O documento estará no centro das discussões da cúpula das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no fim deste mês.

Relatório da ONU diz que progresso rumo aos objetivos globais está em perigo
Mulher afegã para ao lado de disco de energia solar em 31 de maio de 2015. / Foto: PNUD/Rob Few

O atual modelo de desenvolvimento global ameaça reverter anos de progresso caso as estratégias não mudem drasticamente, concluiu um grupo independente de cientistas em relatório lançado na quarta-feira (11).

O documento estará no centro das discussões da cúpula das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no fim deste mês.

O agravamento das desigualdades e os danos potencialmente irreversíveis ao meio ambiente do qual todos dependemos exigem uma ação concertada, insistiu o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA) da ONU, em comunicado sobre o relatório, elaborado por 15 especialistas indicados pelas Nações Unidas.

"Ainda é possível alcançar o bem-estar humano e erradicar a pobreza na Terra — cuja população deverá atingir 8,5 bilhões de pessoas até 2030″, destacaram os especialistas.

Eles afirmaram, no entanto, que isso só ocorrerá se "houver uma mudança fundamental — e urgente — no relacionamento entre pessoas e natureza".

O relatório "O futuro é agora: ciência para alcançar o desenvolvimento sustentável" apontou para a necessidade de compreender a relação entre os ODS e os "sistemas concretos que hoje definem a sociedade" para elaborar um plano com o objetivo de reduzir a instabilidade global.

Encomendado pelos países para avaliar o progresso da Agenda 2030, adotada em 2015 pela comunidade internacional, o Relatório Global sobre Desenvolvimento Sustentável (GDSR, na sigla em inglês) é composto por pesquisas sobre descobertas científicas relacionadas a temas como meios de subsistência oceânicos, consumo sustentável, produção, gerenciamento de riscos de desastres, entre outros.

Recomendações baseadas na ciência
O atual modelo de desenvolvimento gerou prosperidade para "centenas de milhões", disseram os cientistas, mas isso ocorreu às custas de recursos naturais e de uma crescente desigualdade que mina o crescimento global.

A estratégia de impulsionar economias por meio do aumento do consumo, por exemplo, está esgotando os recursos do planeta e criando subprodutos tóxicos.

Mantida a taxa atual de consumo global, o uso de recursos deve quase dobrar entre 2017 e 2060, passando de 89 gigatoneladas para 167 gigatoneladas, resultando em níveis aumentados de emissão de gases de efeito estufa e outros efeitos tóxicos da extração de recursos, disseram os especialistas.

O status quo deve mudar, disseram os cientistas, a fim de evitar mais perdas em "coesão social e crescimento econômico sustentável", reduzindo as perdas de biodiversidade e salvando um "mundo próximo do limite do sistema climático global".

Para que isso aconteça, todos os setores devem se unir em ações coordenadas, recomendou o relatório. Aumentar o investimento em ciência para a sustentabilidade é uma abordagem fundamental, assim como reconhecer que a conquista dos ODS exige que o crescimento econômico seja separado da degradação ambiental, ao mesmo tempo em que reduz desigualdades.

Os especialistas observaram que "a ampla transformação necessária não será fácil, e o relatório sugeriu que é necessário um profundo conhecimento científico para antecipar e mitigar as tensões e compensações inerentes a mudanças estruturais generalizadas".

Pontos centrais de intervenção
Segundo o relatório, existem 20 pontos de intervenção que podem ser usados ​​para acelerar o progresso em direção a várias metas e objetivos nos próximos dez anos.

Um deles é a oferta de serviços básicos, que devem ser disponibilizados universalmente — saúde, educação, infraestrutura de água e saneamento, habitação e proteção social — como pré-requisito para eliminar a pobreza.

Outros pontos incluem acabar com a discriminação legal e social e impulsionar sindicatos, organizações não governamentais, grupos de mulheres e outras comunidades, que serão parceiros importantes nos esforços para implementar a Agenda 2030, disseram os especialistas.

Sistemas ineficientes de alimentos e energia estão privando cerca de 2 bilhões de pessoas em segurança alimentar, enquanto 820 milhões estão desnutridos e 2 bilhões de adultos estão acima do peso. Os processos de produção de alimentos estão causando severo impacto ambiental.

A transição para sistemas de energia renovável pode ajudar a reduzir o número de 3 bilhões de pessoas que dependem de combustíveis poluentes para cozinhar e a evitar mortes prematuras, estimadas em 3,8 milhões por ano, disseram os especialistas.

Enquanto isso, há um déficit de acesso à energia elétrica de 1 bilhão de pessoas no mundo. O aumento no suprimento de energia renovável na última década provocou queda nos preços das tecnologia de combustíveis limpos — uma baixa de cerca de 77% para energia solar e de 38% para energia eólica em terra.

Com cerca de dois terços da população global projetada para morar nas cidades até 2050, os especialistas disseram que para alcançar a Agenda 2030 serão necessárias áreas urbanas "mais compactas e eficientes", com infraestrutura baseada na natureza — enquanto os serviços e recursos do ecossistema "devem ser protegidos".

O que os cientistas chamam de "bens ambientais globais" — florestas tropicais, oceanos e atmosfera — precisam do apoio de governos, atores internacionais e do setor privado para garantir boas práticas.

O relatório completo e suas recomendações serão apresentados durante o Fórum Político de Alto Nível na Cúpula dos ODS de 2019 que reunirá chefes de Estado e de governo em Nova Iorque nos dias 24 e 25 de setembro.