Só raça não basta! São Paulo joga pouco e se complica; veja análise
Calleri teve poucas chances, e Kardec quase não apareceu na partida / Foto: Marcos Ribolli

Edgardo Bauza passou os últimos dias prometendo que o São Paulo “deixaria tudo no campo” para vencer o Atlético Nacional. Não há dúvida de que isso aconteceu. O Tricolor correu muito, brigou por cada lance como se fosse o último da partida no Morumbi. Mas faltou futebol para vencer a primeira semifinal da Libertadores. Faltou Ganso.

O São Paulo acelerou demais o ritmo no início da partida. Sem seu principal articulador, o time apostou tudo na velocidade pelos lados e encontrou um adversário muito bem posicionado no esquema 4-1-4-1. Bauza liberou Thiago Mendes e empurrou Ytalo para a área, ao lado de Calleri. O Tricolor ficou sem criação pelo meio e facilitou o trabalho colombiano.

A ausência de Kelvin também foi sentida. O São Paulo não tem no elenco um jogador com as mesmas características para driblar e abrir a defesa rival. Wesley entrou na função e fez uma péssima partida. Errou passes, perdeu praticamente todos os lances individuais e acabou com o corredor feito por Bruno.

O Atlético Nacional passou o jogo armando aquilo que conseguiu nos minutos finais. Apesar das saídas de Ibarbo e Copete antes da primeira semifinal, a equipe de Medellín ainda se mostrou muito forte, à espera de um erro rival para puxar um contra-ataque certeiro. Não é por acaso que faz grande campanha na Libertadores e está muito perto da final.

O São Paulo só cresceu no fim do primeiro tempo. Melhorou quando tocou a bola com mais calma e passou a apertar a saída de bola. Ainda assim, não foi o bastante para abrir vantagem. Armani espalmou um forte chute de Michel Bastos, a melhor chance criada pelo Tricolor em 45 minutos.

Edgardo Bauza também tem sua parcela de culpa. O São Paulo voltou para o segundo tempo sem mudanças na escalação e na postura. Quando mexeu, o treinador fez o básico: tirou Ytalo, colocou Alan Kardec. E nada aconteceu. Apenas aos 25 ele realizou uma mudança (um pouco) corajosa com a entrada de Daniel, mas tirou João Schmidt, que fazia boa partida.

O chute de Michel Bastos que Armani pegou, aos 27 minutos, foi a última oportunidade criada pelo São Paulo. No lance seguinte, Maicon, o novo ídolo da torcida, cometeu um erro infantil ao empurrar a cabeça de Borja na frente do árbitro. Foi expulso diretamente e acabou com qualquer chance de o Tricolor vencer. Pior ainda...

Bauza optou por colocar um volante – Hudson – no lugar de Wesley e não conseguiu fechar o buraco na zaga. Pior, o time recuou em seu campo, deixou de atacar e permitiu que o Atlético Nacional tocasse a bola incansavelmente.

– Eu poderia ter feito uma mudança defensiva, mas tínhamos que ganhar a partida. Poderia ter entrado o Lugano no lugar de um atacante, mas tínhamos que ganhar. O Mena ficou um tempo como zagueiro, depois coloquei o Hudson, mas era mais complicado porque o Nacional controla muito bem a bola e teve mais espaços – explicou Bauza na entrevista coletiva.

Os colombianos fizeram os últimos dez minutos de forma exemplar. Com paciência, trocaram passes na intermediária e aceleraram o jogo perto da área. Desprotegido, o São Paulo foi envolvido facilmente na defesa diante de um time muito consciente do que estava fazendo. Borja marcou duas vezes em lindas jogadas e colocou o Nacional bem perto da final.

Ao São Paulo caberá sonhar com uma classificação improvável. O Tricolor, que não fez dois ou mais gols em nenhum jogo como visitante nesta Libertadores, precisa vencer por três de vantagem para avançar à decisão. Só garra não será suficiente.