Satisfação a estranhos. Está aí uma coisa que você não tem o dever, mas se sente na obrigação de fazer. Postei no Facebook uma experiência que acreditava que somente eu e toda minha distração protagonizávamos: nunca saber aonde raios estacionei o carro.

Quem me conhece de perto sabe que tenho um grande problema de senso de direção, não sei chegar aos lugares, mesmo aqueles em que já fui inúmeras vezes. Mas quando se junta isso às voltas no shopping por exemplo, sinto que fui acometida de uma amnésia momentânea.

Porta afora me vem um branco à cabeça. Não estou nem falando de setor, fileira. Mas de saída mesmo. Sou tão convincente no meu esquecimento que já fiz minha mãe procurar o carro comigo na Riachuelo, quando na verdade havíamos estacionado na Praça de Alimentação.

Dou o exemplo do shopping porque é onde isso fica mais evidente e quando frequentemente, tenho plateia. É sempre a mesma coisa: ando, ando, fico na pontinha dos pés (em vão se tratando da minha estatura) tentando enxergar o carro. Nas andanças entre as fileiras é que percebo, lá pela segunda ou terceira volta, que um motorista angustiado me segue. O coitado acredita que vai conseguir estacionar na minha vaga. Aí é que chega a hora de esclarecer a alguém que nunca vi na vida, o quanto não presto atenção na hora de estacionar.

Num sorriso sem graça de quem esconde a culpa pela distração, falo: "amigo, não adianta me seguir que eu não tenho ideia de onde larguei o carro. Eu sempre esqueço, não sei nem se estou na saída certa". Nunca ouvi xingamentos, às vezes um "ah, tá". Mas já vi algumas caras feias do tipo "tinha que ser..." 

Como já dirijo há um tempinho, criei mecanismos de defesa para enfrentar minha cabeça nas nuvens. Uso o adesivo do Campo Grande News no vidro traseiro. É uma forma de encontrar em meio a tantos veículos estacionados. Outra medida foi a escolha da cor. Quando estive na concessionária, tinha duas opções: o branco e o prata. Visto que a cidade estava lotada de carros brancos, sabia que NUNCA MAIS acharia o meu. Fiquei com o prata, mas sofro do mesmo jeito. 

Mesmo quando o motorista em busca da vaga não devolve o sorriso, eu não perco o bom humor. Até na chuva, já cheguei ensopada no carro de tantas voltas e nem assim aprendo. 

Ao postar a experiência no Facebook não me senti só. Pelo contrário, as dezenas de comentários foram solidários à minha distração e vi que tem casos bem piores. Eu, por exemplo, nunca chamei a Polícia e nem os seguranças do shopping por achar que o carro havia sido furtado.

Por sorte, a chave do meu nunca abriu a de outro veículo, eu até tentei entrar por várias vezes no carro errado. Mas nunca deu certo. Senão, era bem capaz de eu ir embora com o automóvel que não me pertence. Em meio aos comentários, surgiram algumas dicas que resolvi elencar aqui:

"Aciono o alarme e ele grita onde está. O carro que me acha. Tenho o mesmo problema. Deus não me deu 2 coisas: bússola e estopim...", brinca a oficial de Justiça Dercyr Fertonani. 

"Coloquei uma fitinha amarela na antena do meu carro, participando de uma campanha, que hoje nem sei mais do que, porém me ajuda bastante neste problema", afirma a funcionária pública Regina Colman Jorge.