O magistrado proibiu a divulgação de campanhas informativas que não sejam embasadas em estudos científicos.

Procuradores cobram que governo elabore plano de comunicação sobre pandemia

Mais de 30 procuradores de 25 Estados assinaram em conjunto uma ação civil pública para obrigar o governo Jair Bolsonaro (sem partido) a elaborar um Plano Nacional de Comunicação para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Na peça, os procuradores afirmam que as informações prestadas pela União à população são escassas e insuficientes, e cobram uma abordagem que informe sobre a necessidade de distanciamento social e uso de máscaras.

“Mesmo diante de todas as evidências enumeradas acerca da importância de que a população observe os protocolos de distanciamento físico e social, uso de máscaras, higienização e uso de álcool em gel e também da vacinação, o fato é que não ocorreu, até o momento, a implementação de um plano nacional de comunicação com o objetivo de difundir e reforçar a importância dessas medidas de prevenção à população”, apontam os procuradores. “Nos sites oficiais do Ministério da Saúde – órgão central no planejamento e coordenação nacional do enfrentamento à pandemia – encontramos escassas referências a essas medidas.”

Os procuradores citam que as redes sociais do Ministério da Saúde, por exemplo, chegou a publicar campanhas em vídeo sobre a importância de cuidados de higiene e uso de máscara no início da pandemia. Isso mudou em maio do ano passando, quando elas se tornaram “praticamente inexistentes”. Naquele mês, o general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o comando da pasta após a saída do médico Nelson Teich.

“São notoriamente insuficiente as medidas até agora implementadas em todo o País para que se tenha um resultado concreto e imediato na contenção da transmissão, com aptidão para reverter o grave cenário da pandemia e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde”, anotam os procuradores.

A peça é assinada por 37 membros do Ministério Público Federal de 25 Estados. A peça foi enviada à Justiça Federal do Rio Grande do Sul e pede que o governo Bolsonaro seja obrigado a divulgar informações atualizadas sobre os riscos da pandemia, medidas preventivas como o distanciamento social, uso de máscaras e proibição de aglomerações, e também a realização de coletivas de imprensa semanais sobre a evolução da pandemia no País.

Campanhas sem embasamento

No último dia 17, o governo Bolsonaro foi condenado pelo juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara Federal do Rio de Janeiro, pela divulgação de vídeos da campanha “O Brasil Não Pode Parar”, que defendeu a flexibilização das medidas de distanciamento social em março do ano passado. O magistrado proibiu a divulgação de campanhas informativas que não sejam embasadas em estudos científicos.

A sentença prevê que a União deve se abster de veicular por rádio, televisão, jornais, revistas, sites e redes sociais, seja nos meios físicos ou digitais, peças publicitárias que sugiram à população “comportamentos que não estejam estritamente embasados em diretrizes técnicas, emitidas pelo Ministério da Saúde, com fundamento em documentos públicos, de entidades científicas de notório reconhecimento no campo da epidemiologia e da saúde pública”.

A decisão também proíbe o governo de fomentar a divulgação de informações de terceiros que não estejam “estritamente embasadas em evidências científicas” e ordena criação de uma campanha a respeito das formas de transmissão e prevenção da covid-19, seguindo as recomendações técnicas atuais.