Receio é que médicos deixem o serviço público, uma semana após notícia de vandalismo em máquinas que controla a frequência.

Prefeitura enfrenta revolta contra ponto eletrônico na saúde
Pacientes na frente da UPA do Coronel Antonino, uma das unidades com ponto estragado. / Foto: Fernando Antunes/Arquivo

A prefeitura de Campo Grande enfrenta revolta contra o ponto eletrônico nos postos de saúde da Capital. Semana passada, foi noticiado estrago feito nos equipamentos de controle de frequência de pelo menos cinco unidades na cidade. Agora, o receio é que os profissionais descontentes com o regime peçam demissão.

Por meio da assessoria, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) afirma que não há qualquer informação oficial sobre o assunto, mas reconhece que a exigência do ponto eletrônico possa gerar consequências.

A dificuldade hoje, afirma, é que pelo menos 60% dos 1,1 mil médicos são temporários, ou seja, podem ser demitidos ou se demitirem a qualquer tempo. Por isso mesmo, a intenção é fazer um concurso público até o fim do ano para contratação de médicos e outros profissionais de saúde.

Ainda conforme a secretaria, o município vai esperar "bom senso" da categoria e esclarece que a instalação dos pontos eletrônicos foi uma exigência da Justiça, após ação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). 

Vale lembrar que a decisão se estende para todos profissionais de saúde e de outros serviços dentro dos postos, mas a resistência seria principalmente de médicos que atuam em regime ambulatorial.

O presidente do Sindicato dos Médicos de Campo Grande, Flávio de Freitas Barbosa, disse que marcou uma assembleia com os médicos para quinta-feira (dia 16), às 19 horas.

O intuito é orientar os profissionais sobre a exigência judicial. "Vou dizer que é preciso cumprir o ponto eletrônico". Aqueles que não conseguirem ou não quiserem cumprir, acrescenta, "não tem o que ser feito", caso optem por se demitir.

Flávio afirma que o principal ponto de resistência é com os médicos que cumprem jornada de trabalho nos ambulatórios, porque "é quem atua em consultas agendadas". "80% deles não consegue cumprir todo horário. Se [o médico] tem 15 [pacientes] no dia, ele vai para lá de manhã, atende todos e vai. O que sempre aconteceu".

Segundo o dirigente, a insatisfação esbarra na condição de trabalho. Com remuneração não muito atrativa, muitos profissionais podem deixar mesmo o Poder Público. "Já há médicos saindo, porque não é atrativo trabalhar ali".

Pontos quebrados - Semana passada, a prefeitura identificou cinco pontos eletrônicos danificados. Dois no CEM (Centro de Especialidades Médicas), um no CRS (Centro Regional de Saúde) da Cophavila e nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento) do Leblon e do Coronel Antonino.

Dois do Centro de Especialidades estão com a Polícia Civil para perícia e o restante na secretaria de Saúde, que verifica se os equipamentos ainda podem ser utilizados após conserto.

Em todos os casos, as máquinas apareceram com alguns danos nas telas e outros dispositivos. Os pontos começaram a funcionar no início de agosto, após determinação da Justiça.