Decisão de Donald Trump começou a valer em 6 de agosto, entretanto, medida foi revogada em novembro
Um dos principais fatos geopolíticos de 2025 repercutido mundialmente, foi o tarifaço de Donald Trump sobre o Brasil. As exportações de produtos brasileiros como carne, café e frutas foram taxadas em 50%. Entretanto, a tarifa que passou a valer em 6 de agosto, foi reduzida pelo presidente americano em 20 de novembro. A medida de impor tarifas nos alimentos fez com que Mato Grosso do Sul abrisse novos mercados e produtores se reiventaram.
O motivo do tarifaço
As manifestações de Trump envolveram alegada perseguição política pelo Judiciário ao ex-presidente Jair Bolsonaro — julgado no STF (Supremo Tribunal Federal) junto a outros réus por tentativa de golpe de Estado.
Além disso, o governo norte-americano aplicou sanções a alguns ministros do STF, onde decisões contra plataformas digitais dos EUA desagradaram os acionistas das big techs.
Embora os Estados Unidos não sejam o maior parceiro comercial do Brasil, são o destino principal de produtos como laranja e aço, além de grandes compradores de carnes. A indústria local, inclusive em Mato Grosso do Sul, dividiu-se sobre os efeitos das tarifas.
Clã Bolsonaro
Com a desculpa de “o Brasil não está sendo bom para gente” o tarifaço foi inflamado por um dos filhos de Jair Bolsonaro, o deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro. Atualmente, ele mora nos EUA e por meio das redes sociais ele chegou a pedir aos brasileiros agradecerem pelo tarifaço de 50% de Donald Trump. “Povo brasileiro, vamos fazer o mundo ouvir a nossa voz. Coloque o seu agradecimento ao Presidente Donald Trump abaixo e vamos rumo à lei Magnistky”, disse na época, o parlamentar licenciado.
Eduardo e seus aliados mobilizaram esforços junto ao Congresso norte-americano para que a Lei Magnitsky fosse usada com o objetivo de propor sanções contra autoridades acusadas de violar liberdades individuais de cidadãos americanos ou de pessoas em território dos EUA.
Um dos principais alvos da iniciativa foi o ministro do Alexandre de Moraes, do STF, cujas decisões têm sido criticadas por setores da oposição no Brasil.
Tentativa de negociações por senadores de MS
Enquanto o clã Bolsonaro ‘atrapalhava’ ainda mais a situação, entraram em cena dois senadores de Mato Grosso do Sul na tentativa de pelo menos aliviar a situação: Nelsinho Trad (PSD) e Tereza Cristina (PP) foram em uma comitiva com mais quatro senadores aos EUA.
A partida para terras americanas ocorreu em 25 de julho. Lá, os senadores se encontraram com congressistas americanos em agendas que começaram no dia 28 do referido mês. A comitiva voltou ao Brasil em 1º de agosto.
As agendas envolveram reuniões na Embaixada do Brasil, em Washington (DC), enquanto na parte da tarde o grupo foi à sede da U.S. Chamber of Commerce.
Lá eles se encontram com lideranças empresariais e representantes do Brazil-U.S. Business Council (Conselho de Negócios Brasil-EUA, em tradução live).
Fim das reuniões e sentimento de dever cumprido
Com o fim das reuniões em solo americano, Nelsinho fez uma avaliação da missão do Brasil. “Conseguimos reaquecer a diplomacia, a necessidade de manter o canal de diálogo. Não temos como negociar diretamente, mas podemos abrir caminhos para conseguirmos uma relação e facilitar tratativas. Não tinha a intenção de sair daqui com tudo resolvido. Fizemos o que está conforme a nossa competência”, disse o senador na época.
Tereza Cristina explicou que a comitiva abriu portas e quebrou o gelo com o parlamento e empresários. “Temos sensação do dever cumprido. Todos nós. Viemos azeitar as relações com os parlamentares, fizemos um convite para que vão ao Brasil conversar. Esse não é um assunto que se encerra”, disse.
‘Batida de martelo’ sobre o tarifaço
Em 30 de julho, Trump assinou o decreto que confirmava a taxação de 50% sobre importação de produtos brasileiros. Conforme o texto, a taxa passou a valer em 6 de agosto.
O comunicado oficial da Casa Branca trazia que “as ações recentes do governo do Brasil ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos. Membros do Governo do Brasil tomaram medidas que interferem na economia dos Estados Unidos, infringem os direitos de livre expressão de cidadãos dos Estados Unidos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas. Membros do Governo do Brasil também estão perseguindo politicamente um ex-presidente do Brasil, o que está contribuindo para o colapso deliberado do Estado de Direito no Brasil, para a intimidação politicamente motivada naquele país e para abusos de direitos humanos”.
Quais produtos foram taxados?
Mas, apenas no dia 6 de agosto, o governo americano deixou claro quais produtos foram taxados. Houve uma taxação extra que impactou a venda da carne bovina, enquanto, livrou outros produtos mais vendidos por Mato Grosso do Sul aos norte-americanos.
Conforme o texto do documento oficial divulgado pela Casa Branca, a celulose e o ferro-gusa não tiveram a taxação adicional de 40%, que já soma a taxa de 10% de exportação ao país.
A lista também livrou 694 produtos, que mantiveram tarifa de 10%, já aplicada atualmente de forma recíproca entre os países. Desta forma, ficaram de fora do tarifaço o suco e a polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes.
