Presidente da Câmara Municipal firmou contrato de R$ 300 mil com escritório, apesar de a Casa ter procuradores no quadro de servidores

Promotor manda Papy encerrar contrato de escritório de filha de desembargador investigado
Presidente da Câmara Municipal firmou contrato de R$ 300 mil com escritório, apesar de a Casa ter procuradores no quadro de servidores / Foto:  Izaias Medeiros/Câmara de Vereadores

O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) emitiu recomendação para que o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, Epaminondas Vicente Silvas Neto, o Papy (PSDB), encerre contrato de R$ 300 mil com o escritório de advocacia Bastos, Claro & Duailibi Advogados Associados.

O escritório tem como sócia a advogada Camila Bastos, investigada pela Polícia Federal junto com o pai, o desembargador do TJMS, Alexandre Bastos.

Conforme o documento assinado pelo promotor de Justiça Humberto Lapa Ferri, caso Papy não acate medida, o MP poderá “adotar as medidas legais, inclusive mediante o ajuizamento da ação civil cabível”.

Então, o presidente do Legislativo tem dez dias para informar ao MP se acatará o pedido ou não.

Assim, o promotor ressalta que a Casa Legislativa tem cinco procuradores, mas que apenas três estão lotados na ‘Subprocuradoria de Assuntos Legislativos’. Logo, o MP aponta que “a contratação dos escritórios jurídicos trata, de fato, de ofensa ao concurso público, visto que estão desempenhando funções TÍPICAS de servidores públicos“.

Ainda, o promotor afirma que a contratação do escritório para executar assessoria jurídica genérica “não configura a inviabilidade de competição que permita a contratação direta, e sim na evidencia de necessária estruturação da Procuradoria Geral“.

À reportagem do Jornal Midiamax, Papy adiantou que irá acatar a medida. “Não vi ainda a recomendação, mas como disse desde o início, acataremos toda e qualquer medida judicial, sempre. Apesar do contrato não ter celebrado comigo e apenas renovado, pois prestam serviço à Câmara de Campo Grande desde 2012”, disse.

Atualmente, a Câmara mantém um time de seis procuradores, sendo três deles efetivos e o restante comissionado, inclusive o procurador-geral, Gustavo Lazzari, nomeado por Papy. Ele sofre processo de afastamento do cargo, já que entendimento do STF não permite que o cargo seja ocupado por profissional nomeado em comissão, e sim concursado.

Contrato dobrou de valor
Conforme dados do Portal da Transparência da Casa de Leis, em 2022, o escritório firmou contrato de R$ 150 mil, com vigência de um ano, estendidos até 2025. Neste ano, um novo compromisso foi firmado, desta vez no valor de R$ 300 mil, válido até março de 2026.

Ambos os acordos foram por meio de inexigibilidade de licitação, com o argumento de se tratar de serviços técnicos especializados em assessoria jurídica. 

O novo contrato prevê atuação do escritório em temas jurídicos relacionados ao Tribunal de Contas e ao interesse da Câmara no campo do direito público, licitações e contratos, mesma descrição usada no contrato anterior.

Procuradoria custa R$ 1,7 milhão, mas Papy manteve contrato
Mesmo com uma Procuradoria estruturada, que custa aos cofres públicos R$ 1,7 milhão por ano, a Câmara Municipal de Campo Grande mantém R$ 480 mil em contratos com escritórios de advocacia para prestar serviços jurídicos externos.

Os contratos, todos por inexigibilidade — ou seja, sem licitação — foram firmados em 2025 na gestão do atual presidente, vereador Epaminondas Vicente Silva Neto, o Papy (PSDB), e incluem assessoria em compliance, licitações, contratos públicos e processos no Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS).

Atualmente, a Procuradoria da Câmara conta com três procuradores concursados, além de um subprocurador de assuntos legislativos e um procurador-geral nomeado em cargo comissionado. 

Juntos, eles representam um custo mensal superior a R$ 149 mil, que, no acumulado anual, ultrapassa R$ 1,7 milhão em salários, sem considerar encargos e benefícios.

Ainda assim, a Câmara mantém contratos que, na prática, terceirizam atribuições da própria Procuradoria Legislativa, bancada com dinheiro público.