Quando o amor pede uma segunda chance

Dizem que figurinha repetida não enche álbum. Que ex bom é ex longe. Que repetir os erros do passado é bobagem...

Mas a verdade é que tem horas que o amor fala mais alto e alguns casais que não deram certo juntos um dia acabam, por algum capricho da vida, ganhando uma nova chance. E aí? Será que na segunda vez vai dar certo?

A história da antropóloga Lilian de Almeida e do jornalista Arthur Rastelli, ambos hoje com 29 anos, começou na adolescência. Eles estavam terminando o colégio quando começaram a namorar, nas vésperas do resultado do vestibular.

“Vivemos juntos todas as nossas primeiras vezes: primeiro amor, primeiro relacionamento sério, primeiro ano da faculdade, tirar a carta de motorista, primeiro emprego. Aprendemos juntos o que é viver um relacionamento a dois, com seus sabores e dificuldades”, diz Lilian.

O namoro durou quase três anos, mas o fato de eles terem começado muito cedo acabou pesando. “Éramos muito jovens e imaturos. A verdade é que os dois queriam viver outras experiências. Uma vez estávamos passeando no Ibirapuera e ele me disse: ‘Você sabe que não vou me casar com você, não sabe?’ Aquilo me doeu tanto, mas no fundo acho que eu também acreditava que não iria casar com meu primeiro namorado”, relembra.

Sete anos se passaram. Ambos tiveram outros relacionamentos longos – ele por cinco anos e ela por três. Mas o passado acabou fazendo os caminhos de Lilian e Arthur se cruzarem novamente. Uma amiga em comum dos dois organizou um churrasco para reunir a turma do Ensino Médio e celebrar 10 anos da formatura.

“O churrasco foi na casa dele. Me arrumei toda para reencontrar todo mundo, mas principalmente porque eu sabia que ele estaria com a namorada. No caminho até lá, minha amiga me contou que ele havia se separado. Até aí tudo bem, pois eu não tinha nenhuma esperança de voltar com ele. Mas quando cheguei lá, tudo mudou. Um filme passou pela minha cabeça”, conta Lilian.

Os dois acabaram se reaproximando e conversando sobre as experiências que tiveram juntos. “Relembramos um monte de coisa e eu acabei dormindo lá para continuar relembrando”, afirma, bem-humorada. Depois do reencontro, não se desgrudaram mais. Em menos de um ano estavam morando juntos e se casaram em dezembro de 2014.

Lilian reconhece que muitas das dificuldades já vividas no primeiro relacionamento voltam à tona vez ou outra, mas agora, com a maturidade, os problemas são resolvidos de forma diferente. Ela acredita que eles estão juntos porque são muito parecidos e possuem uma conexão intensa, que os faz até completar a frase e o pensamento um do outro.

Questionada sobre o que acha do pensamento de que recomeçar uma história do amor que não deu certo no passado é repetir um erro, Lilian é bastante incisiva. “Deu errado no passado. Não significa que vai dar errado agora. O tempo passa, as pessoas amadurecem, vivem outras experiências que servem de balança para reavaliarmos nossos antigos relacionamentos e decidirmos o que importa mais nos novos”, avalia.

Para ela, tal experiência permite aprender que as pessoas não são perfeitas. “Optamos por quais defeitos conseguimos conviver melhor. Acho que é essa a dica: entender que as pessoas não são perfeitas e ponderar o que te faz feliz”, argumenta.

Muito amor, mas sem romantismo

A farmacêutica Mariana Bastos, de 32 anos, e o bancário Paulo Lopes, de 35, também tiveram um final feliz, mas não sem alguns percalços no meio. Eles se conheceram na faculdade. Porém, o clima de festas e pegação acabou falando mais alto.

“Eu o namorava, mas ele não me namorava. Ele estava no último ano, só queria saber de festa e estava com data marcada para viajar. Ficamos um ano juntos, mas de um namoro bem superficial. Foi um período em que nos divertimos muito, mas nos conhecemos pouco”, lembra Mariana.

O namorico não resistiu e, quando Paulo foi morar fora do país, eles já não estavam mais juntos. Durante o ano em que ele passou fora, os dois acabaram se reaproximando, mas a volta para valer só aconteceu mesmo quatro anos depois do primeiro término. Por acaso do destino, acabaram se reencontrando em Campinas e voltaram a sair juntos.

“As coisas boas voltaram, surgiram outras. Fomos nos conhecendo melhor, mas com uma sensação familiar. Voltamos a namorar, nos separamos outras vezes (por períodos cada vez mais curtos) e, aos poucos, fomos construindo nossa história”, relata Mariana, hoje casada com Paulo há quase dois anos.

Motivos pelos quais o namoro não deu certo da primeira vez? “Não deu certo por falta de maturidade e excesso de festa. Foi fácil resolver, bastou envelhecer. Voltamos porque conseguimos nos reconhecer, perceber planos em comum. Isso tudo somado ao sentimento e à vontade de fazer funcionar”, defende, sensata.

E se engana quem acha que reviver o amor do passado é o tipo de história sempre coberta de romantismo. Para Mariana, esse, definitivamente, não é o ponto forte do casal. Até o pedido de casamento também rende (agora) algumas risadas.

“Ele decidiu me pedir em casamento na minha festinha de aniversário na casa da minha mãe, em Sorocaba. Eu estava em São Paulo e queria voltar para o interior para ajudar com os preparativos, mas ele, em Campinas, me pediu para esperá-lo para sairmos jantar porque havia feito uma reserva. Achei aquilo muito estranho, mas gostei”, lembra.

Paulo demorou a aparecer por um problema no trabalho. Não conseguiu avisar Mariana, que ficou até as 2 da manhã acordada, desesperada, sem entender o que estava acontecendo. “Até acidentes na rodovia eu estava pesquisando”, lembra.

Quando o rapaz apareceu, ela estava tão furiosa que começou a falar sem parar. “Nada me fazia calar a boca. Até que ele jogou uma caixinha com a aliança em cima da cama, bravo. Parei de falar, chorei e aceitei o pedido. Concluímos que o romantismo não faz parte do nosso roteiro”, diverte-se.