Filmar os primeiros passos de um filho hoje é comum, especialmente com a proliferação de gadgets de captação digital. Mas imagine enviar as imagens feitas para que a então criança assista no futuro, em seu aniversário de 18 anos, por exemplo. Isso é o Time Flash. O conceito foi bolado Jared Kash, (que ainda está na universidade!), durante uma viagem de intercâmbio para Barcelona. "A experiência que eu estava vivendo lá era tão incrível, que um dia, no museu de Pablo Picasso, tive o desejo de capturar aquele instante para revivê-lo depois", conta Jared.
Como funciona? O app de mídia envia mensagens para o futuro, como uma espécie de cápsula do tempo. O usuário faz um vídeo ou foto, escolhe os contatos com quem quer compartilhar o conteúdo e seleciona a data e hora em que a mensagem poderá ser aberta. Pode ser daqui a 10 horas ou 10 anos.
Peter, o pai de Jared, é investidor há 25 anos e abraçou o projeto. Por vir do seu filho, a ideia foi levada para especialistas. A confirmação de que ele deveria investir no app, porém, veio da sala do dentista. Ele conta que ao falar da ideia, a pessoa que lhe atendia começou a chorar, pois no mês anterior sua mãe havia falecido, e ela daria tudo para ouvir sua voz, ou ter uma mensagem da mãe para mostrar a seus filhos no futuro. "Jared encontrou um jeito de capturar não apenas uma mensagem, mas uma emoção", afirma Peter. Já disse o poeta: relembrar é viver.
Confira abaixo a entrevista feita Com Jared e Peter Kash sobre o aplicativo:
Jared, o que é exatamente o Time Flash? Como você desenvolveu esse conceito?
Jared Kash: Em uma frase, o Time Flash é um aplicativo de mídia social que manda mensagens para o futuro, agindo como uma cápsula do tempo. Você pode tirar uma foto ou fazer um vídeo, selecionar contatos e escolher qualquer dia no futuro para que essa cápsula se abra. E, durante o tempo em que ela está fechada, você constrói expectativas com os comentários sobre a mensagem. Além disso, criamos uma interface que permite que o usuário embaralhe a imagem enviada, formando uma espécie de quebra-cabeça, para fazer o contato selecionado tentar adivinhar o que é a mensagem visual.
Eu tive a ideia quando estava estudando fora, em Barcelona, em 2012. Eu estava tendo uma experiência tão incrível lá, que desejava capturar momentos para revivê-los quando eu estivesse de volta aos EUA. Estava no Museu Pablo Picasso quando tive o insight, foi um daqueles momentos em que se pensa "eu realmente gostaria de guardar esse dia, esse instante, e poder revivê-lo depois". Assim pensei no conceito de mandar mensagens para o futuro e depois apliquei a ideia às mídias sociais.
Peter, o que levou você a investir nessa ideia?
Peter Kash: Tive que ser muito objetivo com a ideia de Jared, pois trabalho como investidor há 25 anos, dei início a cerca de 12 empresas, e fui professor universitário por muitos anos, inclusive na renomada Faculdade de Negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia. Quando seu filho traz uma ideia de negócios para você, portanto, é preciso ser bem objetivo e mais rigoroso até do que seria com outras pessoas. A forma que eu encontrei de analisar a ideia foi levar a especialistas, pessoas que saberiam olhar para a sugestão sem parcialidades e com conhecimento do assunto. A primeira coisa que me disseram foi "que bom que Jared tem os genes da mãe e não os seus" (risos).
Brincadeiras à parte, eu logo percebi que era uma ideia brilhante. Isso porque o fator número um que nos define enquanto espécie é a nostalgia. Todos nós enquanto humanos temos um prazer especial em lembrar algo do passado, de nossos ancestrais, resgatar memórias de antepassados, avós, pais, um tio especial. Até mesmo outras espécies de animais compartilham isso. Imagine, então, que maravilha é ter o poder de enviar uma mensagem para um neto enquanto ele é criança, por exemplo, para que ela seja aberta 25 ou 50 anos depois. É incrível! Jared encontrou um jeito de capturar não apenas uma mensagem, mas uma emoção. E o diferencial é a função de embaralhamento das imagens, que funciona como uma espécie de papel de presente. O quebra-cabeça formado no Time Flash é como um papel de presente digital que recria o Natal todos os dias.
