Para delegado chefe na fronteira, mesmo com redução de casos e aparente segurança de mercadoria, momento exige atuação especializada

O chefe da delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Dourados, inspetor Valdir Brasil, acredita que o momento de alerta com a incidência de intoxicações por metanol em bebida, poderia mobilizar a atuação conjunta com órgãos especializados, a exemplo da Vigilância Sanitária, para combater a entrada de bebidas alcoólicas falsificadas.
A sugestão surge em meio à escalada de notificações que já superam mais de 100 casos pelo Brasil, incluindo em Mato Grosso do Sul. Uma morte já foi confirmada e outras 11 estão sob investigação. Ontem, o caso de um jovem de Campo Grande que morreu após atendimento na UPA Universitário, entrou para a lista do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional).
Historicamente, a fronteira entre Brasil e Paraguai sempre foi uma porta aberta para o acesso a bebidas alcoólicas a preços mais acessíveis. O consumidor, atualmente, pode voltar do Paraguai com até 12 litros de bebida.
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Entretanto, dados da Receita Federal mostram que entre 2023 e 2025, com números atualizados até agosto, mostram 372 processos foram registrados em Mato Grosso do Sul, retirando de circulação um volume de mercadoria avaliado em R$ 1.088.282,17. Mais de 348 nomes constam na base de autuados da Receita.
Nacionalmente, esses números chegam a 10.719 processos de contrabando, com 8.332 autuados em apreensões avaliadas em R$ 244,07 milhões. O painel não permite segmentar os números por ano.
Segundo Brasil, nos últimos 5 anos foi percebida pelas equipes policiais uma redução nas apreensões de bebidas. Ele atribui essa redução à migração do contrabando para o cigarro e ao cigarro eletrônico, conhecido como vape.
O inspetor destaca que, apesar da PRF possuir expertise na fiscalização de rodovias e na identificação de cargas contrabandeadas, a verificação de adulteração química, como a presença de metanol, exige conhecimento técnico e laboratorial específico da vigilância sanitária.
“Agora, eu acho pertinente, realmente, nesse momento que o país está passando, que tivesse aí um apoio dos órgãos competentes, da própria Vigilância Sanitária, né, que já tem um maior know-how nessa área pra ver algo desse tipo, entendeu”, afirmou.
Ao Jornal Midiamax, ele destaca que não é recorrente a incidência de identificação de bebidas adulteradas, entretanto reconhece que diante do momento de crise que alastra pelo país, a integração das equipes permitiria uma análise imediata das cargas suspeitas, tornando as apreensões mais eficazes e retirando produtos nocivos de circulação antes que cheguem aos pontos de venda.
“Eu particularmente penso que essa situação toda sobre o metanol, eu creio que está sendo feita aqui dentro do nosso país. Entendeu? Pelo que a gente olha, o tipo de bebida lá [nas fiscalizações das rodovias] não aparenta, a priori, tenha algo desse tipo”, pontuou mencionando como indicativo de procedência a integridade do lacre, da garrafa e o aspecto visual dos produtos.
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A posição do chefe da PRF em Dourados ecoa a preocupação manifestada pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD).
Em carta aberta divulgada neste sábado, 04, a entidade repudiou a falsificação de bebidas, classificando-a como um crime, e se solidarizou com as vítimas de intoxicação. A associação também defendeu a aquisição de produtos apenas por revendedores homologados, e descreve a indústria de bebidas destiladas como “sólida, moderna e confiável”, que gera milhares de empregos e contribui para o desenvolvimento nacional.
Operação pós-morte suspeita
A prefeitura da Capital, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), deflagrou a ‘Operação Metanol’ em bares da região central na madrugada deste sábado (4), após a morte do rapaz sob suspeita de intoxicação por metanol.
O caso que motivou a mobilização envolve um paciente atendido na quinta-feira (2) na UPA do Bairro Universitário com sintomas de mal-estar, náuseas e dor abdominal intensa.
Segundo a Sesau, ele recebeu atendimento imediato, mas o quadro clínico piorou subitamente, levando ao óbito. Amostras da bebida consumida foram coletadas e encaminhadas para análise laboratorial, e um exame toxicológico está em andamento no Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol).
A prefeitura manifestou solidariedade aos familiares e reforçou o compromisso de apurar os fatos.
Em resposta ao caso, a Guarda Civil Metropolitana e fiscais da Vigilância Sanitária fiscalizaram 12 bares na região central de Campo Grande.
A ‘Operação Metanol’, iniciada na noite de sexta-feira (3), mobilizou cerca de 20 servidores. De acordo com a GCM, nenhuma irregularidade foi encontrada nos estabelecimentos visitados, não havendo apreensões.
Antes do caso em Campo Grande, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul instaurou procedimento para apurar a comercialização de produtos adulterados em todo o Estado, implicando entidades, órgãos e autoridades públicas.
A 43ª Promotoria de Justiça de Campo Grande busca com o procedimento preparatório, de caráter preventivo, apurar os riscos da comercialização de bebidas com metanol em todo Estado.
O MPMS expediu ofícios para as associações de supermercados (Amas) e de bares e restaurantes (Abrasel), e requisitou informações à Secretaria de Estado de Saúde (SES), à Delegacia do Consumidor (Decon) e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre fiscalizações e registros de empresas do setor.
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