Operações paralelas do PT e do PL, somadas à reação negativa de deputados, desmontaram o plano do presidente da Câmara, que pretendia cassar um nome direita e outro da esquerda.
Em uma reviravolta, a noite que deveria “consolidar” a força do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), terminou em reveses sucessivos e nova demonstração de desgaste. Em votações consecutivas, o plenário rejeitou a cassação de Glauber Braga (PSOL-RJ) e barrou também a perda de mandato de Carla Zambelli (PL-SP), contrariando a expectativa do Centrão e o roteiro traçado por Motta.
O plano orquestrado pelo presidente da Câmara era cassar um deputado da esquerda e outro da direita, em um movimento que visava equilibrar pressões após uma série de votações tensas. Na visão do paraibano, o resultado reforçaria a autoridade da Mesa Diretora. Glauber e Zambelli eram considerados alvos certos por razões distintas. O psolista enfrentava um processo por agressão a um militante do MBL, amplificado pelo confronto com a Polícia Legislativa. Já Zambelli respondia a condenações do STF, que determinavam a perda automática do mandato. O cálculo, porém, ruiu.
Glauber e a ajuda de Lula
A reviravolta no caso de Glauber começou ainda pela manhã de quarta-feira 10. Atendendo orientação do presidente Lula (PT), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, mobilizou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), para atuar contra a cassação. O PT construiu, em parceria com o PSOL, uma estratégia em duas frentes: incentivar abstenções para impedir os 257 votos necessários para derrubar o mandato e apresentar uma alternativa de punição, a suspensão por seis meses.
Lideranças do PSOL circularam entre deputados do Centrão argumentando que a cassação seria desproporcional e que criaria um precedente perigoso. O movimento encontrou eco num plenário já incomodado com a condução de Motta, acusado por congressistas de pautar temas sensíveis sem acordo. Quando ficou claro que não haveria votos suficientes para cassar o psolista, partidos antes inclinados à punição máxima migraram para a opção intermediária.
PL e Zambelli
Logo em seguida, o PL montou sua própria operação para evitar a cassação de Carla Zambelli. Embora a deputada estivesse afastada e condenada pelo STF, a sigla conseguiu organizar votos e esvaziar o quórum necessário para retirar o mandato. O resultado contrariou tanto a expectativa do Centrão quanto a manobra de Motta, que havia encaminhado o caso ao plenário.
Motta e a insatisfação de caciques
A sequência de derrotas provocou irritação entre aliados de Motta e, sobretudo, de Arthur Lira (PP-AL). O ex-presidente da Câmara, que trabalhou ativamente pela cassação de Glauber, reagiu em um grupo de WhatsApp de deputados, afirmando que a Casa vive uma “esculhambação”. A informação foi inicialmente publicada pelo G1 e confirmada por CartaCapital.
Lira considerou a manutenção do mandato do psolista uma derrota e atribuiu parte do fracasso ao atual comando da Câmara. Também criticou a gestão de Motta no episódio envolvendo a retirada forçada de Glauber do plenário e defendeu que o caso de Zambelli deveria ter sido adiado.
O duplo fracasso de Motta enfraquece ainda mais a condução política do presidente da Câmara e prenuncia dificuldades nas próximas votações sensíveis, incluindo outros processos disciplinares que ainda aguardam decisão como o de Alexandre Ramagem (PL-RJ) e de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), previstos para a semana que vem.











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