Também ficaram de fora do tarifaço produtos como polpa de madeira, metais preciosos, energia e produtos energéticos e fertilizantes.
No entanto, café, frutas e carnes, que possuem grande volume de exportação para os EUA, não ficaram entre as exceções aplicadas e foram taxados com a porcentagem extra.
Mercado interno
Depois do tarifaço aplicado, frigoríficos sul-mato-grossenses habilitados para exportação suspenderam a produção de carne destinada aos Estados Unidos.
Conforme o vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Alberto Sérgio Capucci, o pedido partiu dos próprios importadores americanos, que solicitaram a suspensão dos embarques devido às incertezas no comércio exterior.
A decisão, portanto, implicou em algumas mudanças na rota. Segundo Capucci, cada empresa avaliará novas possibilidades e poderá redirecionar a produção para outros países.
Assim, a medida de suspensão poderia baixar o preço da proteína no mercado interno. O Governo de Mato Grosso do Sul vê como grave a perda de competitividade das cadeias produtivas do Estado com o tarifaço.
Abertura de novos mercados
Oitenta dias depois do início do tarifaço, Mato Grosso do Sul precisou se adaptar para não amargar prejuízos. Assim, mesmo vendendo menos aos EUA, o Estado registrou alta de 3,7% nas exportações totais entre julho e setembro.
De acordo com a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), mesmo diante de um cenário global desafiador, o agronegócio sul-mato-grossense “tem demonstrado resiliência e capacidade de adaptação.”
Quando consideradas as vendas internacionais de janeiro a setembro de 2025, as exportações do agronegócio de Mato Grosso do Sul para os Estados Unidos totalizaram US$ 373,5 milhões.
Esse resultado representa uma leve retração de 1,9% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados US$ 380,8 milhões.
Alguns setores tiveram crescimento
Por outro lado, teve setor que registrou crescimento nas vendas internacionais. “A tilápia, por sua vez, alcançou US$ 7,3 milhões e 1,4 mil toneladas em exportações no acumulado do ano, com setembro registrando a maior receita mensal da série para o mercado norte-americano”, afirma a consultora técnica de economia da entidade, Eliamar Oliveira.
Outro setor que seguiu positivo em setembro foi o da carne. “A carne bovina aumentou as vendas para os americanos em receita e volume, no acumulado do ano, mesmo com a redução de exportações nos meses de agosto e setembro”, detalhou Eliamar.
Segundo a Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), o setor não registrou prejuízos com o tarifaço e os números da exportação falaram por si. “Hoje, Mato Grosso do Sul tem a melhor cotação de boi China do país”, completa a Acrissul.
Boi China é o termo usado para caracterizar o gado de corte brasileiro que atende aos requisitos sanitários e de qualidade da China para exportação. Ou seja, atualmente, o boi gordo mais valorizado é o de MS.
Ligação entre Lula e Trump
Mesmo com tudo isso acontecendo, apenas em 6 de outubro o presidente brasileiro e Trump conversaram por telefone. Durante a conversa, Lula pediu ao presidente dos Estados Unidos pela retirada do tarifaço imposto contra o Brasil.
Em nota divulgada no dia do telefonema, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil) confirmou a conversa entre Lula e Trump e ressaltou que a ligação durou cerca de 30 minutos e que foi Trump quem ligou para Lula.
A Secom disse que os dois presidentes “relembraram a boa química que tiveram em Nova York por ocasião da Assembleia-Geral da ONU” e “reiteraram a impressão positiva daquele encontro”.
Encontro presencial
Vinte dias depois do telefonema, Lula e Trump se encontraram presencialmente, no dia 26 de outubro, em Kuala Lumpur, na Malásia. O encontro durou cerca de 50 minutos e ocorreu durante a realização da 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Durante a reunião, Lula disse que não há razão para desavenças com os Estados Unidos e pediu a Trump a suspensão imediata do tarifaço contra as exportações brasileiras, enquanto os dois países estiverem em negociação.
Suspensão das tarifas
Então, 25 depois do encontro entre os dois presidentes, o governo dos Estados Unidos suspendeu no dia 20 de novembro a tarifa adicional de 40% aplicada sobre parte dos produtos agrícolas brasileiros.
A decisão retira a sobretaxa de itens relevantes para o agronegócio nacional, incluindo café e carne bovina.
A medida ocorreu em meio ao avanço das negociações entre Washington e Brasília. No documento divulgado pela Casa Branca, Trump cita a conversa telefônica com Lula, ocasião em que ambos concordaram em abrir tratativas para rever o tarifaço.
Segundo o governo americano, o progresso do diálogo tornou desnecessária a cobrança para determinados produtos.
A suspensão teve efeito retroativo e, assim, todas as mercadorias retiradas de armazéns para consumo a partir das 12h01 (horário de Nova York) de 13 de novembro serão isentas.
Comemoração
A revisão das tarifas foi comemorada por parlamentares de Mato Grosso do Sul, que integram a linha de frente das articulações bilaterais.
Nelsinho Trad (PSD) afirmou que a suspensão beneficia produtores, exportadores e a geração de empregos.
Já a senadora Tereza Cristina (PP) classificou a suspensão como “uma notícia positiva e um início de alívio para nosso agro”. Ela citou, entre os produtos beneficiados, café, carne, castanha-do-pará, açaí e banana.











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