A gravação foi realizada em 2018, após receber o convite da produtora para interpretar um índio da etnia Xavante

Sem nunca atuar, indígena de MS vai parar na série “O Hóspede Americano”
A gravação com a participação de Tauã ocorreu em 2018 / Foto: Arquivo

Sem nunca ter entrado em um set de gravação profissional, o indígena Tauã Ferreira da Silva Terena foi chamado para atuar na série “O Hóspede Americano”, do canal HBO.

Ele tem 27 anos, mora em Aquidauana e recebeu o convite em 2018 para interpretar um índio telégrafo que faz a “ponte” na comunicação entre marechal Cândido Mariano, ex-presidente americano Theodore Roosevelt e as tribos indígenas da selva amazônica. Foram quatro cenas, mas o ator teve que se virar nos trinta, entender o inglês e falar a língua xavante.

“Um terena conseguir visibilidade é muita emoção. Interpretei um índio de outra etnia, tive que aprender a falar língua. O meu personagem foi meio robótico, pois sirvo Rondon e sou militar, tenho minha farda. Quando o Rondon fala eu olho e escuto”, conta Tauã sobre o papel na série. A participação não tem data definida para entrar no ar.
 
Tauã foi convidado para atuar na série e precisou fazer teste antes de ser confirmado no elenco. “O pessoal da produção entrou em contato comigo, pediu para fazer uma filmagem e fui aprovado. Quando me passaram o roteiro, o pessoal falou para ficar tranquilo porque não precisaria entender muito o inglês. Mas quando cheguei lá, tive um acompanhamento. Foi uma super produção e como tinham passado as informações antes, eu já sabia onde tinha que pisar, falar, olhar”, conta.

Para conseguir ser entendido, os gestos com as mãos ajudaram. “Fazia gestos, tomava café. Depois que voltei pra cá, e a primeira coisa que me cobraram foi o idioma. No set, todos falavam inglês e às vezes a gente perde trabalho por conta disso. Estou finalizando minha graduação, quero ver isso no segundo semestre”, falou.

A série da HBO se passa no século 20, e mostra da relação de Roosevelt e Rondon durante uma expedição ao Rio da Dúvida, em Rondônia. Tauã gravou quatro cenas, porém, para que tudo saísse conforme o planejado, ele precisou ficar um mês fora. “Às vezes, o diretor pedia para faz outra cena, repetir. Fui para a floresta da Amazônia. O pessoal ficou dois meses gravando, foram vários locais, Alta Floresta, Chapada, São Paulo. Mas, por conta da universidade, retornei em um mês”, disse.

A série volta a 1913, quando Roosevelt, papel do americano AidanQuinn, desembarca no solo brasileiro para realizar uma expedição após ter perdido a eleição em seu país. Roosevelt navega no Rio da Dúvida ao lado de seu guia de viagem, o pacifista militar conhecido como Marechal Rondon, interpretado pelo ator mexicano Chico Diaz. Nessa época, o ex-presidente pegou malária e pediu para que a tripulação tirasse sua vida, porém, os companheiros se recusam. Em outro momento, tentou injetar morfina em excesso no organismo, mas foi impedido por seu filho, Kermit.

Enquanto navegavam, a embarcação foi atacada por índios e passou por tribos que nunca tiveram contato com o homem branco. Tauã acredita que a série deve entrar no ar no segundo semestre deste ano. “Sei que algumas séries serão lançadas em julho e pode ser que essa seja uma delas. Mas eles não passam nada, para não vazar o material”, afirmou.
 
Na imagem à direita o pai de Tauã de azul ao lado do ator Aidan em 2019 e a esquerda seu pai também de azul com Aidan em 1991 (Foto: Arquivo pessoal)
Convite e planos - Tauã relata que participou do curta-metragem “Ele sempre esteve certo”, em Cuiabá, em 2015. “Fui chamado para fazer o curta de um cineasta cuiabano. Fiquei um tempo pra lá gravando e não tive mais contato. Foi bem simples, não era como tão profissional quanto este. A produtora ligou para esse cineasta perguntando se conhecia algum indígena para participar da série, e ele passou o meu número”, conta.

Agora, de volta a Aquidauana, o estudante tem planos e quer mostrar a cultura terena através do teatro. “Temos uma dança terena e cada passo tem um significado e a ideia é transformar esses movimentos em uma peça teatral”, disse. “Quero incentivar o teatro porque o indígena tem pouca opção, é afastado, são poucos que entram na universidade”, complementa.

O estudante diz que o teatro está na sua vida desde pequeno, mas nunca te chamou atenção. “Nem sabia que existia e de repente um amigo em comum me leva para Cuiabá e vem essa outra proposta. Meu pai participou de dois filmes, um deles é de 1991 quando esteve ao lado do ator Aidan Aquinn”, disse. Tauã mostrou as fotos do trabalho para a família. “Meu pai viu, ficou feliz e chorou”, disse.

Segundo Tauã, seu pai deixou o teatro para se dedicar a família. “Ele trabalha na Funai [Fundação Nacional do Índio] precisava se afastar para gravar, mas quando o chamaram pela terceira vez, o pessoal do serviço mandou ele escolher. Nisso ele parou, mas isso é uma área incerta, ora o ator está bem, outra não”, finalizou.