Relatório se baseia em 43 indicadores para expor as desigualdades no Brasil

Relatório traz MS como um dos estados com maior índice de desigualdade racial
Relatório se baseia em 43 indicadores para expor as desigualdades no Brasil / Foto: Pessoas brancas são maioria nos cargos do Judiciário. (Foto: Ilustrativa – Banco de Imagens)

Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, desenvolvido pela ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades) e divulgado na última quinta-feira (28), coloca o estado de Mato Grosso do Sul como um dos mais desiguais no quesito racial. Ao todo, o estudo explora 43 indicadores, a fim de monitorar as desigualdades no Brasil.

Os indicadores relacionam a presença de pessoas negras em cargos nos tribunais brasileiros. O estudo aponta, por exemplo, que pessoas negras eram mais da metade da população brasileira em 2021, mas ocupavam somente 12,8% dos cargos nos tribunais brasileiros. 

O relatório pontua que, na Justiça Federal, essa presença era de apenas 2,6%, índice de 0,05. Nos tribunais estaduais, o cenário também é crítico. Isso porque, em Mato Grosso do Sul, enquanto 55,7% da população é negra, apenas 2,5% das vagas do Judiciário são ocupadas por pessoas negras, o que significa um índice de 0,04, o pior do país.

A desigualdade entre homens e mulheres também é observada. “Em 2024, mulheres ocupavam 38,8% dos cargos no Judiciário, com maior presença na Justiça do Trabalho (46,3%) e menor na Justiça Militar estadual (22,2%)”, completa o levantamento.

“Nenhum estado atingiu 50% de magistradas na Justiça estadual. O Rio de Janeiro teve o maior percentual, e Roraima, o menor. O Judiciário segue concentrado em uma elite majoritariamente masculina e branca, o que compromete a construção de uma justiça mais plural e representativa”, conclui o relatório.

Mortalidade infantil
Segundo o levantamento, o estado sul-mato-grossense também se destaca em relação à taxa de mortalidade infantil. Os dados apontam que a taxa subiu de 10,7 para 13,5, entre 2021 e 2023, em Mato Grosso do Sul, “revelando efeitos da pandemia, queda na atenção básica e precariedade dos serviços em áreas distantes”.

Para o cálculo da mortalidade infantil, são considerados óbitos infantis em crianças menores de 1 ano a cada 1.000 nascidos vivos. Em nível nacional, a mortalidade infantil cresceu no país, de 2021 para 2022, e mostrou estabilidade no ano de 2023. No entanto, Norte e Nordeste registram os índices mais altos, e a mortalidade masculina supera a feminina em todos os anos.

“As iniquidades em saúde no Brasil representam desigualdades evitáveis, injustas e profundamente enraizadas em fatores históricos, sociais, econômicos e políticos”, diz trecho do relatório.

“Não se trata somente de diferenças estatísticas, mas de expressões concretas do racismo, da exclusão e das relações assimétricas de poder que limitam o acesso equitativo aos serviços de saúde e comprometem o direito à vida digna”, completa o texto.

Povos indígenas: invisibilização e violência
O relatório também aponta desigualdades contra os povos originários. Em 2023, ocorreram 208 assassinatos de indígenas, com concentração em alguns estados brasileiros.

Nesse quesito, destacam-se 47 homicídios concentrados em Roraima, 43 em Mato Grosso do Sul e 36 no Amazonas, vitimando principalmente homens adultos e jovens.

Violência contra mulher
Mato Grosso do Sul também se destaca no cenário nacional em relação à violência contra as mulheres. Nacionalmente, entre 2023 e 2024, a taxa de feminicídio por 100 mil mulheres se manteve em 1,4. No entanto, em MS, o índice subiu de 2,1 para 2,4 neste período. 

No Paraná, a taxa também subiu, saindo de 1,3 para 1,8, deixando MS e PR entre os estados com os maiores aumentos registrados. “Tais variações regionais indicam que, apesar da estabilidade na média nacional, a violência letal contra as mulheres permanece disseminada e requer respostas territorializadas”, pontua o texto.