A Polícia Civil investiga se três caixas d'água que seriam furtadas do Bairro Carioca — condomínio do programa habitacional Minha Casa Minha Vida em Triagem, na Zona Norte do Rio — tinham como destino a revenda para uma construção ilegal.

Polícia apura se reservatório furtado de condomínio seria revendido para construções ilegais
PM foi acionada para a ocorrência / Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo

Segundo funcionários da prefeitura e policiais civis ouvidos pelo EXTRA, criminosos poderiam lucrar pelo menos R$ 50 mil com o repasse de cada um dos reservatórios. O Globocop, da "TV Globo", flagrou homens, com um maçarico e dois guindastes, removendo a parte superior de uma das caixas d'água no início da tarde desta quarta-feira.

Após o flagra, a prefeitura acionou a Polícia Militar, que foi ao local e levou funcionários e o dono da empresa Transforça, que alugou os guindastes, à 25ª DP (Engenho Novo). Na delegacia, os representantes da firma afirmaram que não sabiam estar participando de um crime. Eles disseram que foram contratados, de forma legal, para fazer o serviço por R$ 7,5 mil. O valor seria pago pela remoção de três caixas d'água, que abastecem cerca de 30 prédios do conjunto habitacional. 

No momento em que foram flagrados, os funcionários só haviam começado a retirada do primeiro reservatório. O serviço estava previsto para ser concluído até às 20h. Antes da remoção da estrutura, a Transforça recebeu um adiantamento de R$ 3 mil.

De acordo com representantes da empresa de aluguel de guindastes, o responsável pelo contato e pelo pagamento do valor foi um homem que se dizia funcionário de uma outra firma, a construtora Direcional, que é contratada pela prefeitura para fazer a manutenção do conjunto. Por isso, não desconfiaram que se tratava de um furto.

O homem que está por trás da retirada dos reservatórios, entretanto, não faz parte dos quadros da Direcional, conforme contou um representante da empresa, que também compareceu à delegacia nesta tarde. Segundo o depoimento do funcionário, a construtora fez a troca de oito reservatórios do condomínio, que já estavam gastos, ao longo do ano de 2018. No entanto, desde então, a firma não realizou mais serviços no conjunto e nega ter contratado a Transforça para o serviço.

O homem que fez o contato com a empresa de guindastes já foi identificado. Após prestarem depoimentos, funcionários da Transforça e da Direcional foram liberados.

Dois homens que trabalhavam com maçaricos para soltar a parte superior de um dos reservatórios fugiram após serem flagrados pela câmera. Logo após serem filmados, eles afirmaram para os operadores dos guindastes que estavam na hora do almoço e que tinham que parar a obra. Quando a PM chegou ao local, os operários já haviam fugido.

Agentes da 25ª DP que investigam o caso suspeitam que esses homens saibam qual seria o destino das caixas d'água. O inquérito aberto na distrital vai investigar o crime de tentativa de estelionato. O reservatório que estava sendo levado era novo, havia sido instalado há menos de um ano no condomínio. Funcionários estimam que a construção de uma caixa d'água com 30 metros de altura, como são as do condomínio, tenha um custo mínimo de R$ 200 mil. No mercado da construção ilegal, a estrutura é vendida por um quarto do valor. Os policiais ainda querem saber como o material seria transportado dali e para onde seria levado.

O Bairro Carioca foi inaugurado em 2012. Menos de dois anos depois, foi dominado por traficantes de drogas das favelas do Jacarezinho e de Manguinhos, vizinhas ao conjunto. Já foram registradas pela polícia expulsões de moradores do local e até o uso de apartamentos como depósito de cargas roubadas. Após a retirada da parte superior da caixa d'água, moradores de dez prédios de um dos blocos do condomínio ficaram sem água.

Em nota, a construtora Direcional alega que "os envolvidos na tentativa de furto da caixa d’água não tem nenhuma ligação com a empresa". No texto, a empresa também informa que "não contratou quaisquer dos guindastes para assistência técnica no condomínio e que está colaborando com a policia na investigação dos fatos".