Quando você percebeu que essa ideia poderia virar um negócio?
Por incrível que pareça, o momento definidor foi quando eu estava no dentista, fazendo uma limpeza de rotina. Conversando com a auxiliar de dentista eu lhe contei sobre a ideia de Jared, e ela então começou a chorar. E eu lhe perguntei por que ela estava chorando. Ela disse "minha mãe faleceu há pouco tempo, sou divorciada e tenho três filhos. Estou pensando no que ela teria deixado para os meus filhos em mensagem guardada em uma cápsula do tempo para quando eles se formasse no ensino médio". Atuando como professor há tanto tempo, encontrei várias boas ideias ao longo dos anos. Mas quando uma ideia faz alguém chorar você percebe que está em posse de algo muito, muito especial.
Jared, você ainda está na faculdade. Como você equilibra a vida de estudante com a carreira em negócios?
Jared Kash: Ótima pergunta. Tenho que dizer a você, é hilário. Estou com amigos e eles dizem "vamos ali jogar basquete" e eu respondo "só um minuto, preciso atender uma ligação do Brasil" ou "ligo pra vocês depois da minha entrevista para site do Brasil". E eles ficam surpresos, reagem de forma engraçada, na maioria das vezes. Então o fato é que eu vivo em dois mundos diferentes constantemente, e ao mesmo tempo. Mas é muito divertido, eu amo desafios e sou uma pessoa ativa, então, para mim, quanto mais eu trabalho e me dedico, melhores são os resultados.
Que conselhos você daria a estudantes e jovens profissionais que desejam se tornar desenvolvedores ou criar startups?
Eu diria "seja ambicioso". Em uma frase e duas palavras, esse é meu conselho. Várias pessoas me abordam com ideias, semanalmente. Algumas delas são boas, algumas poderiam ser melhor desenvolvidas. Mas o que acontece é que muitas vezes a ideia é interessante e eu aconselho a que a pessoa vá atrás de torná-la real, mas isso não acontece, a pessoa desiste no meio do caminho. A chave, então, é nunca desistir, constantemente pensar em como melhorar e amadurecer essa ideia, tentar aplicá-la a vários setores diferentes, e cultivar a motivação, força de vontade e foco. Isso é o que se pode fazer em um nível individual.
O outro ponto que eu reforçaria é o do networking. Cada pessoa que você conhece pode ser influência de alguma forma, inspirar alguma ideia, então é muito importante ter a mente bem aberta e ver o que pode ser absorvido dos seus arredores, de forma que isso possa gerar benefícios para você no futuro, enquanto você mesmo também se torna fonte de benefícios e inspiração para os que lhe cercam.
Peter, quais seriam os seus conselhos, enquanto investidor e professor?
Peter Kash: Em primeiro lugar, sempre que alguém diz "não" diga "obrigado". Quando alguém diz não é uma ótima resposta. Por quê? Porque "não" é uma resposta, não é um talvez, mas uma resposta definitiva. Filosófica e matematicamente, toda vez que alguém diz não é um indicativo de que você está chegando mais perto de um sim. Então, número um, se você agradece alguém por dizer não, ele ou ela podem voltar atrás porque você está sendo gentil, agradável. Em segundo lugar, se alguém diz não isso quer dizer que essa pessoa está em posição de tomar decisões. Você pode voltar lá e fazer outras propostas porque aquela pessoa pode mudar de ideia e tem poder para apoiar você. Esses são ótimos aspectos quanto a saber apreciar e aprender com o não.
Concordo também com Jared quando ele fala em ambição. Mas destaco aqui outro fator importante: é preciso pensar de forma global. O mundo hoje não é local, não se pode pensar em termos de ambientes micro, mas macro. A coisa mais importante é sempre, sempre saber que o cliente é o rei. O usuário é o rei, e o que você tem que fazer é melhorar a sua experiência. Se você focar nessas questões, tem chances de sucesso.
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