Em depoimento, PM afirmou que pistola usada no crime é herança do pai. Ele matou o bioquímico Julio Cerveira em uma sala de cinema em Dourados (MS) após uma briga por conta das poltronas que ocupavam. Defesa diz que se pronunciará por nota.

PM que matou homem em cinema com pistola sem registro disse que
Homem foi morto a tiros dentro de sala de cinema que exibia filme infantil em Dourados / Foto: Diogo Nolasco/TV Morena

O policial militar Dijavan Batista dos Santos, de 37 anos, quematou com um tiro o bioquímico Julio Cesar Cerveira Filho dentro de uma sala de cinema em um shopping de Dourados (MS) no último dia 9, usava uma arma não registrada no momento do crime. De acordo com o depoimento do suspeito, ao ser questionado sobre o porquê de portar uma pistola .40 sem registro, o PM alegou que "usava-a de vez em quando".

"Ele alega que [a pistola] era de seu pai, da reserva do Corpo de Bombeiros, que faleceu há 2 anos e ele ficou com a arma. Em razão da arma ser leve, portátil, usava-a de vez em quando, já que a arma disponibilizada pela PM [uma Imbel MD7] é extremamente pesada", diz o depoimento tomado pelo delegado Rodolfo Daltro.

No depoimento o policial não mencionou por qual razão estava armado com uma pistola particular dentro do cinema em um shopping à tarde, acompanhado pelos filhos. A sala exibia o filme "Homem-Aranha: Longe de casa" e segundo a polícia, cerca de 170 pessoas presenciaram o crime, entre elas, muitas crianças.
De acordo com o relato do PM, logo após o crime ele teria chamado o Corpo de Bombeiros e pedido que seus filhos, um de 14 e um de 10 anos de idade, fossem para o carro. Um deles, segundo o depoimento, deveria sentar-se na poltrona ocupada por Julio, razão da desavença que terminou com a morte do bioquímico:

"Ele [o PM] relata ter comprado as poltronas 9, 10 e 11 da fileira 7. Ao chegar no assento número 11, onde seu filho de 14 anos deveria sentar-se, a poltrona estava ocupada por um homem a quem ele teria pedido para trocar de lugar porque seu filho sentaria ali. O homem então teria chamado-o de 'babaca' e 'ridículo'", diz o documento. Ainda em depoimento, Dijavan relatou que "uma moça" estava ao lado da vítima. Trata-se da filha de Julio, de 16 anos, que presenciou toda a cena.

O advogado da família, Pedro Teixeira Filho, afirmou ao G1 que a família não irá se manifestar porque a jovem ainda não foi ouvida pela polícia. A filha e a esposa de Júlio estão profundamente abaladas.
 
Câmeras de segurança do cinema registraram a briga. As imagens mostram o desentendimento entre o policial e a vítima até o momento em que se dirigem à porta do cinema, onde entraram em luta corporal seguida pelo disparo, mas não havia câmeras neste ponto do cinema. O advogado de defesa de Dijavan, Leonardo Arosio, disse ao G1 que deve pronunciar-se sobre o assunto através de nota.

Dijavan teve a prisão convertida em preventiva nesta quarta-feira (10). De acordo com o juiz da 3° Vara Criminal de Dourados que determinou a conversão da prisão temporária em preventiva, a Justiça levou em consideração a aparente motivação fútil e a atitude do policial:

"Tudo isso estaria a indicar a periculosidade social do autuado, policial militar, cujo comportamento esperado é de equilíbrio e discernimento quanto à necessidade de se efetuar disparo de arma de fogo dentro de um local com grande aglomeração de pessoas, com possibilidades de saída restritas", diz a decisão.

Dijavan aguarda exame de corpo de delito. Ele deve ser transferido para o presídio militar de Campo Grande, mas ainda não há uma data prevista. O delegado responsável pelo caso, Francis Flávio, afirmou que apresentará informações sobre o caso apenas ao final das investigações.

Entenda o caso
 
O bioquímico Julio Cesar Ceveira Filho de 43 anos, foi morto dentro da sala 1 do Cine Araújo que fica no shopping Avenida Center em Dourados. Ele foi atingido com um tiro na região do tórax que transfixou o pescoço. De acordo com a polícia, a briga que terminou com a morte de Julio começou por conta das poltronas que ocupavam.

O suspeito foi preso em flagrante por policiais militares e levado até o batalhão da Polícia Militar Ambiental, onde é lotado, que fica próximo ao shopping, e posteriormente levado até a Polícia Civil. Dijavan foi autuado por homicídio e porte de arma de fogo. A polícia ouve testemunhas.

O corpo de Julio foi enterrado neste dia 10. A filha de 16 anos de Julio acompanhava-o na sessão e presenciou toda a cena. A família da vítima não conversou com a imprensa.