A greve foi mantida apesar da pressão do vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, desembargador Cezar Palumbo Fernandes, que ganhou R$ 62,6 mil em novembro deste ano.

Sem salários, motoristas mantêm greve apesar da pressão de juiz que ganha R$ 62 mil por mês
Motoristas decidem manter paralisação porque continuam sem o restante do salário de novembro e perspectivas de receber o vale e o 13º. / Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

Sem receber o restante dos salários de novembro e sem perspectiva de receber o vale e o 13º, os motoristas decidiram manter a paralisação do transporte coletivo e Campo Grande deve entrar, nesta quarta-feira (17), pelo 3º dia consecutivo sem ônibus urbano. A greve foi mantida apesar da pressão do vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, desembargador Cezar Palumbo Fernandes, que ganhou R$ 62,6 mil em novembro deste ano.

Apesar de não garantir o pagamento dos salários, o juiz do TRT24 aumentou a pressão sobre os trabalhadores para forçar a volta dos ônibus urbanos, mesmo que parcialmente, às ruas. Ele elevou a multa diária para R$ 200 mil para forçar o encerramento da greve.

Na audiência de conciliação, o magistrado não procurou garantir o pagamento dos salários dos trabalhadores transporte coletivo. Em média, o salário do motorista não chega a 10% do valor pago ao desembargador do TRT24.

 
O diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, afirmou que precisa de R$ 1,3 milhão para quitar a folha de novembro. Os motoristas receberam apenas 50% do valor com sete dias de atraso. As empresas já anteciparam também que não possuem dinheiro para quitar o vale nem a 2ª parcela do 13º no próximo sábado (20).

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande, Demétrio Freitas, frisou que a categoria só encerra a paralisação, que deve entrar no 3º dia, com o pagamento dos salários. Os motoristas não estão exigindo reajuste nem outro benefício, apenas receber o salário pelo trabalho executado.

Mesmo sem apresentar meios para garantir o pagamento dos trabalhadores, o desembargador Cezar Palumbo Fernandes elevou a pressão sobre os trabalhadores. Ele afirmou que a greve é direito constitucional, mas é preciso respeitar a legislação e garantir 70% do efetivo em atividade por se tratar de serviço essencial.

O vice-presidente do TRT24 fixou inicialmente multa diária de R$ 20 mil em caso de manutenção de 100% da greve. Em seguida, ele elevou a multa para R$ 100 mil. Na audiência de conciliação, o desembargador do trabalho aumentou a pressão e dobrou o valor da multa para R$ 200 mil por dia.

Não houve pressão da Justiça do Trabalho sobre o município ou o consórcio para garantir o pagamento dos salários dos 1,1 mil trabalhadores do transporte coletivo. O magistrado foi enfático e determinou a definição de uma escala de greve:

70% dos ônibus devem circular das 6h às 8h30
50% devem circular das 8h30 às 17h
70% devem circular das 17h às 20h
50% devem circular das 20h à meia-noite.
Adriane aparece para acusar empresa
Na primeira manifestação pública sobre a greve, a prefeita Adriane Lopes (PP) apareceu para discursar contra o Consórcio Guaicurus. Ela reiterou que pagou os repasses devidos pela prefeitura e negou que haja atraso no pagamento.

Durante audiência, Themis de Oliveira, segundo o Midiamax, rebateu e reafirmou que a gestão de Adriane deve R$ 4,8 milhões referente ao subsídio da gratuidade do passe do estudante. O valor se refere ao atraso nos pagamentos de agosto, setembro, outubro e novembro.

Adriane também disse que tomou medidas administrativas e judiciais para acabar com a paralisação. No entanto, o fato é que a paralisação continua.

No comércio, segundo o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas, Adelaido Vila Figueiredo, o prejuízo com a greve já supera R$ 20 milhões. Ele ainda lamentou porque empresários estão sendo obrigados a pagar transporte por aplicativo para abrir as lojas.

O presidente da Federação das Indústrias, Sérgio Longen, também criticou a paralisação e lamentou os efeitos sobre a indústria de Campo Grande.

Supersalário
Responsável por pressionar os trabalhadores, o desembargador Cezar Palumbo Fernandes ganha R$ 62.692,86 por mês, de acordo com o Portal da Transparência do TRT24. Em novembro, mês que os trabalhadores do transporte coletivo só receberam 50%, o magistrado teve subsídio de R$ 41,845,49, verba indenizatória de R$ 15.732,92 e gratificação de R$ 5.114,45. O valor líquido pago ao magistrado foi R$ 50.460,34.

Na gestão de Alcides Bernal (PP), quando houve a greve dos garis, a Justiça determinou o sequestro de dinheiro da prefeitura e garantiu o pagamento dos salários dos trabalhadores para encerrar a paralisação. Na época, o progressista chiou, mas houve preocupação do Poder Judiciário em garantir o pagamento dos salários dos funcionários da Solurb.