Precisamos falar sobre One Direction
À esquerda, One Direction; ao centro, a banda brasileira Karametade; à direita, NSYNC. / Foto: Reproduçã

O ano era 2002 e minha música preferida era Girlfriend, do finado NSYNC. Como toda boa fã, comprava os CDs e pregava pôsteres de JC no meu guarda-roupa.  A internet não era acessível como hoje e, para ver minha banda preferida, eu precisava votar pelo telefone para que o clipe fosse transmitido na MTV. Uma amiga fez mais: enviou uma carta rolo de vários metros para Vavá, cantor do Karametade, banda de pagode que fez batante sucesso entre os anos 1990 e 2000.

Confesso que, do alto dos meus onze anos de idade, fiquei decepcionada quando, em um desses programas, soube do fim do NSYNC.  Portanto, ao tomar conhecimento da histeria das fãs com a saída do cantor Zayn da banda One Direction, procurei entender o sentimento. É preciso ter um espírito adolescente para amar alguém tão distante da sua realidade. Isso é o showbusiness.

Um dos sustentáculos da indústria do entretenimento é a cultura de fãs.  A palavra Fandom vem do inglês Fan Kingdom e classifica grupos que se uniram por idolatrar determinada banda, filme, livro ou mesmo empresas, como é o caso daquelas pessoas que madrugam em filas para comprar produtos da Apple (nós escrevemos sobre o assunto nesta matéria aqui). Embora ridicularizados em alguns momentos, como estão sendo os fãs do One Direction, são eles que estão moldando as empresas do nicho. Por causa desses grupos, criou-se a chamada economia afetiva.

Esse modelo de marketing desenvolve produtos baseado na vontade dos grupos de fãs, criando um vínculo ainda mais forte com essas pessoas, que deverão atrair elas mesmas novos consumidores para as marcas.  Para se manterem relevantes, conglomerados de mídia entenderam que era preciso criar “lovemarks”, uma relação de amor e respeito com os fãs e consumidores. 
Imersos nessa realidade que mescla fanatismo e negócios, os fãs ampliaram sua voz com as redes sociais e a possibilidade dada por esses meios de encontrar  outros que compartilham dos mesmos sentimentos. Usando os caso dos “directioners”, como são chamados os "fandons" do One Direction, é possível dizer que o sofrimento pela saída de Zayn tomou proporções maiores por que as redes sociais deram palco a ele. Sofrimento esse que fez com que muitas adolescentes se mutilassem e publicassem as imagens no Twitter a fim de fazerem com que o artista reavaliasse a escolha de sair.

A paixão dos fãs pelos seus artistas sempre existiu e nunca foi racional. Tente visualizar o que aconteceria se existissem redes sociais na época em que os Beatles decidiram romper. Imagine, em um universo paralelo, que esse rompimento acontecesse no auge da beatlemania – ainda na primeira fase. As reações provavelmente não seriam mais maduras que a das fãs do One Direction.
O que a indústria precisa reavaliar é como a cultura de fãs tem sido explorada e se não seria esse o momento de se posicionar.

Pedir para que esses grupos mantenham uma relação saudável com seus ídolos e estimulando sempre a conexão mais com a arte e menos com os artistas. Hoje, as meninas que choram pela saída do One Direction encontraram nas redes sociais uma forma de expressar sua tristeza. Talvez todas as fãs do NSYNC tenham sentido o mesmo quando a banda acabou, mas quase ninguém ficou sabendo.