peixe não retirou prioridade de nenhum paciente que esteja no SISREG (Sistema de Regulação. O Bioparque tem feito um excelente trabalho na conservação do meio ambiente. Estudar significa entender e melhorar manejo não só dentro do Bioparque, mas fora também”, pontuou Naina Dibo, pescadora esportiva.

“O estudo desse caso pode vir a salvar muitos outros peixes que possam passar pela mesma condição. Se souberem o que se passa com esse, pode ser que milhares de outros não passem, não adoeçam e se multipliquem e mto nos nossos rios”, acrescentou a pescadora, pacientemente.

Por que o peixe do Bioparque Pantanal fez exame de tomografia
Integrante do plantel do Bioparque Pantanal, o peixe (Pseudoplatystoma fasciatum) passou por uma bateria de exames em Campo Grande (MS) na última segunda-feira (15). Atendido no Hospital Veterinário da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o exemplar é o primeiro peixe a realizar uma tomografia computadorizada na Instituição.

Ainda pouco explorada, a realização de exames de imagem nesse tipo de animal tem se tornado cada vez mais importante para identificar, por exemplo, alterações reprodutivas, anatômicas e metabólicas.

Aliás, esse é o motivo pelo qual o cachara foi parar no hospital: uma possível alteração em seu metabolismo. É que, nos últimos meses, o exemplar parou de comer adequadamente e, nem com mudanças propostas em sua dieta, voltou a se alimentar direito.

Peixe em tomógrafo na UFMS – (Fotos: Maria Fernanda Balestieri)
Detalhes da tomografia realizada no peixe
Apresentando perda de peso constante, o peixe então foi submetido à ultrassom e tomografia para melhor investigação acerca das possíveis causas por trás da recusa de comida.

Com os resultados, que devem sair em breve, a equipe veterinária do Bioparque Pantanal espera entender o que fez o animal parar de comer. A suspeita inicial é de que haja alguma obstrução em seu sistema digestivo.

A equipe de veterinários teve toda a preocupação com os parâmetros de temperatura de água, oxigenação e bem-estar do cachara. Desde o transporte até a realização do exame, que foi realizado com o animal fora da água. Uma estrutura foi construída para possibilitar a circulação da água, mantendo sua respiração braquial.

Após o procedimento, o exemplar foi levado de volta ao Bioparque, onde permanece saudável e em quarentena enquanto os resultados não ficam prontos.

A UFMS já havia feito ultrassons em outros peixes, mas tomografia não. Inédito até então, o procedimento mobilizou profissionais e estudantes da Universidade Federal, além de servidores do Bioparque Pantanal.