Mercado interno absorve 70% da oferta de carne bovina no Brasil; em 2021 embargo durou 90 dias.

Sem China, pressão para derrubar arroba do boi gordo aumentará em MS
Bovino criado a pasto em propriedade rural brasileira; caso atípico de "mal da vaca louca" no Pará continua sob investigação. / Foto: Arquivo/Agência Embrapa

A suspensão das exportações de carne bovina para a China a partir desta quinta-feira, 23, por conta da confirmação do caso de "mal da vaca louca" atípica detectado no Pará, desabilita temporariamente importante fatia do bolo de exportações de produtos do agronegócio de Mato Grosso do Sul.

Só para se ter uma ideia do estrago – se mantido o embargo – em janeiro deste ano o complexo "carnes bovinas" exportou 17,9 mil toneladas. Deste total, 27,13% foram só para a China. Os dados são da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

No ano passado todo foram exportadas 266,3 mil toneladas de carnes bovinas, das quais 35,64% do faturamento dos produtos agropecuário enviados para fora foram respondidos pela China. Em 2021 a participação do país asiático nas importações de carnes bovinas de Mato Grosso do Sul chegou a 45,4%, seguida pelos Estados Unidos e Holanda.

Queda de preços é fatal

O presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai avalia que, se persistir o embargo a tendência é de aumento na oferta de carne bovina no mercado interno, o que fatalmente vai derrubar o preço da arroba do boi gordo para o pecuarista, como aconteceu em 2021. "Temos que considerar que 70% da carne produzida no Brasil abastece o mercado doméstico", avalia.

Além disso, analisa Bumlai, o prejuízo é ainda maior para os pecuaristas, uma vez que a China paga um pouco melhor pela carne.

Em 2022, segundo Boletim da Casa Rural, elaborado pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). Em 2022, o agronegócio de MS teve como seus principais parceiros, a China, Estados Unidos e Japão. A China importou mais de US$ 2,9 bilhão da produção do agronegócio de MS. Os Estados Unidos e o Japão, cerca de US$ 389 milhões e US$ 408 milhões, respectivamente.

Embargo é protocolar

Para o diretor-presidente da Iagro-MS (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), Daniel Ingold, a suspensão das exportações quando é detectado um caso como este de "mal da vaca louca" faz parte do protocolo sanitário entre Brasil e China. "Precisamos aguardar uma posição do laboratório do Canadá, para onde o material coletado no Pará foi enviado".

Ingold acredita que, ao contrário da última suspensão das exportações para a China, em 2021, este não irá se prolongar. Em 2021 o embargo durou cerca de 3 meses. "Na época o embargo foi mais político do que técnico", avalia o presidente da agência. Em apenas 2 meses na época o valor da arroba do boi gordo em MS chegou a cair 43%.

Caso atípico

O caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (mal da “vaca louca”) em um animal macho de 9 anos foi detectado em uma pequena propriedade no município de Marabá (PA). O animal, criado em pasto, sem ração, foi abatido e sua carcaça incinerada no local. Foi feito o comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal e as amostras foram enviadas para o laboratório referência da instituição em Alberta, no Canadá, que poderá confirmar se o caso é atípico como já apontou laboratório brasileiro em Pernambuco.